Ato de apoio lota o TUCA e as ruas e mostra a força de Lula e Alckmin
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou na última semana de campanha levando a força das ruas para o ato realizado nesta segunda-feira (24), no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), o Tuca. O encontro no teatro que é um marco da luta pela democracia já é tradicional nas campanhas progressistas, desde 1998.
Neste evento, o ex-presidente reuniu nomes como Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, o economista e um dos responsáveis pelo Plano Real, Persio Arida, Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo, a ex-ministra Marina Silva, e a senadora Simone Tebet, além de dezenas de lideranças, artistas, intelectuais e presidentes de partidos. Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, enviou um vídeo em apoio.
Na área externa da instituição, milhares de pessoas assistiram ao evento através de telões. A mesa principal foi composta ainda por Lúcia França, Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad, Ana Estela Haddad, Márcio França, Geraldo Alckmin e Janja da Silva.
Na abertura da cerimônia, chamada ‘Em defesa da democracia e do Brasil’, a reitora Maria Amalia Andery destacou que existe uma simbologia das campanhas de Lula e Haddad por escolherem estar presentes, justamente pelo Tuca ser reconhecido como palco de resistência democrática. Em 2022, a invasão da PUC por policiais da Ditadura Militar completou 45 anos.
“A simbologia das campanhas ao escolherem este teatro, esta universidade, para começar a última semana de uma campanha dura, é única, e só vocês poderiam usar. O outro lado não pode entrar em uma universidade, não há como”, opinou a reitora. “Nosso coração é de vocês, tenho certeza de que essa dupla fará o Brasil que todos almejamos“.
Retrocesso inimaginável
Emocionado pela presença de crianças entregando rosas aos presentes, Lula começou lamentando a fala de Bolsonaro sobre as meninas venezuelanas. “O atual presidente da República confundiu uma menina venezuelana de 14 anos como se ela fosse um objeto sexual. Ele, no cargo de presidente da República, jamais poderia ter tido a atitude de pedófilo que ele teve, não respeitando uma criança de 14 anos de idade”, criticou. “A consciência lhe doeu tanto que ele foi obrigado a acordar 1h da manhã para fazer uma live, quem sabe, pedindo desculpa a Deus. Porque nós não podemos perdoá-lo”.
“Lula disse que agora é hora de derrotar Bolsonaro ou a gente vai se arrepender pelo resto da vida”, e ainda criticou: “jamais imaginei depois da nossa experiência de governo e da Constituição de 1988 que a gente pudesse ter o retrocesso que a gente teve”, afirmou, referindo-se também aos ataques baixos de Roberto Jefferson (PTB) à ministra Carmen Lúcia.
Os episódios de racismo contra Seu Jorge e Eddy Junior, que viralizaram na última semana, além do caso Roberto Jefferson, também foram citados como exemplos de situações graves que só podem acontecer em um país desgovernado. Lula então, falou que o Brasil precisa ser protagonista de sua própria história, retomar a política externa e pagar a dívida com negros, pobres e indígenas.
Lula ainda afirmou que Bolsonaro é um “cidadão anormal, um mentiroso compulsivo”. “Bolsonaro está brincando com o país. Não conversa com sindicato, com trabalhador, com movimento negro, com movimento de mulheres, com empresário sério, com prefeito, com governador”, criticou.
“Um governo nosso não será um governo do PT. Terá que ser além. O Henrique Meirelles não era do PT, o Furlan, o Gilberto Gil, o Celso Amorim não eram do PT. Não faremos um governo do PT, faremos um governo do povo brasileiro”, disse.
Ele disse que muita gente se questiona qual é o Lula que vai voltar ao governo, aquele de antes da prisão ou depois, como se a personalidade fosse diferente. “O filho que a Dona Lindu pariu continua sendo o mesmo, o mesmo que era no sindicato, que fundou o PT, que ajudou a fundar a Central Única dos Trabalhadores, o mesmo que governou entre 2003 e 2010 com um compromisso”.
