Abuso de poder: governo gastou R$ 68 bilhões por eleição de Bolsonaro
As medidas eleitoreiras do governo Jair Bolsonaro (PL) custaram aos cofres públicos pelo menos R$ 68 bilhões, conforme levantamento do jornal Valor Econômico. Lançadas entre o fim da a pré-campanha e o início da campanha eleitoral, as ações tinham o objetivo de diminuir a rejeição do presidente Jair Bolsonaro – sobretudo entre a população de baixa renda – e melhorar suas perspectivas eleitorais.
A Emenda à Constituição (EC) 123, chamada de “PEC do Desespero” e “PEC das Bondades”, foi a maior aposta da gestão bolsonarista, ao turbinar temporariamente o Auxílio Brasil, dobrar o vale-gás e conceder um voucher para caminhoneiros e taxistas. Do ponto de vista eleitoral, Bolsonaro viu sua popularidade avançar ligeiramente, mas segue atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto. Por isso, o governo estuda “novos anúncios nos próximos dias em relação à oferta de crédito e na área tributária”.
Da parte da campanha de Lula, é esperado que o Ministério Público Eleitoral coíba tais práticas de crime de abuso de poder econômico. O Novo chegou a recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) com uma ação que acusa Bolsonaro de, por meio da EC 123, “afrontar o direito ao voto direto, secreto, universal e periódico, ao criar gratuidade em ano eleitoral. Os benefícios levariam a condições desiguais de competição”.
Mesmo com tamanho uso da máquina, a economia regrediu no período. Em agosto, houve uma queda de 1,13% no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), uma prévia do PIB. Foi o maior recuo do indicador desde março de 2021, quando a pandemia de Covid-19 estava no auge. Ouvido em anonimato pelo Valor, um ex-diretor do Banco Central (BC) confirma que as medidas “tiveram fim eleitoral”, mas “nenhuma lógica econômica”, deixando, sim, “um buraco fiscal imenso”.
Para o professor Marco Antônio Rocha, professor do Instituto de Economia da Unicamp e especialista em Estudos Industriais, o resultado do IBC-Br era previsível. “Essas medidas são de curto prazo e têm pouca capacidade de promover um ciclo de crescimento econômico no Brasil”, declarou Rocha ao Brasil de Fato. “Apesar de a retração ter sido bem significativa, não foi surpreendente.”