Empresários bolsonaristas tentam evitar vitória de Lula coagindo trabalhadores
A política do medo típica dos adeptos do bolsonarismo, que busca ganhar espaço na base da intimidação em várias frentes de atuação, intensificou sua artilharia desde a definição do segundo turno. E um dos focos centrais dessa tática tem sido a coação de trabalhadores e fornecedores por empresários.
A Stara, empresa do ramo agrícola da cidade de Não-Me-Toque (RS), setor que tem forte presença de apoiadores do atual presidente, enviou carta aos seus fornecedores, no dia seguinte ao primeiro turno, na qual ameaça: “em se mantendo este mesmo resultado [vitória de Lula] no 2º turno, a empresa deverá reduzir sua base orçamentária para o próximo ano em pelo menos 30%”.
O presidente da Stara, Átila Trennepohl, tentou minimizar o caso, atribuindo o envio do documento como algo rotineiro da empresa. No entanto, é importante lembrar que um dos sócios da empresa, presidente do Conselho de Administração e pai de Átila, Gilson Lari Trennepohl, vice-prefeito da cidade gaúcha, é um dos maiores doadores da campanha de Jair Bolsonaro (PL), com R$ 350 mil repassados.
Ele também destinou outros R$ 300 mil à campanha de Onyz Lorenzoni (PL), ex-ministro de Bolsonaro que disputa do governo do Rio Grande do Sul. O candidato também recebeu doação de R$ 100 mil de Susana Trennepohl, esposa de Gilson, diretora financeira da Stara. O Ministério Público do Trabalho do RS e a Defensoria Pública da União (DPU) apuram a denúncia.
Outro caso também no Rio Grande do Sul, na cidade de Novo Hamburgo, mostra método semelhante de intimidação. A empresa Extrusor, que fornece máquinas e peças para o setor do plástico, enviou carta aos seus fornecedores na terça-feira (4), avisando que passará a funcionar apenas de forma virtual, cortando contratos no comércio local, caso Lula seja eleito.
No mesmo dia, o Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul (MPT-RS) e o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4) emitiram nota conjunta na qual afirmam que “o exercício do poder do empregador é limitado, entre outros elementos, pelos direitos fundamentais da pessoa humana, o que torna ilícita qualquer prática que tenda a excluir ou restringir a liberdade de voto dos trabalhadores”.
A nota continua dizendo que “o voto, direto e secreto, é um direito fundamental do cidadão protegido pela Constituição Federal como livre exercício da cidadania, da liberdade de consciência, de expressão e de orientação política. Portanto, cabe a cada eleitor tomar suas próprias decisões eleitorais baseado em suas convicções ou vontades, sem ameaças ou pressões de terceiros”.
No Pará, também foi registrado caso desse tipo. Em vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver um empresário da cidade de São Miguel do Guamá, do ramo de cerâmica, dizendo aos seus trabalhadores que fechará suas três empresas no caso de vitória de Lula, além de oferecer R$ 200 para cada funcionário se Bolsonaro vencer. “Eu sei que aqui nem todo mundo é Lula, mas nós tem que se unir para que ele não ganhe [sic]”, afirmou. O caso também é investigado pelo MPT.
Nesta quarta-feira (5) em Pernambuco, outra situação de tentativa de intimidação veio à tona. A psicóloga Karina Lopes, que atuava no setor de Recursos Humanos da rede Ferreira Costa, foi desligada da empresa após ameaçar, em publicação nas redes sociais, demitir funcionários que apoiam o PT. “Se tiver demissão em massa, vou fazer de tudo para começar pelos petistas. Me aguardem”, ameaçou Karina na postagem. Em outras publicações, ela demonstrou alinhamento a Bolsonaro. O MPT do estado também acompanha o caso.