Alexandre Saraiva, ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas | Foto: Reprodução/TV Globo

A Corregedoria da Polícia Federal (PF) instaurou um inquérito contra o delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente do órgão no Amazonas, sob o pretexto de insubordinação pelo fato de Saraiva ter impedido e denunciado um esquema de contrabando de madeira na época em que Ricardo Salles, eleito deputado federal pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, era ministro do Meio Ambiente.

O policial foi responsável pela maior apreensão de madeira ilegal na Amazônia na história, em uma operação que resultou na abertura de um inquérito contra Salles, que saiu em seguida da chefia da pasta. Saraiva alega estar sofrendo retaliação por parte do governo.

O delegado concedeu entrevistas a diversos órgãos de imprensa, à época, para detalhar o esquema criminoso, o que desagradou ao presidente e sua trupe.

É consenso que em quase quatro anos de mandato, Bolsonaro nada fez pelo meio ambiente. Ao contrário disso, por meio de decretos e outras medidas, enfraqueceu a legislação ambiental e a fiscalização, o que foi recebido por infratores como um aval para a prática de diversos crimes.

“Para fazer cessar o caos que foi instalado na Amazônia pelo Governo Bolsonaro, serão necessárias medidas emergenciais. Ressuscitar o Ibama e a área ambiental da PF desmontados pelo governo atual”, defendeu Saraiva, no início de novembro, em entrevista à Agência Amazônia.

“Acrescentaria ainda nesta lista o combate à caça ilegal, o comércio de carne de animais silvestres abatidos ilegalmente, o comércio ilegal de quelônios e a pesca ilegal de pirarucu, pois estas atividades estão colocando em risco grave nossa biodiversidade [..], completou o delegado.

Em 9 de maio de 2021, as investigações decorrentes da Operação Akuanduba da PF, apontaram para a suspeita de envio de madeira ilegal para os Estados Unidos e Europa, o que resultou na expedição de 35 mandados de busca e apreensão em Brasília, São Paulo e no Pará.

O relatório da Polícia Federal afirmou que os investigados atenderam pedidos de empresas exportadoras de madeira e expediram regulamentações para liberar cargas que haviam sido embargadas ou apreendidas por países da Europa e pelos EUA.

Além disso, dez gestores do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram afastados. Entre eles, Eduardo Bim, atual presidente do Ibama, que permaneceu fora do cargo por 90 dias.

Conforme o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que autorizou a operação, as investigações apontaram para a existência de um “esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”, que teria o envolvimento de Ricardo Salles e de gestores do MMA e do Ibama.

RETALIAÇÃO

O presidente da comissão responsável pelo processo contra Saraiva, delegado Ismael Coelho do Amaral, usou a desculpa de que Saraiva teria “buscado angariar notoriedade para concorrer a cargo político-partidário, mediante uso indevido do cargo público, através da concessão de reiteradas entrevistas a veículos de imprensa, sem prévia autorização ou interferência do órgão de comunicação social respectivo”, conforme acusa no processo.

O delegado argumenta ainda que Saraiva, que foi candidato a deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro, teria realizado “intenso ativismo político em redes sociais”, publicado “representações de representações ao órgão central da PF sem a ciência da chefia local” .

Diz ainda que o delegado foi “desleal com a instituição a que serve, com base nas entrevistas e postagens de documentos e mensagens em que desmerecem a imagem e o conceito da Polícia Federal e seu dirigente”.

Por sua vez, Alexandre Saraiva sustenta que o processo é uma retaliação contra as acusações lançadas por ele ao antigo diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, exonerado da função em fevereiro, mas mantido no órgão por decisão de Jair Bolsonaro.

“De fato, o acusei de comprar apartamento em Miami, de ter acumulado cargos públicos, de ter feito turismo na Tunísia com dinheiro público. Mas nada foi feito com esses documentos”, disse ao Congresso em Foco.

“Daqui a pouco …quem quiser entender a natureza desonesta, perversa e criminosa do processo disciplinar que me afasta da PF terá a oportunidade. Garanto que o Direito Brasileiro nunca viu semelhante aberração jurídica. Mostrarei documentos. Falo e provo”, asseverou Alexandre Saraiva, pelo Twitter.

Também pelas redes sociais, o delegado recebeu diversas manifestações de apoio. “Força, Saraiva! Esses trevosos não vão conseguir te prejudicar”, disse um apoiador; “É isso ai, meu amigo, estou torcendo por você!”, declarou outro internauta; “NÃO DEIXEM A BOIADA PASSAR”, manifestou uma apoiadora. 

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(BL)