Conferência de Imprensa da Organização dos Produtores de Petróleo- OPEP- comunica decisões da reunião. (Vladimir Simicek/AFP)

Enquanto a OPEP+ [OPEP mais Rússia] aprovava o corte de 2 milhões de barris diários de petróleo de uma só vez a partir de novembro em sua reunião em Viena, a União Europeia em Bruxelas insistia na estratégia de “tiro no pé”, parida em Washington, e anuncioua oitava rodada de sanções antirrussas na quarta-feira (5), sanções que fizeram disparar o preço da energia e ameaçam congelar o velho continente no inverno.

Analistas consideraram “sem precedentes” a redução na produção da OPEP+. A decisão foi tomada por unanimidade, apesar de todas as pressões de Washington e Bruxelas. O que incluiu a viagem do presidente Joe Biden a Riad em julho para pedir ao príncipe coroado MBS um aumento da produção de petróleo saudita.

No contexto da decisão da OPEP+, o Brent já subiu acentuadamente, tendo subido de preço para US$ 92 por barril. Já há quem preveja valores de três dígitos. “Vamos trocar lucrativamente toda a produção em queda por preços mais altos”, disse Fedor Naumov, da PFL Advisors, ao jornal Izvestia.

Recentemente, segundo fontes da CNN no governo norte-americano, a Casa Branca tentou persuadir os sauditas a limitar o corte a um milhão de barris por dia, em vão. Conforme The Hill, a OPEP + “lançou problemas” sobre o governo dos EUA pouco antes das eleições de meio de mandato. O que a Casa Branca considerou, segundo a CNN, um “desastre total” e um “ato hostil”.

Apesar do porta-voz oficioso da City londrina, o Financial Times, asseverar que a decisão de aumentar os preços foi tomada por Riad para “enfurecer os Estados Unidos e ajudar a Rússia”, o ministro da Energia dos Emirados Árabes Unidos, Suheil al-Mazrui, reiterou se tratar de uma “decisão técnica, não política”.

No caso, a revisão para baixo das previsões de crescimento global para 2022 e para o próximo ano, de parte da OCDE e do FMI, inclusive com ameaça de uma recessão em um quadro de inflação galopante – uma reedição da “estagflação” experimentada na década de 1970. E, portanto, redução da demanda.

Outra motivação para a recusa às pressões de Washington é que o governo dos EUA vem vendendo petróleo da reserva estratégica norte-americana, medida que no essencial visa fazer baixar o combustível na véspera da eleição de novembro, mas que acaba se refletindo na cotação do petróleo.

Segundo Nikkei Ásia, quando o preço no mercado futuro do caiu para o patamar de US$ 76 o barril, isso se tornou inaceitável para os produtores árabes, cujo nível de preço para manter equilibrados seus orçamentos foi estimado em US$ 80 pela publicação.

O que gerou, segundo o Nikkei Asia, “uma linha vermelha na areia”, acrescentando que vários dos principais produtores estão investindo pesadamente no processo de descarbonização, o que requer agora elevados investimentos.

Nos meios políticos norte-americanos, a decisão da OPEP foi considerada um “ato hostil”, o que foi contestado pelo ministro da Energia saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman em entrevista em Viena. O senador norte-americano Chris Murphy ameaçou a Arábia Saudita com uma “ampla reavaliação da aliança dos EUA”.

Por sua vez o ministro da Energia do Catar, Saad al Kabi, afirmou em entrevista à agência especializada Energy Intelligence que a Alemanha e a UE não poderão prescindir do gás russo a longo prazo, em resposta a uma pergunta.

“Não, eles terão que recorrer ao gás russo. Espero que haja um fim para esta crise em algum momento. Que haja mediação que tragam paz à Europa e espero que tragam de volta um pouco do gás russo para ajudar a Europa. Se você imaginar que nenhum gás russo chegará à Europa por mais de dois invernos, acho que será muito difícil”, assinalou.

Al Kabi acrescentou que “não há solução rápida” para o problema de abastecimento da UE. Seria necessário “um grande esforço conjunto para desviar qualquer quantidade significativa de gás” para a UE.

Persistindo no rumo do suicídio econômico, da desindustrialização e do congelamento no inverno, a União Europeia anunciou na oitava rodada de sanções antirrussas a proibição do transporte de petróleo russo para terceiros países com preço acima do teto ditado por Washington e Bruxelas.

Aliás, uma violação completa das normas de comércio internacional e ilegal extensão da jurisprudência das potências coloniais sobre países soberanos, além de chantagem aberta contra donos de navios-tanque.

Anteriormente, o presidente Vladimir Putin já havia alertado os aprendizes de feiticeiro contra a tentativa de extorsão dos recursos energéticos russos, dizendo que a Rússia poderia simplesmente deixar de fornecer a tais países.

O que foi reiterado pelo vice-primeiro-ministro Alexander Novak, que participou em Viena dos entendimentos na OPEP+. O mecanismo que a UE tenta impor “só vai levar ao desabastecimento, ao aumento de preços”, advertiu Novak, sobre a repetição das sanções que geraram escassez artificial e, em consequência, alta acentuada do preço da energia.

“Hoje, os preços do gás estão muito mais altos do que eram há um ano, 3-4 vezes. Os preços do petróleo estão 37% mais altos em relação ao ano passado. Se o mecanismo de teto de preço for introduzido, não excluo que os preços sejam ainda mais altos porque haverá um déficit”, disse o vice-primeiro-ministro em entrevista ao canal de TV Rossiya 24.

Sob o bumerangue das sanções, a inflação média na União Europeia já chega a 10%, havendo países em que vai a até 20%, desencadeando um lastro de crises políticas, greves e protestos.

O executivo-chefe da petroleira francesa TotalEnergies, Patrick Pouyanne, considerou a introdução de um teto para os preços do petróleo russo uma má ideia, declaração feita em Londres no Fórum de Inteligência Energética.

“Eu acho que é realmente uma má ideia”, disse Pouyanne respondendo a uma pergunta sobre o teto do preço do petróleo russo, segundo a Bloomberg. O executivo acrescentou que o mercado “já está fazendo seu trabalho, e o petróleo russo já está disponível com um grande desconto”.

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