Enfermeiras em campanha por "salário justo" (Yahoo)

Enfermeiros entram em greve no Reino Unido pela primeira vez, em termos do conjunto da categoria, nesta quinta-feira (15), por recomposição salarial e melhores condições de trabalho. De acordo com o Royal College of Nursing (RCN), sindicato da categoria, é esperada a adesão de cerca de 100 mil enfermeiros que farão passeatas atravessando a Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. No próximo dia 20, está marcado um segundo dia de paralisações.

A categoria se junta a milhares de outros trabalhadores britânicos que denunciam a queda do poder de compra diante da inflação, que teve a maior alta dos últimos 41 anos ao bater em 11,1% em outubro, de acordo com a CNN.

“Estamos fazendo campanha por um aumento salarial de 5% acima da inflação medida em RPI [equivalente ao nosso IPCA] para superar os cortes salariais em termos reais que deixaram os enfermeiros experientes em condições 20% piores desde 2010”, diz o RCN.

A secretária geral do RCN, Pat Cullen, afirmou em carta enviada ao secretário de Saúde britânico, Steve Barclay, que dados publicados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o Reino Unido está muito atrás de países europeus comparáveis, em termos de população e tamanho da economia, como Alemanha, Espanha e Holanda no que tange ao poder aquisitivo da categoria.

Em relação ao custo de vida em diferentes países, os enfermeiros do Reino Unido recebem salários mais baixos em termos de paridade de poder de compra. A secretária geral do RCN argumenta que “enquanto em muitos outros países da Europa os rendimentos dos enfermeiros acompanharam a inflação na última década, isso não ocorreu no Reino Unido.

O relatório da OCDE confirma que, em muitos países da Europa, o salário dos enfermeiros aumentou em termos reais desde 2010, mas caiu no Reino Unido”.

“Com os fatos expostos pela OCDE, agora você pode sentir de forma mais clara por quê os membros do RCN votaram tão decisivamente pela greve e por que a ação corretiva por parte dos governos deve ser tão significativa quanto urgente, ” continuou.

O RCN denuncia que a desvalorização da categoria, que cumpriu um papel essencial durante o período de pandemia, tem afastado as pessoas da enfermagem “pelo tratamento pobre e injusto que a profissão recebe, muitas vezes, nas mãos de políticos”.

Recorrendo aos números da UCAS, espécie de SISU britânico, publicados no último dia 8, o sindicato mostra que há uma queda de 10% no número de alunos aceitos em cursos de enfermagem no Reino Unido. Em 2022 foram aceitos 29.440 candidatos em cursos de enfermagem, já em 2021 esse número foi de 32.705. “O número de pessoas que se inscreveram para estudar enfermagem também diminuiu de 59.860 em 2021 para 56.155 em 2022”, diz o RCN.

A secretária geral do RCN, Pat Cullen, afirma que essa tendência de queda não é um bom presságio para a profissão de enfermagem ou para a segurança dos pacientes. “Com listas de espera recordes, precisamos que o fluxo de futuros enfermeiros se expanda, não contraia. Os funcionários de amanhã precisam saber que a carreira de enfermagem não deve implicar um sacrifício financeiro pessoal. Uma vida inteira de serviço não deve significar uma vida inteira de pobreza”, disse em carta enviada a Steve Barclay.

“Estudantes de enfermagem no ensino superior devem ter acesso a apoio financeiro adequado para mensalidades e custo de vida – e remuneração justa pelo trabalho que realizam. Até que isso aconteça, é provável que esse declínio no interesse pela profissão continue.”

De acordo com o sindicato, só no ano passado, outros 25.000 profissionais deixaram o registro do Conselho de Enfermagem e Obstetrícia (NMC). “A escassez crônica de pessoal está afetando o atendimento ao paciente. […] Somente pagando a equipe de enfermagem de maneira justa, recrutaremos e manteremos pessoas em nossa profissão”, argumenta.

Com um modelo de saúde pública reconhecido pela eficiência e padrão de atendimento, o National Health Services (NHS) vem sofrendo com um processo sucessivo de privatização desde a era Tatcher, e tem sido minado ainda mais com o subfinanciamento. De acordo com dados do Nuffield Trust, quando consideranda a inflação e as mudanças demográficas, os investimentos em saúde na Inglaterra aumentaram apenas 0,4% ao ano desde 2010.

A enfermagem é a maior categoria do país, com 360 mil enfermeiros que trabalham para o NHS, que tem sofrido, argumenta o RCN. Desde 2010, o governo de coalizão liderado pelos conservadores embarcou em uma década de arrocho. Entre 2010 e 2017, os salários da categoria acumularam perdas de 1,7% por ano segundo a The Health Foundation, instituição de caridade do Reino Unido que faz campanha por melhores condições de saúde e assistência médica. Nos três primeiros anos, o salário foi congelado. Já o Nuffield Trust estima que o salário de uma enfermeira típica caiu na última década quase 6% devido à inflação.

A categoria tenta abrir diálogo sobre a situação da categoria e afirma que os pacientes e trabalhadores que “estão pagando o preço” . “Os planos de greve na Escócia foram interrompidos depois que o governo escocês voltou à mesa de negociações para evitar greves. Como deixei claro em várias ocasiões, você tem a opção de evitar greve abrindo negociações formais sobre o atual prêmio salarial”, diz Pat na carta enviada ao secretário Barclay.

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(BL)