O grupo Memorial, na Rússia, o bielorrusso Belyatsky e o Center For Civil Liberties, que atua na Ucrânia, foram os agraciados. Todos apoiadores da política de guerra da Otan contra a Rússia. (Divulgação)

O Comitê Nobel da Noruega anunciou em Oslo, na sexta-feira (7), que os vencedores do Prêmio Nobel da Paz deste ano são “a organização russa de direitos humanos Memorial, o ativista bielorrusso Ales Belyatsky e o Center For Civil Liberties ucraniano”, por supostamente “representarem a sociedade civil” de seus países, e fazerem campanha “pelo direito de criticar” os poderosos. Em suma, o Comitê Nobel se alistou no esforço de guerra da OTAN contra a Rússia, em curso.

E não foi por falta de opções: o denunciador dos crimes imperialistas no Iraque e Afeganistão e da tortura em Guantánamo, o jornalista Julian Assange, está à beira de ser extraditado para os EUA e condenado a 175 anos de cárcere ou coisa pior, à revelia das leis internacionais e da liberdade de expressão, e sob ameaça de perder a vida. Aliás, há mais de três anos o mais conhecido preso político do planeta, depois de ter sido perseguido pelos EUA por uma década e inclusive ameaçado de ser morto por ataque com drone.

Outro denunciador, Edward Snowden, que expôs a vigilância em massa global cometida pelo braço digital da CIA, o NSA, sobre tudo e todos, inclusive chefes de Estado de outros países, precisou pedir a cidadania russa, para escapar do cárcere em regime de solitária por muitos e muitos anos em um presídio de segurança máxima dos EUA.

Se não os combatentes de fato pela liberdade e a verdade, como Assange e Snowden, não faltavam entidades e organizações que se hajam destacado recentemente, no bom combate.

Como por exemplo, o movimento norte-americano Black Lives Matter, que expôs o racismo sistêmico nos EUA, o joelho que persiste em asfixiar milhões de afrodescendentes e que impede que a sociedade norte-americana se torne menos excludente e menos injusta.

A escolha de três organizações da ex-União Soviética, histórica e civilizacionalmente parte do mundo russo, por si só expressam o desejo de apoiar o regime de Kiev, de conhecidas raízes banderistas-hitleristas, usado como carne de canhão pelo – como chamou que o líder comunista russo, Gennady Zyuganov – “Quarto Reich da OTAN”.

‘Memorial’ não é exatamente uma “organização russa de direitos humanos”, mas uma organização criada no período ‘áureo’ do desgoverno Yeltsin, para disseminar o anticomunismo e caluniar o sistema soviético a pretexto de exaltar “as vítimas de Stalin” – enquanto o povo russo era achacado pelo choque neoliberal que devastou o país, assaltou o patrimônio público, reintroduziu a fome e a miséria, e até redução na expectativa de vida causou.

Mais recentemente, Memorial havia sido considerada por um tribunal russo como “agente estrangeiro” – por receber financiamento de órgãos de governos estrangeiros e de notórios magnatas norte-americanos. Em 2021, foi dissolvida por decisão da Suprema Corte russa e suas instalações foram fechadas, depois de classificada como extremista pelo colaboracionismo com a onda russofóbica desencadeada desde os centros neocoloniais de Washington e Bruxelas.

Outro – como diria Mr. Reagan, ‘freedom fighter’ -, Ales Belyatsky, foi preso no ano passado por evasão fiscal na Bielorrússia e sua fachada de atuação, Wesna (Primavera), teve seu credenciamento estatal cassado.

Outra organização que mereceu os afagos do Comitê Nobel foi o assim chamado Center for Civil Liberties ucraniano, que foi fundado em 2007 – o ano em que o presidente Putin proferiu na Conferência de Segurança do Munique o seu famoso discurso denunciando o avanço da OTAN até às portas da Rússia e o mundo unipolar sob Washington.

Em seu site, o Center for Civil Liberties nomeia a Open Society Foundation de George Soros, a Comissão Europeia e o Departamento de Estado dos EUA como seus financiadores.

Considerando que, no ano passado, foi o editor-chefe do Novaya Gazeta (o jornal de Gorbachov!), Dmitri Muratov, que foi aquinhoado com o Nobel da Paz, parece que o Comitê Nobel está alistado no esforço de guerra da OTAN há mais tempo. Segundo o Comitê, Muratov defendeu a “liberdade de expressão” (E Assange, não?)

Este ano, as casas de apostas londrinas incluíram o presidente Zelenskiy e o jornal Kiev Independent entre os favoritos – quem sabe, talvez no próximo ano. O prêmio é de dez milhões de coroas suecas (cerca de 980.000 euros). Tradicionalmente, a premiação é entregue em 10 de dezembro, aniversário da morte do fundador Alfred Nobel. Originalmente, o Nobel da Paz teria como agraciado “aquele que mais ou melhor trabalhou para a fraternidade dos povos, a abolição ou redução de exércitos permanentes e a realização ou promoção de congressos de paz.”

Papiro