Greve da Universidade da Califórnia (Marilyn Bechtel/Peoples World)

Entrou na segunda semana a greve dos 48 mil trabalhadores pós-graduandos e pós-doutorandos da Universidade da Califórnia, em dez campi, que já é a maior paralisação de trabalhadores acadêmicos na história dos Estados Unidos. Estudantes, professores e entidades sindicais manifestaram seu apoio à greve, que foi votada e aprovada por 98% dos profissionais.

A taxa de inflação do Estado da Califórnia atingiu 13,5% em outubro, de acordo com o monitor de inflação do Comitê Econômico Conjunto do Congresso dos EUA, muito acima da média nacional de 7,7% e, de acordos com os pós-graduandos e pós-doutorandos, estipêndios mal dão para pagar aluguel.

Os grevistas estão exigindo a duplicação de seu salário anual inicial para US$ 54.000 (pós-graduandos) e US$ 70.000 (pós-doutorandos). Os salários médios atuais dos trabalhadores acadêmicos em nível de pós-graduação são de US$ 24.000, quase US$ 15.000 a menos do que o custo anual de um apartamento em Santa Cruz e outras cidades da Califórnia.

O movimento também exige um aumento salarial de 14% para pesquisadores acadêmicos, bem como moradia acessível, benefícios de transporte para trabalhadores acadêmicos vindos de fora da Califórnia e subsídios para creche.

A última proposta da universidade só aumentaria o salário inicial para US$ 27.880 noventa dias após a ratificação. A oferta também incluiu um aumento de 7,5% para bolsistas de pós-doutorado, 4% para pesquisadores acadêmicos, 7% para funcionários acadêmicos (assistentes de ensino, instrutores associados e bolsistas de ensino) e 9 a 10% para bolsistas de pós-graduação.

O contrato prenderia os trabalhadores a 3% de aumentos anuais até 30 de setembro de 2027. Assim, os “aumentos” propostos são, na verdade, um corte nos salários reais. Além de que os californianos pagam os preços mais altos da gasolina no país, com um galão sendo vendido por US$ 5,34 na semana passada, em comparação com a média nacional de US$ 3,70.

Integram a greve 12 mil pós-doutorandos e pesquisadores acadêmicos que trabalham sem contrato desde 30 de setembro; 19 mil tutores, leitores e instrutores e assistentes de alunos de pós-graduação, que foram mantidos no trabalho após inúmeras prorrogações permitidas desde o vencimento do contrato em 30 de junho de 2020; e 17 mil alunos de pós-graduação filiados ao Student Research United (SRU-UAW), que foi reconhecido em dezembro.

Como registrou o portal PeoplesWorld, a paralisação foi convocada após mais de um ano de negociação infrutífera com a universidade, sendo que parte do pessoal está sem qualquer garantia desde 2020!

“QUANDO VAMOS À GREVE, VENCEMOS”

Na primeira manhã da greve, como destacou PeoplesWorld, mais de 2 mil trabalhadores acadêmicos e apoiadores, lotaram a Sproul Plaza do campus da UC Berkeley, puxando um coro de “quando vamos à greve, vencemos!”.

“Um contrato justo significa salários dignos, salários realmente justos que cobrem o custo da moradia aqui na baía e em toda a Califórnia”, disse o membro do comitê de negociação, Jess Banks, estudante de pós-graduação pesquisador do Departamento de Matemática da UC Berkeley, à multidão.

“Um contrato justo significa segurança no emprego – ninguém precisa se perguntar se terá um emprego no próximo semestre, no próximo ano, no próximo verão. Um contrato justo significa benefícios de creche para nossos pais que trabalham”, acrescentou.

“É escandaloso que os trabalhadores acadêmicos recebam salários miseráveis em algumas das instituições mais ricas de nosso Estado”, afirmou a secretária-tesoureira-executiva da Federação dos Trabalhadores da Califórnia, Lorena Gonzalez Fletcher, expressando seu apoio ao movimento grevista e prometendo que “estaremos nos piquetes” até que haja um contrato de trabalho decente. Ela reiterou que a mobilização conta com a solidariedade de todos os sindicatos que atuam na UC.

Dan Russell, trabalhador de Tecnologia da Informação na UC Berkeley e presidente da University Professional and Technical Employees-CWA , que representa 18 mil pesquisadores e técnicos da UC e professores em meio período, agradeceu aos trabalhadores acadêmicos em greve por “construírem o tipo de união democrática” de que a Universidade da Califórnia precisa.

“Muito obrigado por esta luta”, disse também Rosie Rodriguez, dos servidores públicos, que representa 27 mil técnicos de atendimento ao paciente da UC.

MOBILIZAÇÃO HISTÓRICA

É uma mobilização “histórica, porque pela primeira vez, todos nós somos literalmente os que estão fazendo história. Estamos tomando as rédeas de nosso próprio destino e assumindo o controle de nossas vidas e de nosso local de trabalho”, afirmou Tanzil Chowdhury, também membro do comitê de negociação, que é assistente de pesquisa do terceiro ano do Lawrence Berkeley National Laboratory.

A greve da UC também está encorajando outros trabalhadores acadêmicos em todo o país. Na semana passada, mais de 1.600 professores de meio período da The New School, na cidade de Nova York, lançaram uma greve para exigir um contrato depois de não receberem um aumento em quatro anos.

Na segunda-feira, a universidade privada emitiu um ultimato aos trabalhadores em greve insistindo que eles aceitassem uma oferta “final”, que inclui um “aumento” anual de 1,8%, ou será imposto unilateralmente.

Também acabam de aprovar ir à greve os assistentes de ensino e pesquisa da Universidade Temple e os professores em tempo integral da Universidade de Illinois-Chicago.

“BASTA”

Ao portal WSWS, Julie, da UC-Berkeley, relatou que “uma grande razão pela qual muitos de nós estamos nos unindo a essa causa é que a grande maioria de nós está sobrecarregada com o aluguel. Simplesmente não é viável para muitas pessoas passar cinco anos sem receber muito bem. Conheço pessoas que precisam recorrer aos bancos de alimentos. É realmente horrível”. Os “bancos de alimentos” são uma espécie de mercearia-sopão institucionalizada nos EUA, por causa da amplitude que a insegurança alimentar alcançou no país mais rico do mundo.

O que foi confirmado por Abbey, estudante de pós-graduação da UC San Diego, que estava no piquete. “Estamos indo aos bancos de alimentos”, acrescentou, contando que foi instalado um no campus “porque sabem como os alunos estão no sufoco”.

“Eles até reduziram a quantidade que você pode obter do banco de alimentos porque muitos alunos precisam usá-los. Em vez de aumentar a oferta, eles diminuem a quantidade que você pode obter!”

Também Casey, da UC Berkeley, disse conhecer “pessoas em outros campi da UC que precisam de vale-sopão para pagar as compras”. “Mais da metade do meu estipêndio vai para o aluguel, então estou definitivamente sobrecarregado com o aluguel e, se por qualquer motivo houver um atraso no meu pagamento, não poderei pagar o aluguel”.

Papiro

(BL)