Raul Monte Domecq é economista e assessor das centrais sindicais paraguaias (Ñanduti)

Marcadas para o próximo dia 30 de abril, as eleições presidenciais e parlamentares do Paraguai estão polarizando os que querem a manutenção do atual modelo primário agroexportador e os que o identificam como “uma camisa de força neoliberal, a ser rompida, se quisermos nos desenvolver”.

Para o renomado economista Raul Monte Domecq, assessor das centrais sindicais paraguaias, não há nenhuma dúvida sobre o caminho a ser trilhado. “É necessário combater o modelo primário agroexportador, a enorme informalidade, a evasão fiscal e a realização de uma reforma tributária que contemple as necessidades do país para seguir em frente”, frisou. Segundo ele, não há como negar que a perpetuação da lógica que manteve o país paralisado, sem investimentos públicos, “só agravou a concentração da renda e perpetuou a pobreza”.

“A Agenda 2030 – Olhares da Sociedade Civil sobre as metas do Desenvolvimento Sustentável, estudo realizado pela Associação de Organizações Não-governamentais (ONGs) do Paraguai (Pojoaju)”, ressaltou Raul, torna evidente “a necessidade de popularizar o debate sobre a construção de um novo modelo, que seja inclusivo”. Neste quadro, a realização das eleições presidenciais e parlamentares em 30 de abril de 2023 “será uma excelente oportunidade” para levar as propostas a todos, elevando o confronto político-ideológico, embaralhado por setores da mídia em favor dos interesses dos grandes anunciantes.

Defensor das candidaturas do ex-chanceler Euclides Acevedo, do Movimento Nova República, e do senador Jorge Querey, da Frente Guasú, à presidência e à vice-presidência, a pesquisa feita com profundidade, assinalou “a necessidade de romper com o modelo neoliberal vigente, que só perpetua a dependência e enriquece uma pequena oligarquia”.

No Paraguai, exemplificou, a dependência da economia da agroexportação de carnes e grãos – fundamentalmente soja (81%), milho (7%) e trigo (6%) – chega a tal extremo que a fome passa a ser uma verdade no campo e na cidade.

Economista com formação em sociologia, membro da Pojoaju, ex-diretor geral da Unidade de Departamentos e Municípios do Ministério da Fazenda do Paraguai e ex-diretor de Planificação Econômica de Assunção, Raul acredita que chegou a hora de virar a página.

Em 2020, 279.609 homens, mulheres, crianças e idosos – 3,9% dos 7.153.948 habitantes do país – viviam abaixo até mesmo dos limites da extrema pobreza, “pessoas que sobreviviam em domicílios cuja renda per capita era inferior ao custo de uma cesta básica”, denunciou.

Os estudos produzidos pelas ONGs associadas e vinculadas à Pojoaju apontaram que três em cada 10 paraguaios se encontravam em situação de pobreza total (26,9%), um aumento em relação aos 23,5% registrados em 2019. “Isso significa que 264.590 pessoas entraram em situação de pobreza em 2020. Por sua vez, a incidência foi maior no setor urbano, com registro de 247.454 pessoas, enquanto no rural foi de 17.136 pessoas”, lamentou.

Papiro

(BL)