A grega Eva Kalil perdeu seu mandato após comprovação de receptação de propina (Reprodução)

A ex-vice-presidente do Parlamento Europeu, Eva Kaili, é uma das quatro personalidades detidas e acusadas pelos promotores belgas de “participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção”.

Subornada pelo governo do Catar para influenciar as decisões relativas à realização da Copa do Mundo de futebol no país, atestava condições humanas jamais existentes na monarquia, chamada por ela de “líder nos direitos trabalhistas”.

O pai dea eurodeputada foi preso com 600 mil euros (R$ 3,34 milhões) em “malas de dinheiro” do Catargate – como vem sendo descrito o escândalo – enquanto Kaili foi destituída do cargo por 625 votos a um e expulsa do grupo europeu Socialistas e Democratas (S&D) e do Partido Socialista Grego (Pasok-Kinal), que representava. Suas declarações anuais de patrimônio comprovam que os depósitos bancários mais do que duplicaram em dois anos.

Os vínculos entre Kaili e o Catar ficaram gravados em longos e vergonhosos discursos em que elogiava as benevolências do Estado do Golfo Pérsico, em seus votos sempre favoráveis a pendências relativas ao país árabe, estampando sorridente presença em inúmeros eventos, conforme o solicitado pelos financiadores. Os abusos foram tantos que a justiça grega congelou seus bens, os de seu parceiro, seu pai e sua irmã.

Embora condenada por várias organizações internacionais, que alertaram para a morte de 6,7 mil de operários imigrantes por falta de segurança e exposição ao clima extremamente quente, de até 50º, e ao grande número de acidentes de trabalho durante a construção dos estádios, a Missão do Catar na União Europeia chamou as denúncias de “infundadas e gravemente desinformadas”.

“COMPRA DE INFLUÊNCIA”

“Você pode comprar um vice-presidente do Parlamento Europeu por 600 mil euros! Eles são realmente tão baratos assim?”, questionou Jacob Kirkegaard, do German Marshall Fund, admitindo que “quando há uma formulação de políticas altamente complexa e consolidada como na UE, ela se torna pouco transparente e, então, fica mais fácil comprar influência”.

Na avaliação de Kirkegaard, “esta Eva Kaili é claramente uma mulher que não tinha medo de ser apanhada”. “Isso indica que quaisquer medidas e processos do Parlamento Europeu não têm efeito de dissuasão. Mesmo pessoas estúpidas, se tivessem medo, não fariam o mesmo”, acrescentou.

A própria União Europeia admite haver formas de “influenciar” nas votações de acordo com a sua conveniência, mas que para isso possui um banco de dados no qual ONGs, grupos de lobistas, consultores e outras organizações devem se registrar. Todos devem ser listados no Registro de Transparência e precisam declarar seus orçamentos e doações acima de 10 mil euros. Casualmente, a ONG Fighting Impunity, que ocupa o centro do atual escândalo, não está registrada.

Além de Kaili, também estão detidos o ex-eurodeputado italiano Pier-Antonio Panzeri, atual presidente da ONG Fight Impunity, que alegava promover “responsabilização como um pilar central da arquitetura da justiça internacional” e Francesco Giorgi, parceiro de Kaili, conselheiro de assuntos do Oriente Médio e Norte da África no Parlamento Europeu e ex-assistente de Panzeri.

O quarto implicado é Niccolò Figà-Talamanca, diretor-geral da ONG No Peace Without Justice (“Não há paz sem justiça”), que dizia promover os direitos humanos, democracia e justiça no Oriente Médio e no Norte da África. A mulher e a filha de Panzeri, segundo a imprensa italiana, também encontram-se presas.

Papiro

(BL)