Ingleses repudiam aumento de energia: “não podemos pagar e não pagamos”
“Congele os lucros, não as pessoas”: com faixas como essa, milhares de britânicos saíram às ruas em mais de 50 cidades em todo o país no sábado (1º) para protestar contra a alta da tarifa da energia, a carestia em geral, a queda do poder aquisitivo e o desastroso plano econômico da primeira-ministra conservadora Liz Truss.
No sábado, entrou em vigor novo aumento para a tarifa de eletricidade. Com isso, a conta média anual de energia das residências aumenta de 1.971 libras para 2.500 libras. E o órgão que regula a energia privatizada por Margareth Thatcher, o Ofgen, admitiu que as tarifas domésticas poderão continuar a aumentar “consideravelmente” em 2023.
Aos brados de “não podemos pagar, não vamos pagar, não pagamos”, manifestantes denunciaram o aumento da tarifa de eletricidade queimando suas contas em Londres, Plymouth, Liverpool, Aberdeen, Birmingham, Brighton, Bradford e outras cidades.
O protesto ocorre em um momento em que a inflação britânica é recorde de quatro décadas, a libra esterlina está em seu nível mais baixo em relação ao dólar, e com um inverno rigoroso à frente.
Convocado por sindicatos, organizações populares e campanhas como “Basta é Basta” e “Não Pague UK”, as manifestações também exigiram que “taxem os ricos”, em uma referência a um dos principais itens do pacote de Truss, a redução dos impostos para os ricos (ao mesmo tempo em que são cortados verbas e serviços para os mais pobres).
Os organizadores denunciam que os mais pobres, neste inverno, estão sendo forçados à espinhosa escolha entre se manterem aquecidos ou alimentados. Conforme relatado pelo jornal The Guardian, cerca de 200 mil aderiram à campanha Não Pague UK, que pede aos cidadãos que parem de pagar suas contas, enquanto o governo não adotar medidas adequadas para proteger as famílias mais vulneráveis.
“Em que mundo vivemos? No quinto país mais rico do mundo, em que temos a maior brecha entre os ricos e os pobres, o governo está ampliando esta brecha”, denunciou o ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn.
O anúncio do pacotaço de Truss, com o maior corte de impostos do último meio século em plena crise, causou apreensões até no setor financeiro, levando a uma queda da libra e intervenção de emergência do Banco da Inglaterra. Até o atual líder trabalhista Keir Starmer, da ala blairista, chamou o pacote de “plano kamikaze”.
Pesquisa de opinião registrou que mais da metade dos britânicos, três semanas após sua posse, já querem que ela renuncie. Outro efeito colateral da alta do preço da energia – esta, um subproduto das sanções antirrussas – é uma onda de greves na Grã Bretanha contra a queda do poder aquisitivo, como ferroviários e correios.
Papiro