Milhares de pessoas formaram uma longa fila em Londres em apoio ao fundador do WikiLeaks.(Composição)

Com as palavras de ordem “Libertem Julian Assange!” e “Jornalismo não é crime!”, milhares de pessoas formaram uma corrente humana e cercaram este sábado o Parlamento britânico, em Londres, em apoio ao fundador do WikiLeaks, ameaçado de ser extraditado para os Estados Unidos por 17 acusações relacionadas a supostas violações da lei de espionagem norte-americana.

“Julian enfrenta uma possível sentença de 175 anos nos Estados Unidos por seu trabalho como jornalista, por receber informações de uma fonte e publicá-las, algo que era de interesse público”, afirmou a esposa de Assange, Estella Moris, uma advogada de direitos humanos. Ao lado de um dos filhos do casal, Estella ressaltou que foram trazidos à tona “crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão, a revelação da morte de dezenas de milhares de civis, algo que não havia sido reconhecido antes”.

O objetivo do marido foi unicamente trazer à tona verdades por longos anos encobertas pela mentira oficial, enfatizou a advogada, e é por isso que o jornalista australiano foi jogado na prisão de segurança máxima de Belmarsh, a mais dura do Reino Unido, sem ter cometido qualquer crime neste país.

Para Estella, Assange – atualmente com 51 anos – cumpriu unicamente seu dever ético e profissional de jornalista quando denunciou através do WikiLeaks crimes de tamanha perversidade e gravidade.

Como assegurou a advogada, tudo não passa de uma perseguição política, uma injustiça monumental contra alguém que está sendo perseguido por autoridades que tentam manipular o poder do Estado para puni-lo por ter feito a coisa certa.

Após viver sete anos na embaixada equatoriana em Londres, onde se encontrava como refugiado político desde 2012, Assange foi entregue em abril de 2019 pelo então servil presidente Moreno nas mãos da política britânica, sendo imediatamente trancafiado e mantido incomunicável. Desde então espera que a justiça britânica se pronuncie sobre o recurso interposto por seus advogados contra a ordem de extradição emitida em julho.

De acordo com o ex-líder do Partido Trabalhista e deputado Jeremy Corbyn, um dos inúmeros “elos” da extensa corrente, a eventual extradição do jornalista do WikiLeaks equivaleria a uma sentença de morte. Corbyn reiterou que é preciso que os governos dos EUA e do Reino Unido ouçam o presidente mexicano Manuel López Obrador, que recentemente pediu a libertação de Assange e lhe ofereceu asilo em seu país.

Além de Londres, manifestantes e personalidades que rejeitam a prisão e a possível extradição se reuniram em várias cidades pelo mundo afora para expressar sua solidariedade.

Entre outros países, Alemanha, África do Sul, Austrália, Brasil, Bruxelas, Canadá, Escócia, Itália e México promoveram protestos contra a perseguição e em manifestações de apoio ao jornalista do WikiLeaks.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), somada a diversas entidades, foi na sexta-feira (7) até o Consulado do Reino Unido no Rio de Janeiro protocolar uma carta em defesa da não extradição de Julian Assange e pela sua libertação.

Conforme o texto assinado por mais de 76 entidades dos movimentos sociais reunidas na Assembleia Internacional dos Povos, “a perseguição e a prisão de Assange não visam apenas a silenciar seu trabalho, mas também a atacar o jornalismo e todas e todos que levantam a voz para espalhar a verdade contra a violência, as guerras e as tentativas de dominação por parte dos países imperialistas”.

A jornalista Camilla Shaw, da ABI, informou à Sputnik Brasil que o consulado britânico simplesmente se recusou a receber o documento, que faz parte de um ato internacional de solidariedade ao jornalista do WikiLeaks.

O Parlamento em Wellington, na Nova Zelândia, também recebeu um “abraço coletivo”, com manifestantes saindo em passeata até a embaixada do Reino Unido e, de lá, marchou rumo à embaixada estadunidense.

“A decisão do Ministro do Interior do Reino Unido de permitir a extradição de Julian Assange foi vingativa e um verdadeiro golpe para a liberdade da mídia”, condenou a presidente da Federação Internacional de Jornalistas, Dominique Pradalié.

Papiro