Milhares de pessoas se manifestaram esta terça-feira (18) nas principais cidades da França, durante um dia de greve de várias categorias para exigir aumentos salariais que compensem a inflação e denunciar a repressão do governo à paralisação nas refinarias e sua atitude de ignorar a crise que os trabalhadores vivem.

Com isso, o tráfego de trens regionais no país foi reduzido pela metade. Também não houve aulas em muitas escolas, falta combustível e muitos serviços públicos foram suspensos, segundo a Agência Reuters.

“Temos que resistir. Todos os nossos direitos são atacados. Se não fizermos nada, não conseguiremos nada”, disse à AFP Frédéric Mercier Hadisyde, auxiliar de enfermagem, antes de se integrar na marcha de mais de 100 mil pessoas realizada em Paris em um dia chuvoso e nublado.

Mais recursos para as escolas, hospitais e previdência social, abandono das reformas do seguro-desemprego e do atraso na aposentadoria de 62 para 65 anos, reajustes salariais por conta da inflação foram as principais reivindicações.

Porém, a gota d’água para as centrais sindicais CGT, FO, FSU e Solidaires e várias associações de jovens foi que o governo requisitou funcionários em greve nas refinarias para aliviar a escassez de combustível que acontece há semanas.

Valérie, membro da central sindical CGT –a segunda do país–, participou do protesto “em solidariedade aos trabalhadores das refinarias”. “Se as pessoas são requisitadas, onde está o direito de greve?”, questionou.

Além de Paris, manifestações aconteceram em Estrasburgo, Le Havre, Dijon, Rouen, Rennes, Montpellier, Toulon e muitas outras cidades francesas.

SALÁRIO MÍNIMO

“Pedimos um salário mínimo de 2.000 euros (R$10750), o que equivale a um aumento de 300 euros (R$1750), os patrões ganham bilhões e não repassam nada para os trabalhadores”, disse o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, à rádio RTL, defendendo um reajuste de acordo com a inflação.

A demanda por um aumento de 10% motivou a greve da gigante energética TotalEnergies que começou no final de setembro e que causou, junto com a já cancelada greve da concorrente Esso-ExxonMobil, uma escassez de combustível.

Os grevistas da TotalEnergies rejeitam o acordo de um aumento de 7% em 2023, que consideram insuficiente já que a empresa obteve mais de 10 bilhões de dólares de lucro no primeiro semestre de 2022.

Ao se recusar a tributar esses “superlucros” em nível nacional, Macron colocou o governo “no campo dos grandes patrões, em total desconexão com grande parte dos franceses que sofrem com a inflação todos os dias”, segundo um editorial do jornal Libération.

O atraso na idade de aposentadoria de 62 para 65 anos que Macron deseja implementar colide com a oposição frontal dos sindicatos, incluindo o mais conservador CFDT, e a oposição de todos os setores políticos, de esquerda e de direita.

MANIFESTAÇÕES EM TODA A EUROPA

Milhares de pessoas já foram às ruas da França no domingo (16) contra o aumento dos preços. Entre os presentes na manifestação de Paris estavam o líder do partido La France Insoumise (A França Insubmissa), Jean-Luc Mélenchon, e a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura deste ano, Annie Ernaux.

Manifestações similares têm ocorrido em toda a Europa nos últimos meses. Na semana passada, no centro de Roma, a Confederação Geral do Trabalho italiana encabeçou marcha contra a disparada do custo de vida, da inflação e das tarifas de energia, e elevou o tom com slogans antifascistas e pacifistas.

Em Viena, os austríacos ergueram cartazes para reivindicar diálogo com Moscou: “Fim do apoio aos belicistas: UE, OTAN, EUA”, “Pela neutralidade, saída da Áustria da UE, amizade com a Rússia”, “Reduzir os preços da gasolina, eletricidade, gás, alimentos, não a sanções, impostos altos, inflação”.

Na Praça Venceslau, no centro de Praga, os tchecos se uniram para responsabilizar o governo pela drástica queda no padrão de vida da população. Dados publicados pelo Serviço de Estatística da República Checa apontam que os preços ao consumidor subiram 15,8% tão somente no segundo trimestre do ano.

Funcionários de companhias aéreas entraram em greve em países como Alemanha e Suécia, assim como funcionários ferroviários no Reino Unido, que exigiram que seus salários acompanhem o aumento do custo de vida.

Papiro

(BL)