Rhodes, miliciano que atacou o Capitólio, é condenado por “conspiração sediciosa”

O chefe da milícia de extrema-direita Oath Keepers, Stewart Rhodes, e o diretor desse grupo na Flórida, Kelly Meggs, foram condenados por ‘conspiração sediciosa’ no ataque ao Congresso norte-americano, o Capitólio, em 2021, na tentativa de impedir que o atual presidente, Joe Biden, assumisse o cargo após vencer as eleições de 2020.

A decisão foi tomada na terça-feira (29), após dois meses de julgamento e três dias de deliberações em tribunal federal em Washington.

No entanto, os 12 jurados deixaram de aprovar a acusação para outros três membros dos Oath Keepers – Kenneth Harrelson, Jessica Watkins e Thomas Caldwell –, limitando-se a considerar estes três culpados por obstrução de um processo oficial.

Ao ser derrotado nas eleições presidenciais de 2020, Trump incentivou milhares de fanáticos a marcharem sobre o Capitólio alegando inexistente fraude eleitoral. O ataque se deu no dia 6 de janeiro de 2021, incluindo milicianos armados na tentativa de impedir a certificação do resultado eleitoral favorável a Joe Biden. Entre os atos terroristas a turba carregou uma réplica de forca aos gritos de “Morte a Pence!”, uma vez que o vice na chapa de Trump acatara a decisão popular, admitindo a vitória de Biden.

Cerca de 870 arruaceiros foram detidos na época, e uma centena deles foram condenados a penas de prisão, porém, ninguém tinha sido condenado por conspiração sediciosa, ou seja, pela articulação do ataque, até agora.

Durante o julgamento, os promotores mostraram que Stewart Rhodes começou a reunir sua milícia já em novembro de 2020. “Não vamos sair disso sem uma guerra civil”, ameaçou – através de mensagens na rede – dois dias após a eleição presidencial.

Nas semanas seguintes, de acordo com os promotores, Rhodes gastou milhares de dólares em dispositivos de visão noturna, armas e munições, armazenando esse estoque em um hotel na periferia de Washington e, no dia do ataque ao Capitólio, munidos de capacetes e equipamentos de combate, os seus apoiadores entraram no edifício em formação militar. Rhodes permaneceu do lado de fora, mas segundo os procuradores, liderou as tropas com um rádio sentindo-se “como um general no campo de batalha”.

O militar da reserva de 57 anos, conhecido por utilizar um tapa olho e pelos discursos de incitação, negou ter “planejado” o ataque, dizendo que o seu grupo lá estava para garantir a segurança da manifestação convocada por Trump para denunciar a tal “fraude eleitoral”.

Rhodes fundou o Oath Keepers em 2009, reunindo ex-soldados e policiais, com o objetivo de lutar contra o Estado em nível federal que ele, sem entrar no mérito dos problemas concretos do país, considerava “opressivo”.

Como outros grupos de ultra-direita, a milícia foi atraída pela retórica de Trump e abraçou suas acusações de fraude eleitoral nunca comprovadas.

Os membros do grupo – em grande parte composto por elementos que serviram à agressão norte-americana a povos invadidos – apareceram, muitas vezes fortemente armados, em protestos e eventos políticos nos Estados Unidos, incluindo em manifestações contra o racismo no intuito de ameaçar os manifestantes.

“As condenações de hoje são uma vitória para o Estado de direito e reforçam o fato de que a violência de 6 de janeiro incluiu uma tentativa deliberada de anular os resultados das eleições de 2020 e bloquear a transferência do poder presidencial”, afirmaram o presidente do comitê da Câmara que investiga o ataque ao Capitólio, o democrata Bennie Thompson, e a vice-presidente, a republicana Liz Cheney, segundo a Agência Deutsche Welle (DW).

O ex-promotor federal e atual professor da Escola de Direito da Universidade George Washington, Randall D. Eliason, disse ao The Washington Post que “o veredicto do júri sobre conspiração sediciosa confirma que 6 de janeiro de 2021 não foi apenas ‘discurso político legítimo’ ou um protesto pacífico que saiu de controle. Este foi um ataque planejado, organizado e violento contra a autoridade legal do governo dos EUA e a transferência pacífica de poder.”

“Agora”, acrescentou, “a única questão que resta é até que ponto esses planos foram além e quem mais pode ser responsabilizado criminalmente.”

PAPIRO

(BL)