Presidente húngaro atribui as dificuldades à "crise financeira e à recessão econômica na União Europeia" (AFP)

Dezenas de milhares de húngaros tomaram o centro de Budapeste no último domingo (23) para exigir do governo Viktor Orbán uma política de reajuste salarial que reponha as perdas com a crescente disparada inflacionária que atingiu a União Europeia desde a decisão submissa de cortar as compras de gás da Rússia. A inflação registrada na Hungria em setembro atinge uma taxa anual de 17,6%.

Convocada por estudantes em apoio aos professores que há meses protestam pela reversão de arrocho, da precariedade dos estabelecimentos de ensino e do excesso de horas-aula por profissional, a manifestação reuniu cerca de 50 mil pessoas, conforme os organizadores.

Durante a marcha pelas ruas da capital, que atravessou a Ponte da Liberdade, a multidão levantou faixas alertando que “Sem professores, sem futuro.

“Não temos medo porque estamos certos” , condenou Fruzsina Schermann, presidente do movimento Adom – que convocou o ato -, denunciando a série de “serviços mínimos” que os funcionários das escolas estão sendo obrigados a cumprir durante sua paralisação, numa clara limitação do direito de greve. O movimento também alerta para uma grave escassez de professores, com a falta de mais de 15 mil profissionais.

Além disso, segundo Schermann, com salário inicial de cerca de 420 euros mensais, os professores húngaros estão entre os que trabalham mais e recebem menos entre os países da União Europeia (UE) e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Um carteiro que se juntou aos protestos pela primeira vez, Gyongyi Berecezky disse que se fazia presente porque “para meus filhos, deve haver uma mudança”. “A inflação está descontrolada e não podemos mais fazer frente às despesas porque os preços estão subindo vertiginosamente”, acrescentou.

Referindo-se às sanções à Rússia e ao conflito na Ucrânia (aos quais de fato tem se contraposto) Orban atribuiu as dificuldades a “uma guerra no Oriente e uma crise econômica no Ocidente”.

Reunido com apoiadores em Zalaegerszeg, cerca de 200 quilômetros a oeste de Budapeste, declarou que, de fato, há “crise financeira e recessão econômica na UE”.

A imposição de limites aos preços das contas de gás e eletricidade vinham sendo até então um dos sustentáculos da popularidade de Orban, que nos últimos meses não tem conseguido manter.

Para completar, o governo admitiu que a situação ficará ainda mais grave a partir de dezembro, já que a lei orçamentária, aprovada em julho projetava um crescimento de 4,1%, enquanto as previsões não se darão em grande parte pela inflação que agora bate em dois dígitos.

Papiro
(BL)