Custo de vida proibitivo leva franceses às ruas (DPA)

Mais de cem mil franceses tomaram as ruas de Paris neste domingo (16) para exigir fim à alta do custo dos combustíveis e dos alimentos, das constantes agressões ao meio ambiente e do custoso apoio militar do governo do presidente Emmanuel Macron à Ucrânia contra a Rússia.

Elevando o tom no protesto contra a “vida cara e a inação climática”, convocada pela União Popular Ecológica e Social (Nupes, integrado por Verdes, Partido Socialista e PCF) e encabeçada pelo líder oposicionista Jean-Luc Mélenchon, os manifestantes exigiram maiores salários e benefícios, redução das contas de eletricidade, cobrança de impostos sobre as empresas de energia, fim do assalto aos direitos previdenciários e maiores investimentos em projetos ecológicos.

Os franceses desfraldaram a faixa “Onda de calor social, o povo tem sede de justiça” e abriram caminho para a greve “nacional e interprofissional” convocada pelo movimento sindical para esta terça-feira (18).

Além do líder Mélenchon, participaram da jornada de luta entre as praças da Nação e da Bastilha, o primeiro secretário do Partido Socialista, Olivier Faure; uma dos dirigentes do movimento dos coletes amarelos, Jérôme Rodríguez , e a recente ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura, Annie Ernaux.

“Atingimos nosso objetivo, e isso é apenas o começo”, comemorou a deputada da França Insubmissa, Aurélie Trouvé, fazendo ecoar o não ao abusivo aumento do custo de vida.

“Estamos aqui para salvar os franceses da pobreza. Macron está tentando destruir nosso país. Ele está tentando destruir todos os bens públicos. É óbvio para nós que a partir de novembro os preços de todos os combustíveis, gasolina e diesel ultrapassarão três euros, então temos de agir”, declarou um dos ativistas do movimento Coletes Amarelos, acrescentando que “caso contrário, em breve, não teremos nada para comer neste inverno”.

O apoio de Macron à política beligerante do governo estadunidense foi condenado por outro manifestante, que denunciou que “a França não apenas forneceu a Kiev morteiros, mas também convida os franceses a treinar soldados ucranianos”. “Isso é demais, isso é ultrajante. Os Estados Unidos estão tentando nos arrastar para uma guerra que nem é nossa”, assinalou.

O militante Sebastien LaPierre, de 40 anos, enfatizou a necessidade da população ocupar as ruas para fazer valer direitos. “Como você quer que haja justiça social se a petrolífera TotalEnergies distribuiu 10 bilhões de euros de seus lucros entre seus acionistas e se recusa a dar o aumento de 10% exigido pelo pessoal que, no final, farto de surdez, chamou de greve e refinarias bloqueadas? Não há justiça. A única maneira de obtê-lo é a esquerda reinventar a ação de rua que deixou nas mãos da direita”, destacou.

“Hoje estamos desenhando a construção de uma nova frente popular que, quando chegar a hora, exercerá o poder no país”, comemorou Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, frisando que este é o primeiro dia de “um ciclo nunca visto em nosso país”.

“Vamos viver uma semana como poucas”, disse Mélenchon, convocando uma “mobilização geral” para fazer valer a força dos trabalhadores, apontando que “teremos mobilização popular, mobilização sindical e crise institucional”. Inicialmente restrito ao movimento dos trabalhadores das refinarias, o movimento grevista ganhou força e se espraiou, com as centrais sindicais convocando a paralisação contra a tentativa de repressão e desmantelamento das entidades, e demissão unilateral dos grevistas.

Papiro

(BL)