Ataques a manifestações aumentam número de mortos no Peru
Neste sábado (17), enquanto a presidenta Dina Boluarte dizia estar apelando “à paz”, todo o aparato policial e militar peruano se lançava a invadir organizações sindicais e partidárias, prender lideranças e assassinar manifestantes que levantavam a voz contra os desmandos do governo recém-empossado com o afastamento de Pedro Castillo pelo Congresso fujimorista.
A Assembleia Nacional dos Povos (ANP) alertou que “a política repressiva que só provoca mais derramamento de sangue é um descaminho” e exigiu “a renúncia da presidenta Dina e da mesa diretora do Congresso por sua responsabilidade com estes fatos, bem como o imediato levantamento do toque de recolher e do Estado de Emergência”. De acordo com a ANP, já são 21 os manifestantes mortos.
Segundo as entidades peruanas com as quais contatamos, o que se tenta é impedir a antecipação das eleições gerais para o próximo ano, bem como inviabilizar a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte que possibilite ao Peru a retomada das suas riquezas estratégicas, entregues criminosamente pelo ditador Alberto Fujimori (1990-2000) ao controle estrangeiro.
Uma coletiva de imprensa da Coordenadora Nacional de Direitos Humanos (CNDH), entidades populares e movimentos sociais denunciou os inúmeros atropelos e a intensa violência a que todos vêm sendo submetidos nos últimos dias para a manutenção desta lógica. “Não estamos dispostos a suportar um único morto a mais. É preciso que o governo acabe de vez com a militarização. Além dos mortos, temos 147 presos, pessoas que não só estão impedidas de usufruir do seu direito de defesa, como vêm sendo feridas e maltratadas”, condenou Jennie Dador, secretária da CNDH.
Dador defendeu a imediata retirada das tropas tanto das ruas como das entidades e partidos, “porque não será com um discurso contra os que estão protestando que se encontrará uma saída para a crise política em curso”.
Só em Huamanga foram mortas sete pessoas nos protestos, sendo que em Ayacucho foram registrados pelo menos 52 feridos. Surpreendido com o levante popular, o governo decretou um toque recolher em 15 províncias.
A advogada Gloria Cano relatou que atestou como em Ayacucho, Andahuyalas e Chincheros as pessoas protestavam com um cartaz na mão e recebiam um tiro como resposta. “Isso é assassinato a sangue frio”, condenou.
O presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), Luis Villanueva responsabilizou o governo e o Congresso por fomentarem o conflito ao não adiantar as eleições gerais para abril de 2023, como reivindica a população. “É mentira que não se possa realizar um processo eleitoral em menos de um ano. Sabemos que em momentos excepcionais as autoridades têm a responsabilidade de tomar medidas excepcionais”, sublinhou.
Conforme a CGTP, o ataque à sede da Confederação Camponesa do Peru (CCP) e às demais entidades, “é uma clara perseguição ao direito de protesto mediante uma repressão criminosa”.
Papiro
(BL)