Ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger (John Macdougall/AFP)

O principal desafio cresceu quando o Muro de Berlim caiu. Do ponto de vista russo, os Estados Unidos tentaram integrar toda a região [da Europa de Leste] sem exceção em um sistema estratégico pró-americano. Penso que não seria o mais sensato para a política dos EUA tentar incluir a Ucrânia na Otan”, declarou Kissinger.

A afirmação do ex-secretário de Estado dos EUA no tempo de Richard Nixon ocorreu no mesmo dia em que o presidente da Ucrânia Vladimir Zelensky anunciou pedido de adesão à Otan de forma acelerada.

Para Kissinger, uma eventual adesão da Ucrânia à Otan poderia acelerar as tensões em direção a um conflito nuclear e afirmou que o uso de armas nucleares mudaria para sempre a ordem mundial.

Em 2014 – depois do golpe em Kiev e dos levantes em áreas de população de ascendência russa contra o poder neofascista instalado – Kissinger, em artigo no Washington Post, havia alertado seus sucessores na política externa norte-americana a não irem com sede demasiada ao pote, apontando que “o Ocidente tem que compreender que a Ucrânia não poderá nunca ser apenas um país estrangeiro” para a Rússia e que esta teria que aceitar “a Ucrânia não pode se tornar um satélite da Rússia”.

Para isso, ele dissera então, “a Ucrânia não deve ter permissão para entrar na Otan, o braço armado dos aliados europeus”, mas deveria ter a liberdade de associação econômica e política com quem quisesse. No artigo, ele também propunha que a Ucrânia se tornasse uma “ponte” entre a Europa ocidental e a Rússia.

O alerta, é bom que se diga, vem até de alguém provindo das fileiras de associados à família Rockfeller, Kissinger foi o chefe da política externa norte-americana no atribulado período da derrota no Vietnã – dividiu um Nobel da Paz pelo acordo de retirada com o Vietnã do Norte -, participou das articulações para a aproximação EUA-China. Já na América Latina é famoso por seu nefasto aviso à ditadura argentina para “para apressar” os “trabalhos” antes que o governo Carter assumisse.

Pouco depois do anúncio de Zelensky, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, reafirmou a política de “portas abertas” para mais satélites, e se esquivou do oferecimento de Zelenski, assinalando que no momento sua principal preocupação é “apoiar a Ucrânia”. Ou seja, buscar destruir a Rússia ‘até o último ucraniano’. O momento é inoportuno, empurrou com a barriga o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, sobre a “candidatura à Otan” da Ucrânia, que esta pretende que seja “acelerada”.

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