Encontro de Xi Jinping com Jiang Zemin (Arquivo/Wu Hong/EFE)

Aos 96 anos faleceu na quarta-feira (30) em Xangai o ex-presidente chinês Jiang Zemin, que comandou a China no período de 1989-2003, período chave para a afirmação do socialismo de características chinesas e para a ascensão do país à condição atual de gigante econômico soberano.

O anúncio foi feito “com profundo pesar” pelo Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e pelas principais instâncias de poder, Assembleia Popular Nacional da República Popular da China, Conselho de Estado, Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e Comissão Militar Central, em carta dirigida a todo o Partido, a todos os militares e ao povo chinês de todos os grupos étnicos, registrou a agência de notícias Xinhua: “Nosso amado camarada Jiang Zemin morreu de leucemia e falência múltipla de órgãos depois que todos os tratamentos médicos falharam”.

“Lamentamos profundamente o camarada Jiang e transformaremos a dor em força para trabalhar em um esforço conjunto para construir um país socialista moderno em todos os aspectos e promover o grande rejuvenescimento da nação chinesa de maneira abrangente, de acordo com o plano do XX Congresso Nacional do PCCh”, disse Xi Jinping.

A China decretou luto oficial até à homenagem memorial a Jiang. A bandeira nacional localizada na Praça Tiananmen, no centro de Pequim, já foi colocada a meio mastro. A notícia de sua morte repercutiu na rede social Weibo, um tipo de ‘Twitter’, ultrapassando 650 milhões de visualizações em apenas uma hora.

Jiang foi também homenageado antes do início de reunião do Conselho de Segurança da ONU com um minuto de silêncio e por uma declaração do secretário-geral, Antonio Guterres. O presidente Vladimir Putin o lembrou como “um amigo da Rússia”.

Sobre ele, a Associated Press disse que “Jiang guiou a ascensão do país ao poder econômico… A China ultrapassou a Alemanha e depois o Japão para se tornar a segunda maior economia depois dos EUA”. Por sua vez a Reuters o descreveu como um presidente que “liderou o país por uma década de rápido crescimento econômico”, exaltando sua contribuição para as relações da China com os EUA. Sob sua liderança – acrescentou a RT – a China continuou seu progresso para se tornar uma potência econômica e política.

Jiang, que deixa sua esposa Wang Yeping e seus dois filhos, foi visto pela última vez em público em 2019, onde participou das comemorações do 70º aniversário da fundação da República Popular da China. Sua ausência do 20º Congresso do Partido Comunista em outubro foi vista como um sinal de problemas de saúde.

Durante seu governo e seu período à frente do PCCh, a China logrou manter o barco da revolução à tona, com notáveis contribuições para a causa do socialismo com características chinesas e para o “rejuvenescimento” da milenar nação.

Em 1997, deu-se a devolução – negociada por Deng Xiaoping – de Hong Kong, surripiada pelos britânicos na Guerra do Ópio, à pátria chinesa, sob o formato de “um país, dois sistemas” com fim do controle colonial. O que se repetiria, em relação a Macau, dois anos depois, de parte de Portugal.

Em 2001, a China foi admitida na Organização Mundial do Comércio, o que aprofundou a tendência em curso de se tornar a ‘fábrica do mundo’.

Ainda, a China passara pela prova de fogo da crise asiática.

Nesse período, reafirmou-se a política externa “independente e pacífica”, que remonta à histórica Conferência de Bandung, de 1955. Também foi nessa época, após a agressão da OTAN à Iugoslávia (1999), em que a embaixada da China em Belgrado foi atingida por um míssil norte-americano, que deslanchou a reaproximação entre a Rússia (Doutrina Primakov) e a China, que desembocou na atual aliança estratégica, que tem como alvo o mundo unipolar.

