Líder comunista russo: “confronto atual da Rússia é com o 4º com Otan”
Na sessão da Duma [parlamento] russa que aprovou por unanimidade a incorporação do Donbass, Zaporozhia e Kherson à Rússia, o líder comunista Gennady Zyuganov saudou “o passo excepcionalmente importante na restauração do Estado russo, ou melhor, da soberania”, chamou a todos a “cumprir as orientações que o Presidente [Putin] formulou em seu discurso no Kremlin” e advertiu que o confronto atual da Rússia é com “o Quarto Reich da Otan”.
“Devemos estar cientes de que um novo exército se reuniu contra nós. O Quarto Reich da Otan, no qual trinta países uniram todos os seus regimentos e exércitos“, disse Zyuganov na segunda-feira (3) na Duma, comparando a aliança bélica a soldo de Washington à Alemanha nazista.
“Parece-me que finalmente percebemos que nossa salvação, antes de tudo, está na unidade do mundo russo”, sublinhou Zyuganov.
Ele relembrou suas obras sobre esse tema, em que buscava convencer as autoridades de que “era impossível avançar sem uma profunda compreensão de que atingimos o ápice do desenvolvimento de nosso Estado precisamente quando combinamos a ideia russa com o patriotismo soviético e o ideal socialista”.
“O país soviético em 1991 sofreu uma catástrofe geopolítica. Sou testemunha viva de como todas as armas russofóbicas e antissoviéticas foram usadas para atingir as estruturas de nossa grande potência, do Partido Comunista ao Exército Soviético”.
A chave mestra para eles foi a “perestroika”, “glasnost” e “democracia”, acrescentou. “Como resultado, um grande país foi cortado em pedaços. E, como disse o presidente, eles foram dilacerados vivos, conduzidos sob a bandeira americana Stars and Stripes”.
Gogol – destacou o líder comunista russo – disse que “mesmo que os russos tivessem apenas uma fazenda, eles ainda restaurariam seu estado e sua soberania”. “Não é por acaso que depois da Vitória, na lendária recepção no Kremlin, Stalin proclamou o primeiro brinde ao povo russo. O marechal das forças blindadas Rybalko então perguntou: ‘Camarada Stalin, você é georgiano, mas entende tão profundamente o caráter russo’. E Stalin respondeu: ‘Sou um russo de origem georgiana’”.
Zyuganov lembrou que, Juntamente com Ivan Khristoforovich Bagramyan, acendera a Chama Eterna perto do monumento aos heróis de tanques no centro de Orel, a cidade dos primeiros fogos de artifício. “Deixe-me lembrá-lo: durante a batalha Oryol-Kursk, cerca de onze mil dos melhores filhos e filhas de nossa Pátria pereceram todos os dias. E Bagramyan me disse: “Ah, você sabe, Gennady, qual era a primeira pergunta que fazia às companhias em marcha que chegavam para reabastecer as unidades desativadas: quantos russos há na unidade?”. Fiquei surpreso e ele explicou: “Se não houvesse mais de 50% dos russos, a unidade militar acabava sendo incapaz de combater. Ficava privada de um ombro comum, de uma vontade comum e, consequentemente, de uma vitória comum. E enviei essas companhias para reorganização”.
Aqui mesmo, na Sala das Colunas, – rememorou Zyuganov – realizamos um congresso de deputados de todos os níveis. E Patimat Gamzatova se apresentou lá. Ainda posso ouvir a voz dela. Ela era uma mulher encantadora e inteligente. E então ela disse: “Russos, acordem, porque o país está sendo arrancado de seus pés! Estamos todos perdidos sem vocês!”
“Hoje entendemos muito bem que a causa do mundo russo é, antes de tudo, a proteção de todos os 190 povos e nacionalidades. Todos aqueles que os russos reuniram sob sua bandeira por mais de mil anos, sem destruir uma única fé, uma única língua, sem humilhar uma única cultura e uma única tradição. Esse entendimento, na minha opinião, é amplamente assegurado pelo nosso trabalho conjunto”, afirmou Zyuganov.
LUTA ENTRE A LUZ E AS TREVAS
O líder comunista russo se referenciou no histórico discurso de Putin no Kremlin horas antes da votação na Duma. “Diferia de seus outros discursos por uma série de ideias fundamentais. Pela primeira vez, o chefe de Estado delineou tão duramente a verdade da história, relacionada tanto com nosso Estado quanto com o ataque de todos os inimigos que caíram sobre nós. Ele descreveu em detalhes e conclusivamente este ataque dos anglo-saxões”.
“Se antes eles vieram para nos conquistar, para dividir nossa terra, agora a tarefa foi definida para destruir completamente a língua russa, a cultura russa, as tradições russas, nossa amizade, nossos laços históricos”. Ou seja, a luta é entre a luz e as trevas.