Lula reafirmou seu compromisso com a responsabilidade econômica. “Não existe milagre em economia, ninguém inventa, as coisas têm que ser feitas com muita seriedade”. Ele afirmou que, durante o seu governo, a política de inclusão social era feita sem endividar o País. O candidato lembrou que o Brasil, no seu governo, pagou a dívida ao Fundo Monetário Internacional (FMI), fez empréstimo a fundo e mesmo assim criou uma reserva de cerca de R$ 350 bilhões, “que é o que está salvando esse país até hoje”.
“Nós temos responsabilidade fiscal. No nosso governo, fomos o único país do G20 que, durante oito anos, fez superávit primário”, relatou. Lula observou que o FMI “vinha todo mês” fiscalizar as contas do país e decidiu que era hora de dar um basta. “Pagamos a dívida, emprestamos 15 milhões e fizemos uma reserva de US$ 370 bilhões, que é que está salvando o país”.
Sobre política externa, Lula voltou a afirmar que “vamos falar com a Bolívia no mesmo tom que fala com os Estados Unidos”, sem entrar na “Guerra Fria” entre os norte-americanos e a China, e voltando a conversar tanto com a União Europeia, quanto com a América Latina e a África.
O ex-presidente afirmou que o país precisa ter estabilidade e que o seu adversário na disputa pelo Palácio do Planalto não consegue oferecer isso. “Ninguém pode acordar de manhã com novidades, com surpresas. As coisas precisam ser decididas à luz do dia”, falou o petista.
“Eu, sinceramente, estou muito confiante. Nós já provamos que é possível fazer política de inclusão social, que é possível cuidar do pobre, aumentar o salário mínimo e a massa salarial sem aumentar a inflação. Ou seja, nós já provamos que é possível fazer as coisas. Os mais necessitados terão prioridade em nosso governo”, completou Lula.
“Voltaremos a investir muito em educação, senão esse país nunca será desenvolvido, passaremos mais um século sendo o país do futuro, em pré-desenvolvimento”, explicou Lula. “O Brasil foi ter a primeira universidade em 1920, uma demonstração de que a elite política nunca teve interesse em que o pobre chegasse até a universidade”, ponderou.
Governo dos brasileiros
Alckmin pediu que a militância tenha foco nesses dias que antecedem o segundo turno, e contou que, pela manhã, virou dois votos ao conversar com eleitores no elevador de um prédio.
“Este é um momento histórico. Quase meio século depois da invasão da PUC nós estamos aqui outra vez para defender a democracia do mesmo lado daqueles jovens dos anos 1970. Estamos todos unidos para superar essa fase triste e o presidente Lula representa essa esperança. Por isso, o Bozo tem tanto medo, porque onde tem esperança e felicidade não tem ódio”, discursou o candidato à vice-presidente da República, causando risos por chamar o presidente de Bozo.
Disputando o governo paulista, Haddad destacou que é necessário derrotar o fascismo no Brasil, representado por Bolsonaro. “As pessoas perderam a noção de o quanto a gente se rebaixou tendo essa figura grotesca como presidente da República. Estamos naturalizando as coisas sem perceber. Como um ex-deputado pode ter granadas na dispensa de casa e atirar em policiais?”, questionou.
“O Lula está na frente e nós precisamos consolidar sua vitória domingo e, com um esforço de reta final, nós podemos derrotar o Tarcísio. São Paulo e o Brasil de mãos dadas, reconciliados, e podendo fazer tanto pelo nosso povo que tem pressa, porque não tem medicamento no posto, comida na mesa, nem trabalho. Domingo vamos viver o alívio de virar a página do fascismo e quem sabe a alegria infantil de viver o sonho do Brasil e de São Paulo remando juntos”, declarou Haddad.
No ato, Meirelles negou que Lula busque um “cheque em branco”, crítica comum entre setores do mercado por ele não detalhar propostas de controle fiscal. “Quem quer um cheque em branco é o Bolsonaro, que estourou a parte fiscal, levou a inflação para a lua, o Banco Central subiu a taxa de juros, tem 30 milhões de desempregados”, disse Meirelles. “O Lula não, o cheque dele está assinado. Já trabalhou, já realizou, já criou emprego, já gerou renda”, disse Meirelles.