Internamente, foi grande sua contribuição para a institucionalização da democracia popular chinesa e de seus mecanismos. Em novembro de 2002, Jiang, então com 76 anos, decide sair do Politburo do PCCh para abrir espaço para a nova geração de líderes. A saída foi oficializada durante o 16º Congresso Nacional do partido, no dia 15, no qual Hu Jintao assumiu a vaga.

Em 1999, determinou o banimento da seita obscurantista e reacionária Falung Gong.

ESTADISTA NOTÁVEL

A carta do PCCh e das instâncias de Estado divulgada pela Xinhua assinalou que o camarada Jiang Zemin era um líder destacado, de grande prestígio, reconhecido por todo o Partido, por todos os militares e pelo povo chinês de todas as etnias, um grande marxista, um grande revolucionário proletário, estadista, estrategista militar e diplomata, um lutador comunista de longa data e um destacado líder da grande causa do socialismo com características chinesas.

Ele foi – acrescentam- o núcleo da terceira geração de liderança coletiva central do PCCh e o principal fundador da Teoria das Três Representações.

A carta elencou as conquistas que ele fez durante sua vida, desde a adolescência, quando se tornou um aprendiz diligente e que busca a verdade, iluminado pelo patriotismo e pelas ideias da revolução democrática, até o momento em que se tornou o núcleo da terceira geração de líderes centrais do PCCh e, depois, com sua aposentadoria dos cargos de liderança, sempre defendendo firmemente o trabalho do Comitê Central do PCCh.

“Sob a terceira geração da liderança coletiva central do Partido, com Jiang no núcleo, lidamos com calma com uma série de eventos internacionais que preocupavam a soberania e a segurança da China, superamos dificuldades e riscos que surgiam nas esferas política e econômica e aqueles trazidos por desastres naturais, e sempre se manteve a reforma da China, a abertura e a modernização socialista na direção certa”.

“As grandes conquistas de nosso Partido e país nos 13 anos desde a quarta sessão plenária do 13º Comitê Central do PCCh foram inseparáveis do grande talento, papel fundamental e arte excepcional de liderança política de Jiang como estadista marxista”, destaca a mensagem.

Enquanto atuava como presidente da Comissão Militar Central, o camarada Jiang Zemin, com um profundo conhecimento das principais mudanças nas situações doméstica e internacional e na tendência de desenvolvimento da nova transformação militar mundial, apresentou uma série novas medidas no avanço da modernização da defesa nacional e das forças armadas, aponta a carta.

Depois de se aposentar de seus cargos de liderança, Jiang defendeu firmemente o trabalho do Comitê Central do PCCh, demonstrou preocupação com a grande causa do socialismo com características chinesas e apoiou resolutamente os esforços para melhorar a conduta do Partido e combater a corrupção.

“A morte de Jiang é uma perda inestimável para nosso Partido, nossos militares e o povo chinês de todos os grupos étnicos. O Comitê Central do PCCh pede a todo o Partido, a todos os militares e ao povo de todos os grupos étnicos que transformem a dor em força, levem adiante o legado de Jiang e expressem nossa dor com ações concretas”, convoca a carta.

“Devemos nos reunir em torno do Comitê Central do PCC com o camarada Xi Jinping em seu núcleo com maior determinação e propósito, e aderir à teoria básica, linha básica e política básica do Partido.

Devemos permanecer confiantes no caminho, na teoria, no sistema e na cultura do socialismo com características chinesas. Isso permitirá que nosso Partido permaneça fiel à sua aspiração original e missão fundadora e permaneça como o forte núcleo de liderança na causa do socialismo com características chinesas”.

“A causa do grande rejuvenescimento da nação chinesa é a cristalização dos esforços meticulosos e esforços de gerações de comunistas, incluindo o camarada Jiang Zemin. Na jornada à frente, todo o Partido, todos os militares e o povo chinês de todos os grupos étnicos devem seguir a forte liderança do Comitê Central do PCCh com o camarada Xi Jinping em seu núcleo, erguer bem alto a grande bandeira do socialismo com características chinesas, levar adiante o grande espírito fundador do Partido, manter a confiança firme, unir-se como um, seguir em frente com determinação e lutar em unidade para construir um país socialista moderno em todos respeitos e promover o rejuvenescimento nacional em todas as frentes”.

