Diplomata francês denuncia EUA por “violar direito internacional”
A chamada “ordem baseada em regras” é na verdade apenas uma “ordem ocidental” em que os Estados Unidos – seguidos por uma Europa submissa – implementam em uma nova Guerra Fria com a China e a Rússia, com base na injusta dominação de organizações internacionais como as Nações Unidas, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmou o principal diplomata francês Gérard Araud.
EUROPA SE DEIXA UTILIZAR
Ex-embaixador da França nos Estados Unidos, Gérard Araud, condenou publicamente a política de Washington que, a seu ver, viola com frequência o direito internacional para impor a mal denominada “ordem baseada em regras”. Na verdade, assinalou, imersos em uma “guerra econômica” contra a China, os EUA querem se utilizar da Europa na “política de contenção”, forçando os países do continente a “escolher seu campo” nessa nova Guerra Fria.
O alerta feito por Araud está bem sustentado em suas credenciais: diplomata francês sênior aposentado, foi representante de Paris na ONU, atuou como embaixador nos Estados Unidos de 2014 a 2019. De 2009 a 2014, foi representante de Paris nas Nações Unidas, tendo servido como como embaixador da França em Israel e trabalhado com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Araud denunciou que os diplomatas norte-americanos insistem que o seu país deve ser sempre o “líder” do mundo e enfatizou que o Ocidente deve trabalhar com outros países do Sul, “em igualdade de condições”, a fim de “encontrar um compromisso com nossos próprios interesses”, abandonando exigências “maximalistas”, “de simplesmente tentar manter a hegemonia” norte-americana.
As reflexões de Araud foram feitas no painel “A América está pronta para um mundo multipolar? “, organizado pelo Quincy Institute for Responsible Statecraft, em 14 de novembro, em busca de uma política externa mais contida e menos belicosa.
EUA DESPREZA DIPLOMACIA
Como representante permanente nas Nações Unidas, o embaixador disse que pôde perceber o desprezo da diplomacia estadunidense pelo diálogo e o entendimento. “Nós amamos as Nações Unidas, mas os americanos não muito, você sabe. E, na verdade, quando você olha para a hierarquia das Nações Unidas, todos são nossos [do Ocidente]”, assinalou Araud, frisando que além do secretário-geral, “quando você olha para todos os subsecretários gerais, todos eles realmente são americanos, franceses, britânicos e assim por diante”. “Quando você olha para o Banco Mundial, quando olha para o FMI e assim por diante. Esse é o primeiro elemento: essa ordem é a nossa ordem. E o segundo elemento também é que, na verdade, esta ordem está refletindo o equilíbrio de poder em 1945. Você sabe, olha para os membros permanentes do Conselho de Segurança”, acrescentou.
Para o embaixador francês, o que ocorre é que “as pessoas esquecem que, se a China e a Rússia são obrigadas a se opor [com] seu veto, é porque, francamente, o Conselho de Segurança é na maioria das vezes, 95% das vezes, impõe uma maioria orientada para o Ocidente”.
Portanto, apontou, “quando os americanos basicamente querem fazer o que querem, inclusive quando é contra o direito internacional, como eles o definem, eles o fazem. E essa é a visão que o resto do mundo tem dessa ordem”.
Diante disso, a primeira tarefa colocada para a diplomacia, ponderou, é “como dizemos em francês, nos colocarmos no lugar do outro, tentar entender como ele vê o mundo”, passando a “integrar todas as principais partes interessadas” e “tentando construir com eles, em pé de igualdade, o mundo de amanhã”.
“Essa é a única maneira. Deveríamos realmente pedir aos indianos, pedir aos chineses, aos brasileiros e a outros países, que realmente trabalhem conosco de forma igualitária. E isso é algo – não são apenas os americanos, também os ocidentais, você sabe, realmente tentando sair de nossa posição moral supostamente elevada e entender que eles têm seus próprios interesses, que em algumas questões devemos trabalhar juntos”, enfatizou.
PAPIRO
(BL)