“Estamos lutando por um futuro melhor. E a Rússia está atrás de nós. Como soou durante a Grande Guerra Patriótica: ‘Moscou está atrás de nós! Não há mais para onde ir!’”, destacou Zyuganov.
“Mas devemos entender claramente que hoje um novo exército de destruidores se reuniu contra nós. Este é o Quarto Reich da OTAN, no qual trinta países uniram suas tropas”, assinalou o líder comunista. “E eles atacaram nossa irmandade eslava, Ridna Ucrânia, transformando-a em uma base militar, em um trampolim para suas provocações sangrentas”, denunciou.
Dizendo-se alegre mas ao mesmo tempo muito ansioso, Zyuganov reiterou que “guerra é coisa séria”. “Detonamos a Primeira Guerra Mundial oligárquica, czarista e burguesa com um estrondo. Mas as mesmas pessoas que sobreviveram à derrota naquela guerra, no ano 1945, sob a Bandeira Vermelha de outubro, conquistaram a Grande Vitória”. E – acrescentou – “a guerra atual só pode ser vencida considerando-se que ela é uma libertação nacional patriótica, popular. Esta é uma guerra anticolonial, todos devem entender. É uma questão de princípio”
Zyuganov chamou a “mobilizar todas as forças e recursos para garantir a vitória” e pediu que a estrutura de gestão fosse “melhorada”. “Somos obrigados a estudar a experiência da Grande Guerra Patriótica, o trabalho do Quartel-General do Supremo Comando e do Estado-Maior”, aconselhou.
Ele chamou também a estudar “a experiência da Operação Anadyr, que este ano completa 60 anos. Esta operação foi realizada durante três meses. 60 mil pessoas foram lançadas em dois oceanos. E nem um único serviço de inteligência no mundo sabia disso até que implantamos quase 60 mísseis balísticos R-12 e R-14 em Cuba, bem como sistemas de defesa aérea S-75. Os americanos ficaram surpresos quando viram isso. E eles foram forçados a remover centenas de seus mísseis da Itália, Inglaterra e Turquia. Esta é a verdadeira arte da guerra!”.
“Devemos fazer tudo para fortalecer nosso exército e apoiar cada família, cada soldado e oficial. Estou ajudando o governador comunista, chefe da minha região natal de Oryol, Andrey Klychkov, na formação de unidades de combate. Eu quero te dizer: o equipamento mais barato de um soldado custa cem mil rublos. E isso sem coletes e capacetes! Um colete à prova de balas agora custa pelo menos 47 mil. Temos algum problema em produzi-los? Confie esta pergunta aos nossos deputados Kashin, Kolomeitsev, General Sobolev. Eles vão consertar isso rapidamente!”, afiançou.
“Devemos fazer tudo para unir a sociedade”, ele convocou. “E isso é impossível sem a já muito atrasada nacionalização da base de recursos minerais e recursos estratégicos. Sem isso, você não resolverá os problemas que o país enfrenta, que exigem o acúmulo de fundos gigantescos”.
Entre as tarefas urgentes, Zyuganov chamou a “fazer de tudo para impedir a saída de capital”. Ele assinalou que quase um trilhão de dólares já foram retirado do país e neste ano, outros 264 bilhões serão remetidos. “Este é um dinheiro que pode ser usado para equipar não quatro ou cinco regiões, mas metade do país! Então, pare esse fluxo!”, urgiu, dirigindo-se ao primeiro-ministro Mishustin e ao ministro das Finanças Siluanov. Ele pediu ainda a instauração da tributação progressiva: “todos devem contribuir para a nossa vitória”.
“Se eu fosse Putin, já teria emitido um decreto há muito tempo sobre o retorno de seu nome histórico Stalingrado a Volgogrado”, disse Zyuganov – e “teria criticado o Centro Yeltsin e a Fundação Gorbachev, criando centros de treinamento patriótico para a geração mais jovem em seu lugar”.
“Todas essas questões estão em atraso. Precisam ser abordadas com urgência, inclusive dentro do orçamento. O feriado da reunificação da Rússia com seus territórios históricos deve ser apoiado por um novo rumo financeiro e socioeconômico!”, concluiu.
A incorporação da República Popular de Donetsk, da República Popular de Lugansk, e das regiões de Kherson e Zaporozhia, foi aprovada por referendo na semana passada, por amplíssima margem. A RPD e a RPL foram proclamadas em 2014 em rechaço ao golpe de estado em Kiev; durante oito anos tentaram uma solução através dos protocolos de Minsk, inviabilizada pelo regime ucraniano. Foram reconhecidas como estados independentes pela Rússia em fevereiro. A operação especial russa de desmilitarização e desnazificação desencadeada por Moscou estabeleceu controle sobre Kherson e Zaporozhia em março. Kiev e seus patronos do Ocidente classificaram de ilegais os referendos, apesar do altíssimo nível de comparecimento em todas as regiões liberadas.
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