“AVÔ JIANG”

Nos últimos dias, certos meios de desinformação estão tentando tornar Jiang, aliás, ‘Avô Jiang’, num suposto paladino de certa juventude chinesa que, arrastada para o negacionismo sob o cansaço da pandemia, ganha afagos da mídia ocidental e até supostamente pede a “renúncia do PCCh”, segundo tais fontes.

Logo Jiang que – no momento mais difícil, quando a tentativa de reproduzir na China o caos da perestroika avançava a passos largos, atraindo incautos à Praça Tianamen – se alinhou à decisão de Deng Xiaoping de deter a contra-revolução (ou não foi isso que aconteceu na União Soviética, ali ao lado, nessa época?).

Ele acabou convocado por Deng a Pequim, em função de que, em Xangai, onde era o prefeito e líder do partido, o caos não prosperou: foi até os manifestantes, agiu com firmeza e tato, e dissolveu o problema.

Papel que foi relembrado na homenagem da emissora estatal CCTV: “Durante a grave turbulência política na China na primavera e no verão de 1989, o camarada Jiang Zemin apoiou e implementou a decisão correta do Comitê Central do Partido de se opor à agitação, defender o poder do estado socialista e salvaguardar os interesses fundamentais do povo”.

TRÊS REPRESENTAÇÕES

Também é importante citar a contribuição de Jiang, no plano teórico, quando era preciso reconciliar os que sinceramente se equivocaram e estavam dispostos a retornar à construção do socialismo com características chinesas, chamando a ampliar as fileiras e convocando a desenvolver as forças produtivas, nas “Três Representações”.

Em síntese, o PCCh deve ser o representante das forças produtivas sociais avançadas, da cultura avançada e dos interesses da esmagadora maioria do povo chinês.

Na reunião comemorativa do 80º aniversário da fundação do PCCh em 1º de julho de 2001, Jiang – partindo da perspectiva da lei do desenvolvimento histórico e da necessidade de avançar com os tempos -, esclareceu a proposição.

Ele afirmou: “Dizer que nosso Partido sempre representa a tendência de desenvolvimento das forças produtivas avançadas da China significa que a teoria, linha, programa, princípios, políticas e todo o trabalho do Partido devem estar alinhados com as leis que regem o desenvolvimento das forças produtivas; incorporar o requisito para promover constantemente a liberação e o desenvolvimento das forças produtivas, especialmente das forças produtivas avançadas; e elevar continuamente o padrão de vida das pessoas pelo desenvolvimento das forças produtivas”.

Ele continuou: “Dizer que nosso Partido sempre representa a orientação da cultura avançada da China significa que sua teoria, linha, programa, princípios, políticas e todo o seu trabalho devem incorporar os requisitos para orientar o desenvolvimento de uma cultura socialista nacional, científica e popular voltada para as necessidades de modernização, do mundo e do futuro, a fim de melhorar os padrões ideológicos e éticos e os níveis científicos e culturais de toda a nação e fornecer motivação e apoio intelectual para o desenvolvimento econômico e o progresso social da China”.

Ele acrescentou: “Dizer que nosso Partido sempre representa os interesses fundamentais da esmagadora maioria do povo chinês significa que em sua teoria, linha, programa, princípios, políticas e todo o seu trabalho, ele deve perseverar em levar os interesses fundamentais do povo como seu ponto de partida e objetivo, dar plena expressão ao entusiasmo, iniciativa e criatividade do povo e permitir que o povo obtenha constantemente benefícios econômicos, políticos e culturais tangíveis com base no desenvolvimento e progresso social”.

PAPIRO

(BL)