Além do metrô da capital, pararam os transportes de Nice e Estrasburgo. Saúde e Educação reduziram atividades (Thomas Samson/AFP)

Exigindo melhores salários para enfrentar a queda do poder aquisitivo devido à forte inflação e condições de trabalho dignas, as principais centrais sindicais francesas convocaram uma paralisação geral dos transportes, da educação, da saúde e dos correios em todo o país, nesta quinta-feira (10), com cinco linhas do metrô de Paris fechadas e muitas outras com o tráfego reduzido.

Os trabalhadores da empresa RATP, que administra os transportes públicos em Paris, pedem um aumento dos salários, assim como do número de trabalhadores. O fato do antigo primeiro-ministro francês, Jean Castex, ter assumido funções à frente dessa empresa pública não ajudou as negociações, denunciou a Confederação Geral do Trabalho (CGT). Cerca de 12 milhões de pessoas deslocam-se diariamente na região parisiense através dos transportes públicos e não recebem um mínimo de conforto, afirmam os sindicatos.

A CGT, uma das maiores centrais sindicais do país, reivindica a indexação dos salários à inflação, algo que acontecia na França até 1983, e que o salário mínimo aumente para 2.000 euros brutos.

Estas paralisações nos transportes públicos estenderam-se a Nice, Estrasburgo e outras cidades francesas, onde o aumento do custo de vida se faz sentir especialmente desde o início das sanções infligidas à Rússia e que acarretaram o estouro da inflação do gás, combustíveis, energia e alimentos.

Os líderes sindicais também aumentaram a pressão sobre o presidente Emmanuel Macron enquanto ele se prepara para reviver uma controversa reforma previdenciária que adiaria a idade oficial de aposentadoria de 62 para 64 ou 65 anos. O governo havia deixado essa revisão em compasso de espera por conta do surto de COVID-19.

Quanto aos outros setores, postos de saúde foram fechados, com atendimento só aos casos urgentes, escolas sem aulas, muitas cantinas escolares não funcionaram, assim como as atividades de tempos livres nas escolas públicas, que permitem aos pais franceses irem buscar os filhos mais tarde.

GREVE NACIONAL PARA A BÉLGICA POR SALÁRIOS

Os sindicatos belgas realizaram uma greve nacional, na quarta-feira (9), para proteger o poder aquisitivo dos salários, com suspensão do serviço ferroviário e supermercados fechados. No principal aeroporto da capital, Bruxelas-Zaventem, 60% dos voos previstos foram cancelados por falta de pessoal nas plataformas operacionais.

Enquanto isso, o aeroporto de Charleroi (principal núcleo da companhia Ryanair no continente europeu) permaneceu fechado, com todas as suas decolagens canceladas. Em Bruxelas, apenas 25% do serviço ferroviário funcionou na quarta-feira.

A greve nacional foi convocada pela maior confederação sindical do país, a Federação Geral do Trabalho da Bélgica (FGTB), com o apoio da Confederação dos Sindicatos Cristãos (CSC) e da entidade dos servidores públicos CGSP.

Ao portal de notícias Euronews, o diretor da FGTB, Eric Buyssens, afirmou que o mote da greve é exigir do governo medidas concretas para aliviar “o choque da alta das contas de energia”.

Sob o bumerangue das sanções contra a Rússia, a inflação na zona do euro atingiu em outubro novo recorde de 10,7%, impulsionado pela alta de 41,9% nos preços de energia e de 13,1% nos alimentos – e o governo belga tem sido um dos mais omissos diante desse quadro.

“Nosso governo está se escondendo atrás das instituições europeias e nada se move”, assinalou a dirigente sindical Murielle Di Martinelli, pedindo a regulação estatal dos preços da energia para restaurar um “nível mínimo de conforto” para os belgas.

Para agudizar o problema, chegaram a um impasse as negociações sobre a política salarial entre governo, empresários e centrais . O Partido do Trabalho da Bélgica (PTB) pediu que o ministro do Emprego, Pierre-Yves Dermagne (PS), não assine o decreto de congelamento de salários que está sobre a mesa. “Ele pode salvar sua honra como homem de esquerda não assinando um decreto real que proibiria aumentos salariais acima de 0%”, disse Raoul Hedebouw, presidente do PTB.

“A classe trabalhadora do país não aceitará outro congelamento de salários e eles estão certos. Nos últimos meses, margens de lucro recordes foram acumuladas por grandes empresas, conforme revelou o Banco Nacional. Por que não podemos ter a liberdade de negociar aumentos onde lucros estão sendo feitos?»

“O problema hoje, para muitos pequenos empreendedores e empresas, é a explosão dos preços da energia. É aí que está o motor da alta da inflação”, acrescentou.

Hedebouw denunciou que a ânsia de Vivaldi e das grandes corporações em querer congelar salários “é inversamente proporcional à imobilidade do mesmo governo e à passividade das organizações patronais” diante da alta das contas de energia.

PROFISSIONAIS DE SAÚDE PREPARAM PARALISAÇÃO NO REINO UNIDO

Simultaneamente, no Reino Unido, o Royal College of Nursing (RNC), que representa quase meio milhão de enfermeiros, prepara-se para anunciar a qualquer momento a primeira greve nacional dos seus 106 anos de história, exigindo melhores salários e mais contratações para dar conta das exigências impostas pela Covid-19 que tornaram o atendimento insustentável.

Outros trabalhadores ligados à área da saúde pública (como ambulâncias ou porteiros hospitalares e até pessoal de limpeza) também participam de uma consulta do RNC que pode levar a uma paralisação.

O governo britânico disse que tem planos de emergência para uma greve de paramédicos, mas o anúncio não acalmou os temores sobre o impacto da greve em um setor que ainda luta para se recuperar do caos causado pela pandemia de coronavírus.

Papiro (BL)