Tarcísio traz a médica negacionista Nise Yamaguchi para a campanha
O candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deu mais uma demonstração de seu perfil negacionista e anticientífico na campanha ao governo de São Paulo. Ele participou de uma reunião, nesta terça-feira (11), com a oncologista Nise Yamaguchi no Hospital das Clínicas, no centro da capital paulista. Também esteve com Celso Russomanno (Republicanos).
Nise é uma das principais defensoras do tratamento precoce no combate ao coronavírus com o uso de cloroquina. A medida é comprovadamente ineficaz contra a covid-19, mas gerou milhões de recursos públicos gastos com a compra do medicamento.
O governo Bolsonaro também gastou mais de R$ 11,2 mil em passagens e diárias de viagens para um grupo de médicos ir à Brasília participar de um evento de estímulo ao tratamento precoce que acabou sendo cancelado. Entre eles estava Nise Yamaguchi, que confirmou ter utilizado o recurso público para ir a Brasília.
Convocada a depor na CPI da Covid no Senado, Nise Yamaguchi terminou indiciada por epidemia com resultado morte e chegou a processar o senador Omar Aziz (PSD-AM), que presidiu a comissão, por danos morais.
Preocupação dos verdadeiros cientistas
Tarcísio enfrenta o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) no segundo turno das eleições para governador de São Paulo. Cientistas e universidades paulistas têm cobrado de Tarcísio um posicionamento claro sobre investimento em ciência, e nas universidades, mas não obtiveram nenhuma resposta. O candidato ao governo de São Paulo nega as negligências do Governo Federal com relação à pandemia e comenta, durante debate para a TV Cultura, que a imunização no país “foi um sucesso”.
Nise Yamaguchi teve 36.690 votos e não foi eleita deputada federal pelo Pros em SP. No primeiro turno, durante a campanha eleitoral, ela chegou a subir no palanque de Tarcísio e foi abraçada pelo candidato.
Na terça, quando questionado se Nise era cotada para a Secretaria de Saúde, Tarcísio desconversou, alegando que a “preferência” dele para a secretaria é o ex-deputado federal Eleuses Paiva, que integra o PSD e coordenou seu programa de governo para a saúde. “Só não vai ser [secretário da Saúde] se não quiser”, enfatizou.
Eleuses Paiva foi presidente da Associação Paulista de Medicina (APM) e da Associação Médica Brasileira (AMB). Em julho de 2020, em defesa do negacionismo de Bolsonaro, a AMB chegou a emitir um boletim a favor do uso de cloroquina e outros remédios sem eficácia contra covid-19, afirmando que não existiam “estudos seguros, robustos e definitivos sobre a questão”. Nessa época, já havia vários estudos que apontavam que o remédio não funcionava. Mesmo assim, a AMB manteve a posição.
Naquele momento, a AMB afirmou: “O derby político em torno da hidroxicloroquina deixará um legado sombrio para a medicina brasileira, caso a autonomia do médico seja restringida, como querem os que pregam a proibição da prescrição da hidroxicloroquina.” Em março de 2021, a entidade mudou de opinião emitiu um novo comunicado na qual condenava, entre outros pontos, o uso dos medicamentos sem eficácia comprovada.
(por Cezar Xavier)