Líderes caminhoneiros repudiam bloqueios, que não expressam seus interesses
A Associação de caminhoneiros e a Frente Parlamentar da categoria repudiaram bloqueios bolsonaristas pelas estradas. Segundo eles, os bloqueios são ideológicos e não expressam os interesses da categoria, que foram ignorados nos quatro anos de governo Bolsonaro. Eles defendem desde 2018 o piso mínimo do frete, a mudança da política de preços da Petrobras, a aposentadoria aos 25 anos de serviço e unificação dos documentos fiscais.
Após a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas, caminhoneiros bolsonaristas fecharam trechos de rodovias em pelo menos onze estados e no Distrito Federal para contestar o resultado das eleições. Segundo um balanço divulgado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) nesta manhã, há 70 bloqueios registrados em: RS, SC, PR, MG, SP, RJ, MT, MS, RO, PR, GO e DF.
Nas redes sociais, um dos principais assuntos tinha como tema “Cadê a PRF”. A corporação atuou de forma polêmica durante o dia eleitoral, bloqueando vias para dificultar o acesso de eleitores as sessões eleitorais. Agora, são cobrados para agir no desbloqueio das rodovias.
Não representa a categoria
As manifestações de lideranças caminhoneiras repudiando os protestos começaram ainda no domingo eleitoral, com o principal deputado que representa a categoria reconhecendo a vitória de Lula. Em nota, o deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, informou que não existe qualquer manifestação organizada. Para ele, o ato de fechar estradas pelo país é ideológico e não representa a categoria.
“Esses atos que estão acontecendo desde ontem pelo Brasil não são pautas e essas pessoas não representam os caminhoneiros”, começou dizendo em entrevistas. “A categoria reconhece o resultado das eleições realizada no dia de hoje que é fruto da democracia, que, inclusive, essa categoria defendeu em 7 de setembro de 2021, quando as instituições e o estado de direito foram severamente atacadas. Ela quer que o Brasil saia desse ostracismo e desse pedido de intervenção militar.”
Crispim ainda reitera que as verdadeiras pautas dos caminhoneiros são as mesmas, desde 2018. O deputado ainda criticou Bolsonaro, dizendo que suas promessas para as eleições em 2018 não foram cumpridas.
“Lá em 2018, o então candidato Bolsonaro fez promessas que se fosse eleito iria resolver ou iria dar uma atenção para a pauta dos caminhoneiros, e na realidade nesses quatro anos ele não resolveu nada e está aí o resultado, de que ele não foi reeleito.”
Ele também afirmou que os responsáveis pelas paralisações que acontecem desde ontem nas estradas são “pessoas ideológicas de extrema-direita” e disse que a frente parlamentar dos caminhoneiros enviou um ofício para a PRF (Polícia Rodoviária Federal) pedindo que o direito de trabalhar dos caminhoneiros seja garantido.
Durante as manifestações de 7 de setembro de 2021, caminhoneiros paralisaram estradas da região Sul, em especial em Santa Catarina, tendo como um dos principais articuladores o caminhoneiro Zé Trovão, que chegou a ser preso por ordem do ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e foi eleito deputado federal em Santa Catarina nas eleições deste ano.
Hora de união
Um dos líderes da greve de 2018, o caminhoneiro Wallace Landim, conhecido como Chorão, pediu aos colegas que suspendam os bloqueios iniciados após a confirmação da derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) na votação deste domingo (30). Hoje, ele preside a Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores).
“Nesse momento, parar o país vai prejudicar muito a democracia desse país. Precisamos ter reconhecimento da democracia, da vitória do presidente”, afirma ele, em vídeo divulgado por redes sociais.
Chorão tem sido crítico ao governo Bolsonaro pela escalada dos preços dos combustíveis após o pior período da pandemia. No vídeo, ele defende alinhamento com o próximo governo para aprovar pautas de interesse da categoria. “Não é o momento de parar o país, precisamos estar alinhados, precisamos lutar pelo nosso segmento.”
Dentro da democracia
A defesa do resultado das urnas neste domingo, que elegeu Lula para mais quatro anos de mandato à frente do país, foi defendida por outra liderança da categoria dos caminhoneiros autônomos, Carlos Alberto Litti Dahmer, ligado ao Sindicato dos Transportadores Autônomos (Sindtac), de Ijuí (RS). Segundo ele, há uma tentativa de uso político dos profissionais com a organização de atos antidemocráticos nas rodovias.
“O que estamos vivenciando neste momento em alguns pontos do país é uma ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminhoneiros autônomos, como tem se querido dar o crédito a essa movimentação de não resultado das urnas”, disse Dahmer, em vídeo divulgado nas redes sociais. “Nós precisamos respeitar o que o povo decidiu. O povo é soberano e a soberania das urnas determinou que a vitória é do candidato Luiz Inácio Lula da Silva”, acrescentou.
“Nossa pauta de caminhoneiros não é uma pauta política. É uma pauta econômica”, disse ele, citando os itens já mencionado. “E isso independente do governo que esteja ou seja eleito. Essa é uma luta permanente”, disse o caminhoneiro.
“Outros atos, que não a defesa da pauta da categoria, é uso dela, é a manobra dela, é a intenção de alguns grupos políticos derrotados de quererem a cena de mandar no país”, afirmou. Segundo ele, a possibilidade de volta ao poder do grupo derrotado nas urnas “é daqui a quatro anos”, na próxima eleição.
“Esse projeto foi derrotado. Portanto, é necessário que, nós caminhoneiros, vamos buscar sim a nossa pauta. Defender a democracia é não participar desses atos de barbárie, que não levam a lugar nenhum, a não ser o desmanche da própria sociedade brasileira”, disse Dahmer. Para ele, a pauta de reivindicação dos caminhoneiros deve ser buscada dentro “da legalidade e da democracia”.
Provocação de ofício
A deputada federal eleita Marina Silva (Rede) disse hoje que ainda que o presidente Jair Bolsonaro (PL) não atente diretamente contra o resultado das urnas, ele conta com agentes que podem fazer essa provocação de ofício.
“No caso dos caminhoneiros, eu entendo isso como uma espécie da Capitólio à lá Bolsonaro. Ele está manipulando pessoas e seguimentos estratégicos”, disse Marina.
A referência é ao ato realizado, em 6 de janeiro de 2021, em que apoiadores do então presidente Donald Trump invadiram com violência o prédio do Congresso Nacional norte-americano alegando fraude nas eleições presidenciais de 2020 e chocando o país e o mundo. Investigações sobre o caso apontam a atuação de grupos de extrema-direita e, inclusive, de Trump.
Com informações das agências de notícias