O encontro do G20 em Bali refletiu a busca de “terreno comum sem negar diferenças” (divulgação)

O jornal chinês de língua inglesa Global Times, que é um porta-voz oficioso de Pequim para as questões mais polêmicas, considerou a “Declaração dos Líderes do G20 de Bali” uma “conquista arduamente obtida”.

“Devido à atual situação internacional complicada com crescentes divergências e turbulência, muitos analistas previram que a cúpula poderia não ser capaz de adotar uma declaração conjunta como as cúpulas anteriores do G20” e até chegou a ser relatado que a Indonésia, que preside atualmente o G20, havia preparado um “plano B”.

“No entanto, os líderes dos países participantes lidaram com suas diferenças com uma atitude pragmática e flexível, buscaram a cooperação de uma posição superior e com grande senso de responsabilidade e finalmente chegaram uma série de consensos importantes”.

ESPÍRITO DE BANDUNG

Como destacou o GT, “o espírito de busca de pontos em comum, mas preservando as diferenças, mais uma vez teve um papel preponderante em um momento crítico do desenvolvimento humano” – lembrando a histórica Conferência de Bandung na Indonésia de 1955, em que o então primeiro-ministro chinês Zhou Enlai “apresentou o princípio de buscar um terreno comum enquanto se preserva as diferenças”.

A Conferência de Bandung, que implementou o princípio, tornou-se “um marco na história mundial”. Da Conferência de Bandung à cúpula de Bali, mais de meio século se passou. “Na era atual de diversificação e multipolarização, o significado prático de buscar um terreno comum enquanto se preservam as diferenças tornou-se mais proeminente, o princípio orientador ao lidar com relações bilaterais e resolver questões globais”.

Alguns chamaram a cúpula do G20 de “um resgate de emergência da economia global sob a ameaça de recessão”, sublinhou o GT. Se visto sob esta luz, os compromissos reiterados dos líderes participantes sobre a cooperação para enfrentar os desafios econômicos globais, sem dúvida, mostraram que foi uma cúpula bem-sucedida.

“A declaração é um sinal do sucesso da cúpula. Ele injetou confiança na comunidade internacional para resolver a economia global lenta e outras questões globais. Devemos dar um sinal de positivo à Indonésia por um trabalho bem feito”.

A maioria das opiniões públicas americanas e ocidentais estão “se concentrando nas expressões relevantes do conflito Rússia-Ucrânia na declaração”, inclusive com certos meios de comunicação apontando como “uma grande vitória para os Estados Unidos e seus aliados”. “Devemos dizer que esta não é uma interpretação unilateral, mas completamente errada”, enfatiza o GT.

“Essa visão desvia a atenção internacional, elude e desrespeita os esforços multilaterais desta cúpula do G20. Aparentemente, a mídia que coloca sua posição como prioridade muitas vezes não reconhece o que é importante ou confunde deliberadamente o público”.

Como salientou o GT, a declaração, logo no início, articulou que o G20 é o principal fórum para a cooperação econômica global, “não o fórum para resolver questões de segurança”.

Afirmou que “coletivamente carregamos responsabilidades e que nossa cooperação era necessária para a recuperação econômica global, para enfrentar os desafios globais e estabelecer uma base para um crescimento forte, sustentável, equilibrado e inclusivo”.

A cúpula – acrescenta – realizou “um grande número de discussões profissionais e pragmáticas sobre temas como pandemia, clima e ecologia, transformação digital, energia e alimentos, finanças, redução da dívida, sistema multilateral de comércio e cadeia de suprimentos”. A importância da cooperação também foi enfatizada em vários campos. Esses conteúdos são os pontos-chave.

“É necessário acrescentar que a posição da China sobre a questão da Ucrânia é consistente, clara e inalterada”.

“De um modo geral, o G20 tem desempenhado sua função central como uma plataforma para a coordenação econômica global, e o multilateralismo tem sido enfatizado. Este é o resultado que a China espera ver e se esforça para promover. É uma vitória do multilateralismo e da cooperação ganha-ganha”.

O GT não falou nisso, mas nas vésperas do G20 a mídia não cansou de falar de um plano ocidental para tentar melindrar o representante russo na cúpula, o veterano diplomata Sergei Lavrov, o que não teve espaço para prosperar. Lavrov participou intensamente dos esforços para chegar a uma declaração de Bali que fosse aceita por todos, como registrou a mídia russa.

Tanto no entendimento de Moscou quanto de Pequim, era imprescindível preservar o G20 como um fórum multilateral, daí a importância de uma declaração final aceita por todos e que também registrasse as discordâncias.

Em especial, a cúpula também conseguiu lidar com o incidente do míssil antiaéreo ucraniano que caiu a poucos quilômetros da fronteira polonesa, o que inicialmente tentaram atribuir à Rússia, que rechaçou a acusação e forneceu os elementos que permitiram em poucas horas debelar a crise, ao invés de uma escalada que ninguém poderia antecipar até onde iria.

Como registrou o GT, “os países relevantes responderam de forma racional e calma, e a cúpula foi concluída sem problemas. Este incidente lembra ao mundo mais uma vez a preciosidade da paz e do desenvolvimento, e que o consenso alcançado na cúpula de Bali é de grande importância para a busca da humanidade pela paz e pelo desenvolvimento”.

Papiro

(BL)