Casa Branca informou sobre imunidade do saudita bin Salman ao tribunal que o precessa em Washington (AFP)

O governo dos Estados Unidos apresentou na quinta-feira (17) documento em que dá imunidade legal ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, processado em um tribunal civil em Washington por envolvimento com o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. As acusações tratam de tortura, esquartejamento e ocultação de cadáver.

Conforme o documento, “os Estados Unidos informam respeitosamente ao tribunal que o réu Mohamed bin Salman, primeiro-ministro do Reino da Arábia Saudita, é o atual chefe de governo e, portanto, goza de imunidade desses processos”.

Apelidado de MBS, o príncipe foi nomeado primeiro-ministro por decreto real no final de setembro, evidenciando que buscava a proteção contra ações judiciais movidas em tribunais estrangeiros, incluindo uma movida nos EUA por Hatice Cengiz, a noiva turca do jornalista sequestrado e assassinado na Turquia.

Jamal Khashoggi, que escrevia para o jornal Washington Post (WP), foi capturado e morto no dia 2 de outubro de 2018 ao entrar no consulado da Arábia Saudita, em Istambul. Apreensiva, Cengiz aguardou em vão durante 11 horas pelo seu retorno, informando do desaparecimento à polícia turca.

Conforme o material publicado pelos jornais norte-americanos, tanto o WP, em que trabalhava, quanto o New York Times, a polícia turca apresentou os áudios e vídeos comprovando a entrada de Khashoggi no prédio, seu interrogatório e sua morte.

O assassinato de Khashoggi, um associado próximo do poder saudita que mais tarde se tornou crítico, tornou o príncipe um proscrito no Ocidente. Na tentativa de manter mantê-lo em liberdade, seus advogados alegaram que estava “no auge do governo na Arábia Saudita” e, portanto, qualificado para o tipo de imunidade que os tribunais americanos concedem a chefes de estado estrangeiros e outras autoridades de alto escalão.

Tergiversando, o documento do governo de Biden assinala que “o Departamento de Estado está em silêncio sobre o mérito deste processo e reitera sua condenação inequívoca do hediondo assassinato de Jamal Khashoggi”, mas avalizando a presença do criminoso.

A noiva do jornalista assassinado e apoiadores de sua ação, incluindo representantes da Democracy for the Arab World Now (DAWN), a ONG norte-americana fundada por Khashoggi, protestaram contra a enrolação do governo Biden. “Jamal morreu novamente hoje. Não foi uma decisão que todos esperavam. Pensamos que talvez houvesse uma luz para a justiça nos Estados Unidos. Mas, novamente, o dinheiro veio primeiro”, enfatizou Hatice Cengiz.

O príncipe Mohamed, que é o governante de fato do reino há vários anos, serviu anteriormente como vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa de seu pai, o rei Salman.

Após um breve período de relativo isolamento, o assassino foi acolhido ao cenário mundial este ano, quando Biden viajou em julho à Arábia Saudita, apesar da promessa anterior de tornar o reino um “pária”.

O processo civil movido por Cengiz e pela DAWN denuncia que o príncipe, com a ajuda de mais 20 cúmplices, “agindo em conspiração e com premeditação, sequestraram, amarraram, drogaram, torturaram e assassinaram” Jamal Khashoggi. De acordo com os relatos, para a retirada do corpo da embaixada foi utilizada uma “serra óssea”.

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(BL)