Alemanha e França criticam “preço astronômico” que EUA cobra por gás
Em menos de dez dias, dois ministros da economia europeus, o alemão Robert Habeck e o francês Bruno Le Maire, chiaram do preço extorsivo que os EUA estão cobrando por seu gás – efeito colateral agradável (para Washington) das sanções sobre a energia russa.
Le Maire afirmou que é inaceitável que os Estados Unidos vendam gás liquefeito superfaturado: para os europeus, o preço chega a quatro vezes aquilo que o fabricante cobra [nos EUA]. Ele acrescentou, em depoimento ao parlamento francês, que o conflito na Ucrânia “não deve resultar no domínio econômico dos EUA e no enfraquecimento da UE”.
Atualmente, o preço do gás natural nos Estados Unidos é de US$ 7,88 dólares por milhão de unidades térmicas britânicas, um custo que não era alcançado desde 2008. Na Europa, após a sabotagem do Nord Stream 1 e Nord Stream 2, o preço alcançou US$ 57,90 .
Segundo estimativas de analistas financeiros do Refinitiv Eikon, os EUA exportaram para a Europa em setembro 4,37 milhões de toneladas de gás liquefeito, o que corresponde a 70% de todas as suas exportações da commodity.
Há alguns dias, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, havia alertado que os norte-americanos estão ficando ricos às custas da crise energética que eles mesmos causaram na Europa, vendem o gás pelo triplo do preço e os europeus pagam. (O ministro francês diz que é “pelo quádruplo”, o que já deve incluir a valorização pós-atentado contra o Nord Stream).
Pouco antes, a reclamação sobre os ‘mui amigos’ norte-americanos partira de Habeck, aliás líder do mais pró-americano partido da Alemanha na atualidade.
Em entrevista a um jornal regional, citada pela NBC News, o ministro da economia do governo Scholz admitira que os EUA e outros “países amigos” fornecedores de gás estão lucrando com o agravamento da crise de energia na EU.
“Alguns países, inclusive os amigos, às vezes atingem preços astronômicos [pelo gás]. Claro, isso traz problemas sobre os quais temos que conversar”, assinalou Habeck, na entrevista.
Habeck pediu mais “solidariedade” de Washington quando se trata de ajudar seus aliados pressionados pela escassez de energia na Europa.
“Os Estados Unidos entraram em contato conosco quando os preços do petróleo dispararam e as reservas nacionais de petróleo na Europa foram acionadas como resultado. Acho que essa solidariedade também seria boa para reduzir os preços do gás”, sugeriu o ministro verde.
Além de contar com a conhecida bondade de Washington, segundo Habeck a UE também “deve reunir seu poder de mercado e orquestrar um comportamento de compra inteligente e sincronizado…”. O bloco europeu está enfrentando um inverno difícil, com escassez de gás prevista devido à redução drástica do fornecimento russo em meio a sanções ocidentais e à recente operação de sabotagem dos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2 – aquela que o secretário de Estado Anthony Blinken chamou de “uma tremenda oportunidade” para o gás de fracking norte-americano.
A disparada no preço do gás é a consequência lógica da decisão dos europeus de darem um tiro no pé acatando as sanções contra a Rússia, insuflada por Washington, causando uma escassez artificial de gás no mundo, ‘sanada’ com o GNL a preços astronômicos.
Papiro
(BL)