Internacional, Destaques – App PCdoB, Artigos Parceiros,

O cineasta norte-americano Oliver Stone declarou que o conflito na Ucrânia foi causado por ações deliberadas de Washington que levaram Kiev a perder a sua estatura de neutralidade em relação à Rússia.

“Quem causou isso? O que está acontecendo lá no Donbass desde 2014 e quantas pessoas saíram de lá porque os Estados Unidos estavam armando fortemente o exército ucraniano? Desde aquele momento a Ucrânia não era mais neutra, estava contra os russos e é isso que transtornou o equilíbrio do equipamento militar e é daí que vem a guerra. Como tudo, toda guerra tem causa e efeito, mas nem ligam para isso”, afirmou o cineasta vencedor de três prêmios Oscar e profundo crítico da política externa dos EUA, em entrevista ao jornal sérvio Politika.

“Não quero entrar mais detalhadamente na história do que está acontecendo na Ucrânia, porque o caso não é simples e todo mundo está gritando: ‘Os russos estão atacando’”, disse, questionando sobre quem foi realmente o responsável por tal cenário e mostrando que é necessário a abertura à discussão nesta importante questão.

Stone é autor do documentário de uma hora e meia, “Ucrânia em chamas”, lançado em 2016 no Brasil, que apresenta, com seriedade, a revolução colorida que ocorrera na Praça Maidan, em Kiev, ocorrida dois anos antes e sob interferência escancarada da Casa Branca.

“Os Estados Unidos são especialistas em condenar qualquer país do mundo quando acham que cruza a linha da ordem internacional, o que eles chamam de regras. Mas, são os EUA que quebram todas as regras quando quer e você sabe disso”, prosseguiu Stone.

“Eles me perguntam sobre o caso [Jamal] Khashoggi* e foi cruel, mas acho que um dos piores casos é o caso [Julian] Assange e seu, assim podemos afirmar, ‘assassinato’. Todos consideram que Assange deveria ser libertado, e os EUA persistem em sua vingança. Então, quem é Washington para apontar o dedo para alguém? Quer dizer aos russos o que fazer. Quero dizer, isso é engraçado considerando o que já fez os EUA”, apontou.

A ÚNICA ESPERANÇA PARA EUA

Questionado sobre a atual administração dos EUA, Stone assinalou que se arrependeu de ter votado em Joe Biden. “Errei em votar nesse homem. Eu realmente pensei que ele estava envelhecendo e seria mais maduro e menos beligerante, porque seu currículo é terrivelmente beligerante. Obama cometeu um grande erro ao escolhê-lo, teve tanto medo de ofender o establishment que acabou escolhendo o melhor do establishment. O avô revelou-se muito perigoso e agora grita: ‘Vamos matar os russos, agora é a nossa chance’. Ele confunde a Rússia com Putin e pensa que se ele se livrar de Putin, ele controlará a Rússia como na época de Yeltsin. E isso é apenas um sonho”, constatou.

Neste contexto, o cineasta acredita que a única “esperança” para os EUA seria “a ascensão de um terceiro partido”, uma vez que tanto os republicanos como os democratas “trabalham e funcionam da mesma forma e investem o mesmo dinheiro na indústria militar”.

Oliver Stone é autor do clássico “Platoon”, sobre a Guerra do Vietnã, de “JFK – a pergunta que não quer calar”, onde ele esmiúça os eventos que levaram ao assassinato do presidente John Kennedy, de “Snowden, heroi ou traidor”, de “Wall Street” e do documentário “As entrevistas com Putin”, o seu longo encontro com o presidente Vladimir Putin, em Moscou e nos arredores da cidade, resultado de dois anos de viagens ao Kremlin.

* Kashoggi foi um jornalista saudita, radicado nos Estados Unidos e colunista do The Washington Post, crítico da monarquia de Ryad desaparecido após entrar no consulado do país em Istambul.

Papiro

(BL)