Pérsio Arida afirmou, durante o evento, que ainda em 2018 dizia ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) que seria uma “temeridade” eleger Jair Bolsonaro por ser um “desqualificado” e “obscurantista”. O economista afirmou que o “Brasil teria mais chances de se tornar em uma Venezuela com Bolsonaro do que com qualquer outro”. E, defendeu, uma “ampla frente” contra o obscurantismo.
“O que está em jogo nessa eleição é muito mais do que economia, que está péssima. Mas o futuro do Brasil: um país plural, civilizado, do debate, da conversa”, advertiu o economista. “Só temos algo a fazer, é votar 13 e eleger Lula e Haddad”.
“O nosso grito é contra todo retrocesso civilizatório”, disse Simone, em pronunciamento, assim que chegou de um ato em Niterói. “Eu e Lula pensamos diferente em muitos pontos, mas há algo muito maior que nos une, o amor pelo nosso país, pelo nosso povo e pela democracia, da qual não abro mão”, argumentou a ex-candidata do MDB. “Nesse momento, Lula é único capaz de reconstruir o Brasil, na coragem, na liderança e na experiência, num grande pacto, uma frente democrática para o Brasil”, reiterou.
“Só com Lula presidente e Haddad governador podemos fazer uma grande concertação democrática e um País que vai poder articular justiça social e desenvolvimento sustentável”, disse Neca Setúbal.
Marina Silva também afirmou que a campanha de Bolsonaro está desesperada. “Ele não sabe lidar com as mulheres, eles têm medo das mulheres, têm inveja das mulheres, eles não conhecem a nossa força”, disse. “A urna eletrônica vai dar um banho de sova mesmo no Bolsonaro”, afirmou a ambientalista.
“Nós temos aqui na figura de Geraldo Alckmin o encontro entre PT e PSDB. Os históricos do PSDB estão aqui apoiando Lula porque a democracia está em risco”, disse Marina Silva, deputada federal eleita pela Rede. “Eu vi uma candidata a presidente da república terminar sua campanha e dizer ‘eu tenho lado’”, disse Marina, em referência a Simone Tebet (MDB), diante de aplausos da plateia.
Marina ainda defendeu a eleição de Haddad. “Quem defende a democracia, fica do lado da educação, dos trabalhadores, faz políticas públicas e sociais que colocam os pretos, os indígenas, nas universidades. Por isso, vamos eleger o melhor ministro da Educação governador de São Paulo, porque São Paulo tem de ter alguém que dê sustentação ao futuro governo”.
A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy iniciou sua fala também manifestando solidariedade a Carmen Lúcia. Ela ainda saudou a chegada de Simone Tebet na campanha de Lula e Alckmin. “Acredito que com sua capacidade de ampliação, de união”.
Marta ressaltou que Lula sempre respeitou todas as crenças e credos religiosos e que é o único capaz de construir consensos. E mais: terá sua vitória consagrada pelas mulheres.
O evento foi apresentado por Monica Iozzi e Preta Ferreira, recebeu intervenções artísticas e contou com falas de Douglas Belchior, da Coalizão Negra Por Direitos, Mulheres pela Democracia, a atriz Denise Fraga, a socióloga Neca Setúbal, a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) Bruna Brelaz, e José Gregori, que é jurista. Outros juristas presentes foram Pierpaolo Bottini, Sérgio Renault, Miguel Pereira Neto, Alberto Toron, Michel Saliba, Augusto de Arruda Botelho, e outros.
Depois do ato, Lula fez pronunciamento da varanda do TUCA para a plateia que não conseguiu entrar no evento e esperava do lado de fora. Ele pediu empenho no convencimento de eleitores a não se abster de votar. “Faltam apenas 6 dias. A gente tem que conversar com pessoas que não puderam votar. Pessoas que não foram votar. Aqui em São Paulo a Prefeitura vai dar o transporte para que as pessoas compareçam”, afirmou o petista.
(por Cezar Xavier)