Corpos de vítimas da Covid em hospital do Brooklin, NY (John Minchillo/AFP)

Um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA mostra que a expectativa de vida média das pessoas no país diminuiu mais de sete meses somente em 2021. As principais causas foram a pandemia de Covid-19 e overdose de opióides.

2020, também apresentou queda na expectativa de vida: mais mais de um ano.

Em entrevista à inglesa PSB TV, o Dr. Steven Woolf, diretor emérito do Centro de Sociedade e Saúde da Virginia Commonwealth University, afirmou que o novo relatório mostra que negros, hispânicos americanos e os chamados nativos americanos, os indígenas estadunidenses, correram um risco muito maior e sofreram com uma queda acentuada na expectativa de vida em 2020, muito maiores do que na população branca.

Segundo o professor, em 2021 “a taxa de mortalidade seguiu muito maior entre as pessoas de cor. Quanto às idades afetadas, já sabíamos desde a década anterior a esta pandemia que temos um problema neste país de aumento das taxas de mortalidade da população em idade ativa. São pessoas de 25 a 64 anos”, disse Woolf.

“Esses grupos não estão experimentando taxas de mortalidade crescentes em outros países. São apenas os Estados Unidos que estão tendo esse problema. Portanto, quando a pandemia estourou, não fiquei totalmente surpreso com o aumento desproporcional das taxas de mortalidade naquele grupo jovem e de meia-idade”, continuou.

Woolf pondera que, como os idosos estavam no grupo mais afetado por comorbidades, eram naturalmente os em maior risco. Assim, o aumento da mortalidade entre os idosos também foi, infelizmente, antecipado. “O que é preocupante neste novo relatório é que ele também relata um aumento nas taxas de mortalidade de crianças e adolescentes. Isso é algo que nunca vimos antes.”

Contudo, de acordo com a pesquisa, países com campanhas de vacinação altamente bem-sucedidas e disposição pública de adotar outras medidas preventivas geralmente se saem melhor. Apesar de desenvolver diferentes vacinas importantes contra a COVID-19, como a da Pfizer utilizada aqui no Brasil, e garantir um suprimento abundante delas, os Estados Unidos estão no último lugar entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, entidade que reúne EUA e países europeus) em relação à parcela de pessoas totalmente vacinadas contra a doença. O negacionismo trumpista, impulsionado pela polarização política e pela desinformação, têm sido um desafio particular para as campanhas de vacinação nos EUA.

Para Woolf, com o aumento do estresse durante o período de pandemia os indivíduos que lutam com transtornos de dependência de álcool e outras drogas estavam mais vulneráveis a essas condições e tinham acesso reduzido ao abuso de substâncias e serviços de aconselhamento para lidar com esses problemas. “Então, infelizmente, vimos um aumento preocupante nas mortes por álcool e drogas, mas também nosso sistema de saúde foi interrompido em geral. E assim as pessoas com doenças crônicas tiveram acesso mais limitado à atenção primária e serviços especializados. E vimos aumentos nas taxas de mortalidade por doenças cardíacas, diabetes e outras doenças crônicas ”, explicou.

Segundo o relatório, desde 2015, a expectativa de vida nos Estados Unidos tem caído, em grande parte impulsionado pela epidemia de opioides e depois pela pandemia de COVID-19. Os últimos dois anos marcaram a maior queda em um século, com a expectativa de vida caindo para 76,1 anos para os americanos nascidos em 2021. A média em 2019 era de 79 anos, uma enorme diferença, considerando que os especialistas em saúde normalmente medem as mudanças na expectativa de vida em meses, não em anos.

Steven lembra que a saúde das pessoas é realmente moldada por suas condições de vida, empregos, salários, acúmulo de riqueza, acesso à formação para que possa conseguir esses empregos, etc. “E estamos lutando nessas áreas. E é por causa dessa luta que estamos vendo nossa saúde sofrer como resultado”, disse.

DESIGUALDADE COMO CAUSA

O especialista defende que é necessário combater o elevado índice de desigualdade nos EUA para que a qualidade de vida, por consequência a expectativa de vida da população, volte a subir. “Se isso tivesse acontecido apenas durante a pandemia, poderíamos culpar um vírus. Mas o fato de isso acontecer há tantos anos nos diz que nós, como sociedade, temos que tomar uma decisão. Temos que mudar nossas prioridades se quisermos ser mais saudáveis e queremos que nossos filhos não morram prematuramente”.

“EUA é o país mais rico do mundo, mas temos o maior nível de desigualdade de renda. Então, muitos dos recursos que precisamos para uma população saudável não estão disponíveis para a maioria da população”, disse.

Papiro

(BL)