Deputada Victoria Donda está entre as que repudiaram o nazismo das palavras de Macri (A24)

O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri disse com todas as letras, em uma entrevista à TV argentina, que os alemães são “uma raça superior”. A declaração de Macri, que respondia a uma pergunta sobre as seleções que podem vencer a Copa do Mundo, gerou enorme indignação no país, com internautas denunciando que reproduz a tese de raça superior da Alemanha nazista.

Na entrevista ao canal TN, Macri, apontado pelo apresentador como “muito fã de futebol”, foi perguntando sobre seus favoritos para vencer o mundial do Catar.

“Entre os cinco candidatos que hoje podem ganhar, obviamente tem o Brasil, Portugal com jogadores muito bons, França também com jogadores muito bons e o último campeão e a Alemanha que nunca pode ser descartada porque é uma raça superior, sempre jogam até o final”, disse o ex-presidente.

Em suma, uma pergunta absolutamente banal sobre o mundial – mas Macri não se aguentou e revelou o que leva no íntimo.

Macri governou a Argentina de 2015 a 2019, submeteu o país ao FMI e aos fundos abutres, deixando uma terra arrasada que os desenvolvimentistas têm ralado para superar.

Ainda que as declarações de Macri não tenham chamado a atenção do entrevistador Joaquín Morales Solá, que acompanhou a conversa como se nada tivesse acontecido, elas desencadearam um onda de repúdio imediato nas redes sociais, assinalou o jornal argentino Página 12.

Jorge Elbaum, do Apelo Judaico Argentino, também se manifestou. “Quando digo que o macrismo é nazista, alguns me chamam de exagerado… Será que Macri sabe que a ‘raça superior’ assassinou dois milhões de crianças menores de dez anos? Que curioso… não é? O conceito de ‘raça’ ‘superior’ é o usado por Hitler …”, escreveu ele no Twitter.

A chefe do Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo (Inadi), Victoria Donda, condenou a declaração do ex-presidente e disse que “não podemos dar mais espaço a esse veneno chamado racismo”.

“‘Alemanha… raça superior’, disse o líder da oposição e ex-presidente Macri horas atrás, sentado em um estúdio de TV, relembrando um dos pilares centrais da Alemanha nazista”, postou Donda no Twitter.

Há vários anos, lembrou a chefe do Inadi, “a então chanceler alemã, Angela Merkel, apontou que ‘o racismo é um veneno. O ódio é um veneno. E esse veneno existe em nossa sociedade’”.

Diante disso, “a liderança deve contribuir para um clima de liberdade e democracia que fortaleça o sistema político. Não podemos dar mais espaço a esse veneno chamado racismo”, enfatizou Donda.

A deputada pela Cidade de Buenos Aires, Victoria Montenegro (FDT), disse à agência de notícias Télam que as palavras de Macri são “uma definição política que tenta instalar o negacionismo com toda a sua violência”.

“São declarações condenáveis”, disse a parlamentar, lembrando que “é doloroso ver como um setor da política argentina foi degenerado”.

Com esse tipo de afirmação “os limites estão sendo ultrapassados o tempo todo”, refletiu Montenegro, lembrando que o ex-presidente “fala de uma raça superior, conceito que acabou sendo desastroso para a história da humanidade e que levou ao genocídio”.

Após essa enxurrada de críticas, como registrou o Página 12, Macri acabou se desculpando, porém alegando que suas declarações “foram expressas no âmbito do futebol, como se isso minimizasse o conteúdo das suas expressões”.

“Ontem, falando da Copa do Mundo e obviamente referindo-me às indiscutíveis qualidades futebolísticas da Alemanha, tive uma frase infeliz que se refere aos piores pesadelos da humanidade, pelo que quero esclarecer e pedir desculpas”, disse Macri, tentando enrolar.

Quanto a esse remendo, a deputada nacional Romina del Plá (Frente de Esquerda) assinalou que o ex-presidente “não pode dizer” na sua defesa que “estava falando de uma equipe de futebol e nada mais porque havia milhares de outras formas de se referir à equipe alemã para destacar a sua preparação, se quisesse para falar sobre isso.”

Para ela, as declarações do líder do Juntos pela Mudança – a aliança de Macri mais lembrada pelo alcunha de “Together For Change” – têm a ver com o que se passa dentro do macrismo, com sua tentativa “cada vez mais acentuada de levar a pauta ao fascismo”.

Papiro

(BL)