Multidão toma as ruas de Praga e exige que República Tcheca saia da Otan
Dezenas de milhares de manifestantes voltaram as ruas da capital, Praga, e de toda a República Tcheca, na última quarta-feira (28) para exigir a saída do país da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), condenar a manipulação da crise energética pelo primeiro-ministro Petr Fiala e reivindicar a assinatura de acordos de fornecimento de gás com a Rússia.
Pela segunda vez no mês de setembro, os participantes ocuparam praças como a Venceslau, no centro cultural do país, entoando basta à submissão do governo às criminosas sanções aplicadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) contra a Rússia. Com faixas e cartazes, a multidão condenou as medidas unilaterais como inteiramente contraproducentes para a nação e o continente, e identificando-as como responsáveis pelos vertiginosos aumentos nos preços da energia.
Organizada pelo movimento “República Tcheca Primeiro!” – que reúne a mais ampla gama de forças sociais e políticas – a multidão se posicionou pela saída da UE e da OTAN e exigiu que o país seja militarmente neutro.
A tensão e a preocupação aumentam à medida em que o inverno se aproxima, abaixa as temperaturas e eleva o preço da energia. É o que denunciou um manifestante à Reuters, caracterizando que com a subordinação de Petr Fiala, “o governo é absolutamente anti-tcheco, servindo tão somente ao poder dos EUA e da Otan”. “Não leva em conta os interesses dos cidadãos tchecos”, sublinhou.
ALEMÃES FORTALECEM PROTESTOS
Da mesma forma, milhares de alemães tomaram as ruas no Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, no nordeste do país, para exigir que Berlim abra o gasoduto Nord Stream 2 a fim de diminuir imediatamente os preços da energia.
“Os preços da energia e da inflação estão fora de controle. O custo do aquecimento triplicou e, em vez de limitar os preços do gás, o governo federal está aumentando os preços por lei”, assinalou a nota do partido Die Linke, formado originalmente por líderes do PC da Alemanha, um dos organizadores da ação.
Tanto o Nord Stream 1 (concluído em 2011), quanto o Nord Stream 2 (terminado em 2021, mas nunca entrou em operação por não ter sido certificado pelo governo alemão), interligam a Rússia e a Alemanha e, no início da semana foram alvo de uma sequência de explosões que estão sendo denunciadas como sabotagem norte-americana.
Explosões submarinas foram registradas por cientistas na Dinamarca e na Suécia próximas às tubulações do gasoduto Nord Stream, ao serem relatados imensos vazamentos naquela instalação. “Não há dúvida de que foram explosões”, descreveu o sismólogo Bjorn Lund, do Centro Sismológico Nacional Sueco (SNSN), à emissora pública SVT.
As imagens aéreas dos vazamentos, com grandes manchas e bolhas visíveis na água, também foram divulgadas por militares dinamarqueses. O Nord Stream 1 sofreu dois vazamentos a nordeste da ilha dinamarquesa de Bornholm, enquanto o Nord Stream 2 foi danificado ao sul de Dueodde, uma praia na ponta sul da ilha, informou o exército.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, é muito difícil imaginar que uma ação terrorista de tamanha envergadura pudesse realmente ter ocorrido sem a participação de algum poder estatal. “A escala da destruição indica que realmente foi algum tipo de ato”, acrescentou.
“A destruição do gasoduto Nord Stream é uma ação dos Estados Unidos, talvez dos Estados Unidos e da Polônia”, destacou Jeffrey Sachs, economista da Universidade de Columbia (EUA) e ex-assessor de três secretários-gerais da Organização das Nações Unidas (ONU), nomeado pelo Papa Franciso para a Pontifícia Academia das Ciências Sociais.
Questionado sobre uma reportagem da CNN, que citou autoridades de inteligência dos EUA e da Otan não identificadas, citando que navios de guerra russos foram vistos não muito longe de vazamentos de gás no mar na véspera e na data, Peskov respondeu: “esta área é o Mar Báltico”. “Muitos outros veículos aéreos e marítimos pertencentes aos países da Otan foram observados lá”, assinalou o porta-voz russo, apontando o relatório como “estúpido” e “dirigido por agenda” pelo Ocidente.
Em entrevista à Agência Sputnik, o economista francês Charles Gave apontou que “as manifestações em Praga e na Alemanha são apenas o começo”, uma vez que “o preço do gás e, consequentemente, da eletricidade estão enlouquecendo os cidadãos europeus e a coisa vai piorar”. “Os governos europeus e a Comissão Europeia falam de uma ‘manipulação’ por parte da Rússia, mas as pessoas percebem muito bem que a decisão de parar de importar gás e
petróleo russos foi uma decisão tomada por Bruxelas sem sequer pensar no impacto que terá na economia europeia e mundial”, enfatizou.
Papiro