ONU: Rússia e China pedem investigação dos EUA com bio-armas na Ucrânia
Em declaração conjunta, Rússia, China, Bielorrússia, Venezuela, Nicarágua, Cuba, Síria e Zimbábue instaram a Organização das Nações Unidas a recorrer ao mecanismo estipulado no artigo 6 da Convenção sobre Armas Biológicas e Toxicas (CABT) para investigar as atividades biológico-militares dos EUA na Ucrânia.
“Para resolver a situação atual, incentivamos o uso de todo o potencial da CABT, incluindo o mecanismo do artigo 6 da [referida] Convenção”, assinalou Konstantin Vorontsov, vice-chefe da delegação russa, durante uma reunião da Primeira Comissão da Assembleia Geral da ONU, na terça-feira (18), citado pela RIA Novosti. “Observamos que ainda estão pendentes questões relativas às atividades biológico-militares dos EUA, no contexto da operação de biolaboratórios em território ucraniano”, explicou o diplomata, acrescentando que Washington não deu uma resposta detalhada que possa “dissipar dúvidas” e “resolver a situação”.
Os Estados Unidos seriam obrigados a cooperar com qualquer investigação iniciada no mesmo sentido pelo Conselho de Segurança da ONU. Se o país norte-americano não tem nada a esconder, deve dar a conhecer uma explicação compreensível, estimam especialistas chineses consultados pela Agência Sputnik.
EUA desenvolveram 46 biolaboratórios na Ucrânia
Em março de 2022, o Ministério da Defesa russo declarou ter informações descrevendo que os Estados Unidos estavam desenvolvendo um programa de pesquisa biológica na Ucrânia, gastando mais de 200 milhões de dólares em 46 biolaboratórios localizados em solo ucraniano e integrados ao plano militar biológico americano.
Uma das prioridades dos laboratórios ucranianos era coletar e enviar aos Estados Unidos cepas de patógenos de doenças infecciosas perigosas, como cólera, antraz ou tularemia, segundo o tenente-general Igor Kirillov, chefe das Forças de Proteção Radioativa, Química e Biológica das forças armadas russas.
Ele acrescentou que o transporte desses patógenos não foi inspecionado por organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS), além do fato de que esses agentes biológicos foram testados em militares, cidadãos indigentes e pacientes em hospitais de doenças mentais na Ucrânia.
A Rússia afirmou que os Estados Unidos, sob o pretexto de desenvolver sistemas de segurança em laboratórios, estão desenvolvendo armas biológicas em território ucraniano, onde vestígios foram parcialmente destruídos no dia em que a operação militar especial russa começou, ou seja, em 24 de fevereiro de 2022.
Muitos dos patógenos foram removidos do país europeu, o que indicaria que os Estados Unidos planejam continuar com as investigações mesmo que seja fora da Ucrânia. Washington negou qualquer relação entre os laboratórios e seu Departamento de Defesa sem mais detalhes ou explicações.
No entanto, a própria existência desses laboratórios é um ponto de interrogação, considerou o professor de relações internacionais da China, Yang Mian.
“Por que os Estados Unidos montaram tantos laboratórios ao redor da Rússia? Os Estados Unidos poderiam ter feito pesquisas sobre essas doenças tanto interna quanto externamente. Portanto, essa situação é suspeita de uma forma ou de outra”, questionou.
O Ministério das Relações Exteriores da China estima que o Pentágono controla 336 biolaboratórios em 30 países ao redor do mundo, portanto o assunto é particularmente relevante para Pequim, que considerou especialmente informativas as acusações feitas pela Rússia sobre o caso dessas investigações na Ucrânia.
“A preocupação da China deve aumentar muito a atenção internacional sobre essa questão, além de multiplicar a pressão sobre os Estados Unidos. A China está muito preocupada com a segurança da vida humana. Nesse assunto, Pequim acredita que os Estados Unidos têm responsabilidade e devem dar um relatório aberto e transparente para o mundo”, estimou o professor Yang.
“A Rússia está exigindo uma investigação, muitos países estão exigindo isso. É imperativo que as atividades dos Estados Unidos sejam investigadas. Mas eles estão obstruindo a investigação por todos os meios possíveis. Se os Estados Unidos estão limpos, então o que eles têm a temer? “Os Estados Unidos dizem que estavam envolvidos em pesquisas científicas, mas não poderiam tê-las usado para criar novos tipos de armas? Os Estados Unidos devem fornecer evidências e explicações”, acrescentou.
Os especialistas destacaram que a iniciativa de exigir explicações dos Estados Unidos liderada por esses oito países coloca os EUA e seus parceiros ocidentais fora de seu papel habitual de acusadores e os posiciona na responsabilidade de fornecer justificativas.
Papiro
(BL)