Eleitores norte-americanos em fila para votar (vídeo)

Em meio à maior inflação em quatro décadas e à guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia, os norte-americanos vão às urnas na terça-feira (8) para as eleições de meio de mandato, que renovam toda a Câmara de deputados, um terço do Senado e 36 governadores, com as pesquisas apontando provável vitória republicana na Câmara e empate no Senado. 40 milhões de eleitores já votaram previamente, conforme permite o sistema norte-americano.

Para o economista norte-americano e consultor da ONU, Jeffrey Sachs, o que está “minando as perspectivas” do partido de Biden no Congresso é sua “política externa profundamente falha”.

“A Guerra da Ucrânia, combinada com as rupturas do governo nas relações econômicas com a China, está agravando a estagflação que provavelmente entregará uma ou ambas as casas do Congresso aos republicanos”, advertiu.

Ele observou que Biden “herdou uma economia assolada por profundas interrupções nas cadeias de suprimentos globais causadas pela pandemia e pelas políticas comerciais erráticas do ex-presidente Donald Trump”, mas “em vez de tentar acalmar as águas”, apelar para a diplomacia e reparar as perturbações, “Biden intensificou os conflitos dos EUA com a Rússia e a China”.

Sachs destacou “as sanções comerciais e financeiras lideradas pelos EUA contra a Rússia” e assinalou que com o “corte dos fluxos de energia russos, a Europa está em profunda crise econômica, com repercussões adversas para a economia dos EUA”.

A INFLAÇÃO E A ECONOMIA

De acordo com diferentes pesquisas, a maioria dos norte-americanos classifica a inflação e o declínio econômico como sua principal preocupação nessas eleições. Repetidamente, a Casa Branca, até ficar inteiramente desmoralizada sobre o assunto, asseverou aos norte-americanos que a inflação era “transitória”.

De acordo com o portal Zero Hedge, pelo menos 20 milhões de famílias – ou 1 em 6 lares norte-americanos está com as contas de luz e gás em atraso. E os preços estão em alta para tudo, de comida, a aluguéis e gasolina na bomba, o que, assinala, influenciará “como os americanos votam nesta terça”.

Para reduzir um pouco o preço do combustível, Biden liberou para venda mais de um terço da reserva estratégica norte-americana. Durante meses, houve falta de fórmula para alimentação de bebês.

Segundo a Bloomberg, os chamados estados-pêndulo (aqueles que oscilam entre votar republicano ou democrata) têm experimentado “uma alta dramática nas contas de energia e na inflação geral”, o que poderá se refletir conforme os norte-americanos “irão votar com carteiras vazias, com muitos mal conseguindo pagar as contas depois de queda real do salário, poupança em colapso e dívidas que se avolumam no cartão de crédito”.

No afã de sobreviver, muitas pessoas estão apelando para conseguir um “segundo emprego”, na verdade um bico para subsidiar o que o salário já não cobre. Cashe Lewis, 31, de Denver, Colorado, relatou ao jornal inglês The Guardian que trabalha seis dias por semana, às vezes mais de 16 horas por dia, apenas para pagar as contas. “Estou exausto o tempo todo… no único dia que tenho de folga na semana, doo plasma por um dinheiro extra. Estou literalmente vendendo meu sangue para comer porque não tenho escolha”, disse Lewis [Nos EUA, ainda é legal vender sangue!!!].

A elevação dos juros pelo Fed, a pretexto de “conter a inflação”, é outra fonte de desestabilização em um país encalacrado nos extremos da financeirização e derivativos, de que a “bolha de tudo” é sintoma.

70% dos eleitores dizem que o país está no caminho errado enquanto a aprovação do presidente Biden continua em território negativo. 55% dos eleitores registrados disseram que desaprovam o trabalho que Biden está fazendo como presidente, comparado com apenas 42% que aprovam, conforme a última pesquisa POLITICO-Morning Consult.

“Inflação, questões econômicas e crimes são [fatores] realmente importantes agora para os eleitores conservadores, para os republicanos. São temas fundamentais, que são objeto de discussão para seus candidatos”, afirmou à Deutsche Welle (DW) Laura Merrifield Wilson, professora adjunta de ciência política da Universidade de Indianápolis. “Para os democratas, o aborto toma a maior parte do ar e do oxigênio na sala.”

Nos últimos dias, com os republicanos já o ameaçando de buscarem o impeachment caso conquistem o Congresso, Biden passou a chamar a votar democrata para “proteger a democracia”. Para a CNN, o destino do Senado controlado pelos democratas está “no fio da navalha”.

CREDIBILIDADE EM BAIXA

A eleição se tornou “um referendo sobre a credibilidade em farrapos [de Biden] e seus baixos índices de aprovação”, registrou a DW. Os republicanos precisam apenas de um ganho líquido de cinco cadeiras para recuperar o controle da Câmara.

Nesse quadro, não é de estranhar que o Partido Democrata apele para a receita de Hillary Clinton quando perdeu a eleição em 2016, fabricando nova acusação contra a “mão de Moscou”.

A alegação de que a Rússia empregou “trolls e bots” para se intrometer nas eleições de meio de mandato dos EUA é apenas uma tentativa do Partido Democrata de explicar preventivamente sua provável derrota, disse o presidente da Duma russa, Vyacheslav Volodin.

No domingo, o New York Times (NYT), preventivamente, divulgou alegações de “pesquisadores de segurança cibernética” dos EUA de que o governo russo estava realizando “operações de informação para influenciar as eleições americanas”. Com o cabedal de ter sido a principal vitrine da mentira das ‘armas de destruição em massa de Saddam’ de W. Bush, pouco antes da invasão, o NYT asseverou “quão vulnerável” o sistema político americano permanece “à manipulação estrangeira” e reclamou que “os fornecedores de desinformação evoluíram e se adaptaram aos esforços das principais plataformas de mídia social para remover ou minimizar conteúdo falso ou enganoso”.

Papiro

(BL)