Beto Carrero foi um dos casos | Divulgação

A Justiça Eleitoral investigou pelo menos 2.364 empresas por irregularidades durante a campanha eleitoral e o período que sucedeu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas, em segundo turno, dia 30 de outubro.

Entre os motivos mapeados destacam-se o assédio cometido por patrões em relação aos seus funcionários, a propaganda em favor de candidato por parte de pessoas jurídicas e o financiamento de bloqueios e atos antidemocráticos que se alastraram pelo país com a derrota do ainda presidente Jair Bolsonaro (PL).

O caso de maior repercussão foi o referente ao parque temático Beto Carrero World, localizado em Santa Catarina. Às vésperas do segundo turno, a empresa anunciou promoção de 25% para quem vestisse verde e amarelo até o dia 31 de outubro, dia seguinte ao segundo turno, numa alusão à campanha bolsonarista.

Apesar de ter sido chamada de “Esquenta para a Copa”, por terminar depois da eleição, a iniciativa foi associada à campanha do presidente Bolsonaro. O Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina recebeu mais de 150 denúncias envolvendo a empresa de Beto Carrero, que se retratou publicamente e foi proibido pela Justiça Eleitoral de fazer propaganda política.

Essas ações estavam ancoradas na expectativa da reeleição do atual presidente, com objetivo de ampliar e aprofundar mudanças nas relações de trabalho, com retirada de direitos dos trabalhadores.

Outro caso que ganhou repercussão foi o do Frigorífero Goiás que, no dia do primeiro turno, em 2 de outubro, anunciou o quilo de picanha a R$ 22. O nome da promoção foi “Picanha do Mito”, em alusão ao apelido dado por apoiadores a Jair Bolsonaro.

O número de campanha de Bolsonaro e do PL (22) ainda era o mesmo do valor da promoção. A ação do frigorífero gerou confusão e uma mulher morreu pisoteada. Além disso, a empresa foi multada pelo Procon estadual em valores que variaram de R$ 754 a R$ 11,3 milhões, por venda de carne estragada.

“Nos casos em que as empresas usam o número de urna do candidato, a propaganda é bem mais óbvia. O que é ainda mais passível da ação por parte da Justiça Eleitoral”, explicou o advogado eleitoral Luiz Paulo Castro.

Essa não foi a primeira vez em que o frigorífico se envolveu em polêmica. Em maio deste ano, a empresa havia feito propaganda irregular em helicóptero adesivado nas cores verde e amarelo e com os dizeres “Bolsonaro presidente”. A multa aplicada foi no valor de R$ 20 mil.

A eleição deste ano foi marcada pelo crescimento de casos envolvendo assédio eleitoral. Em todo o período de campanha, o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu pelo menos 3.200 denúncias, o que fez com que o pleito de 2022 batesse recorde e somasse 2.305 empresas investigadas.

De acordo com o órgão, foram propostas 74 ACP (ações civis públicas) contra essas ações.

A comparação entre os números da eleição deste ano com os de 2018 dão a dimensão do problema. O número de denúncias nessas eleições é 15 vezes maior do que o registrado no pleito passado, quando foram feitas 212 denúncias, contra 98 empresas na eleição anterior que foram recebidas pelo Ministério Público do Trabalho.

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(BL)