Vereadora de Criciúma (SC) sofre pedido de cassação por criticar saudação nazista
Foi protocolado na Câmara de Vereadores de Criciúma (SC) nesta segunda-feira (7), um pedido de cassação do mandato da vereadora Giovana Mondardo (PCdoB), por suposta quebra de decoro parlamentar. O documento afirma que a parlamentar teria acusado catarinenses de “nazistas”.
O caso aconteceu no último dia 2 de novembro, quando Giovana republicou em suas redes sociais um vídeo onde manifestantes aparecem cantando o Hino Nacional com os braços esticados. O fato, registrado em São Miguel D’Oeste (SC), ganhou repercussão internacional, depois que viralizou na internet como uma saudação do nazismo. Embaixadas da Alemanha e de Israel, assim como entidades judaicas se manifestaram em repúdio.
Na publicação, Giovana escreveu na legenda do vídeo. “Em São Miguel do Oeste, Santa Catarina, saudação nazista. O que dizem? Isso é manifestação? Isso é direito constitucional?”, questionou ela, após ampla repercussão do vídeo.
Na ocasião, outra vereadora, Maria Tereza Capra, presidente do PT em São Miguel D’Oeste, sofreu moção de repúdio na Câmara, pelo mesmo motivo, assim como o vice-presidente da OAB, o catarinense Rafael Horn, que também sofre ataques.
Defesa da democracia
Em entrevista ao PCdoB, Giovana se mostrou otimista em relação ao processo, por estar amparada na constitucionalidade e contar com apoios políticos e sociais. “Luto e sempre lutarei pela permanência do estado democrático de direito e contra todo e qualquer ato de despreze a democracia. Não tem como cassar um vereador por conta disso. Consciência tranquila”, enfatizou.
Embora a vereadora tenha sido uma das candidatas a deputada federal mais votadas no estado, com 38.862 votos, a pressão contra ela na cidade tem sido forte, com ameaças de atentado contra sua casa. Ela é a única vereadora de oposição na cidade.
As manifestações contra a eleição do presidente Lula continuam em frente ao Exército local, há sete dias, assim como havia bloqueios nas estradas, até ontem. Ela conta também que vários comerciantes conhecidos por terem votado em Lula estão há duas semanas sem receber clientes ou vender nada, devido a uma lista de boicote disseminada pelos bolsonaristas. Giovana é cirurgiã dentista.
Agilidade do Ministério Público
De acordo com os parlamentares municipais, as referidas acusações de apologia ao nazismo, contidas no vídeo, foram levadas ao conhecimento da “autoridade competente”, que se manifestou descartando a veracidade das acusações. A afirmação diz respeito ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), que publicou uma nota, no mesmo dia, afirmando que “ não identificou intenção de apologia ao nazismo pelos manifestantes no extremo oeste catarinense”.
Giovana diz que o posicionamento do MP foi de uma agilidade recorde, baseada apenas em um áudio do organizador da manifestação. O líder do evento, Itamar Schons, disse que pegou o microfone para tentar animar o grupo de bolsonaristas. “Era para erguer a mão em direção ao Exército como se estivesse pedindo ajuda”, diz trecho do áudio. Ele ainda afirmou que a iniciativa buscava apenas passar uma “energia positiva” ao público.
A própria cúpula do MPSC desautorizou o posicionamento, porque já na quinta-feira designou um promotor para apurar o que ocorreu. Giovana também diz que vários questionamentos formais têm sido levantados sobre a resposta do MP. Ela acredita que nem todas as pessoas tivessem plena noção do que estavam fazendo, mas que o gesto é conhecido no mundo como parte da estética nazista. Em vez de criticar a manifestação do grupo, autoridades estão querendo punir quem denuncia e estimula o gesto equivalente à saudação para Hitler.
A vereadora afirma que a acusam de “dar visibilidade negativa e ofensiva aos manifestantes dos atos públicos pós-eleição, aos munícipes de São Miguel do Oeste e ao próprio Estado de Santa Catarina”. Ela observou que assim como as imagens da saudação nazista viralizaram até fora do Brasil, ela denunciou e pediu investigações sobre os indícios do crime no estado.
Células neonazistas
A vereadora Giovana lembrou que o procurador da República Augusto Aras alertou com preocupação o governador catarinense Jorginho Mello (PL) sobre o aumento de células neonazistas no estado. Cinco representantes desses grupos foram presos no final de outubro com munição, material nazista e evidências de ameaças a opositores.
A vereadora também relata que entre os quatro autores, dois são assessores parlamentar, e outros dois, aparentemente, líderes dos movimentos golpistas na cidade. A acusação contra ela é assinada por Alexsandro Chaves de Sousa (servidor público estadual), Aline Constantino Bonfante da Rosa (funcionária pública municipal), Marcos Ricardo dos Santos (empresário) e Jonas Marques Martignago (servidor público municipal).
(por Cezar Xavier)