Vendas no comércio têm terceira queda seguida
Pelo terceiro mês seguido as vendas do comércio varejista brasileiro caíram no ano puxada pela inflação e os elevados juros que aceleram o endividamento das famílias, num ambiente de queda da renda do trabalhador – pressionada pelos elevados níveis de desemprego e a precarização do trabalho. De acordo com os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira (7), em agosto, o volume de venda do comércio varejista na sua modalidade ampliada recuou -0,6% frente julho, após quedas de -0,8 e de -2% nos meses anteriores. Assim, o setor acumula, no ano, queda nas vendas de -0,8% e retração de -2,0% nos últimos 12 meses.
As vendas do varejo simples, que desconsidera as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, também ficou em baixa em agosto, -0,1% frente a julho e acumula em três meses uma queda de 2,5%. Nos últimos doze meses, a queda é de -1,4%, com variações negativas superiores a dois dígitos nas vendas de eletrodomésticos (-15,14%) e móveis (-12,5%). Destaque-se ainda, as vendas de Hiper e supermercados, que figuraram em queda de -0,5% no período.
Em agosto, 4 das 10 atividades sondadas pelo IBGE apresentaram queda: Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,2%), Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-1,4%), Material de construção (-0,8%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,3%). Como ponto frustrante, o IBGE destacou também as vendas de supermercados, com variação positiva de apenas 0,2% frente a julho.
“Este mês, ficou muito clara a participação da atividade de Hiper e supermercados como fator âncora, segurando a variação muito próxima ao zero. A atividade pesa cerca de 50% no índice global. Artigos farmacêuticos, com -0,3%, também contribuiu em termos de peso para essa ancoragem”, destacou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Do lado dos que tiveram resultados positivos ficaram: Combustíveis e lubrificantes (3,6%), Tecidos, vestuário e calçados: (13,0%), Móveis e eletrodomésticos (1,0%), Livros, jornais, revistas e papelaria (2,1%) e Veículos e motos, partes e peças (4,8%).
O fraco desempenho do comércio acompanhado da péssima atuação da indústria – que acumula no ano queda na sua produção de 1,3% e está 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) – são sintomas de que a economia brasileira não está nada bem, diferente do que o governo Bolsonaro tem afirmado em sua campanha. Estes setores dependem do consumo das famílias, que estão com seus orçamentos sufocados pela inflação dos preços dos alimentos e das demais despesas do dia a dia – na esteira em que os salários não conseguem completar o mês. Além disso, os juros altos estimulados pelos sucessivos aumentos da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central inibiram o crédito e aceleram o endividamento das famílias e das empresas.
Como ressaltou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) sobre as medidas do governo Bolsonaro às vésperas das eleições: “A despeito de todas as ações que o governo vem tomando para estimular o consumo das famílias em 2022, como
liberação extraordinária do FGTS, antecipação de 13º salário de aposentados e pensionistas, e mais recentemente, aumento para até R$ 600 reais do valor do Auxílio Brasil, vale gás, vale caminhoneiro e vale taxista, bem como os cortes no ICMS, as vendas do comércio varejista, por ora, seguem no vermelho”.
No Brasil, ainda, o desemprego atinge 9,7 milhões de pessoas. Outros 39,3 milhões de brasileiros estão na informalidade do trabalho, a maioria esmagadora vivendo de “bicos”, ou seja, de atividades de baixa produtividade, jornada de trabalho excessiva e renda miserável.
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