Encontro da Organização de Cooperação de Xangai em Samarcanda, no Uzbequistão | Foto: Sergei Bobylev-Sputnik

“Diante das tremendas mudanças de nosso tempo em escala global, sem precedentes na história, estamos prontos, juntamente com nossos colegas russos, para ser um exemplo de potência mundial responsável e desempenhar um papel de liderança no mundo para injetar estabilidade e energia positiva no caminho do desenvolvimento sustentável”, afirmou na cúpula o presidente da China, Xi Jinping. Tais mudanças – ele acrescentou – “são irreversíveis” e, portanto, “o papel crescente de novos centros de poder está se tornando cada vez mais evidente”.

Analogamente, o presidente russo, Vladimir Putin, reiterou que “o conjunto de política externa de Moscou e Pequim desempenha um papel fundamental para garantir a estabilidade global e regional. Juntos, defendemos a formação de uma ordem mundial justa, democrática e multipolar”.

Por sua vez, o presidente anfitrião, Shavkat Mirziyoyev, do Uzbequistão, apontou a necessidade de um plano de longo prazo para o desenvolvimento da SCO. Foi alcançado um acordo para que Maldivas, Bahrein, Kuwait e Mianmar se tornem novos parceiros de diálogo. O presidente turco Recep Erdogan foi uma figura de destaque em Samarcanda. No próximo ano, a presidência rotativa da SCO caberá à Índia.

Por muitos séculos, Samarcanda foi o centro da Rota da Seda, o que acabou contribuindo para sua rica história e cultura diversificada. “A própria Samarcanda é tão antiga quanto Roma, tem 2.700 anos”, disse Dinara Akhmetova, diretora de relações públicas do centro histórico.

Na cúpula, os presidentes Xi e Putin tiveram reunião presencial pela primeira vez desde o início da operação militar especial russa de defesa das repúblicas do Donbass e desnazificação da Ucrânia, com o presidente russo agradecendo a “posição equilibrada de nossos amigos chineses em relação à crise ucraniana. Entendemos suas dúvidas e preocupações a esse respeito”.

O presidente russo assinalou que “as tentativas de criar um mundo unipolar tomaram recentemente uma forma absolutamente horrível e são completamente inaceitáveis”.

Putin também se reuniu com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, a quem explicou que se esteve perto de um acordo em março, mas Kiev recuou e não quer negociar, mas que a Rússia almeja concluir sua operação o mais rápido possível.

A Índia também tem mantido uma posição equilibrada, se recusando a se submeter às sanções proclamadas por Washington e Bruxelas e apoiando negociações.

No comunicado conjunto, os países membros e os parceiros reiteraram que a SCO não é dirigida contra outros países, tem como objetivo o desenvolvimento com segurança e ajuda mútua, com base na não-interferência nos assuntos internos dos Estados membros.

CONTRA AS SANÇÕES

A declaração final de Samarcanda adverte que “medidas econômicas unilaterais contrárias aos princípios e regras gerais da OMC e medidas contra os sistemas financeiros dos Estados membros da SCO impactam na segurança e estabilidade das cadeias de suprimentos e estão agravando a crise alimentar mundial”. A SCO assegurou, ainda, sua disposição em colaborar com outros países para garantir a segurança alimentar nos níveis regional e global.

O documento exortou os principais países produtores e exportadores de alimentos a que reduzam o número de barreiras tarifárias e não tarifárias para aliviar a escassez e evitar a volatilidade excessiva dos preços.

Os países da SCO pediram também a criação de um mercado de energia transparente e eficiente, que evite a instabilidade excessiva nos preços mundiais dos títulos do setor de energia. Ressaltaram a necessidade de respeitar e garantir o direito de todos os Estados à segurança energética e o direito de seus povos aos serviços no setor energético e destacaram que a segurança energética é a base do desenvolvimento econômico, estabilidade social, segurança nacional e bem-estar de todos os países do mundo.

“Nós defendemos o fortalecimento da coordenação da política energética e a formação conjunta de um sistema global justo de gestão de recursos energéticos, incluindo a prestação de assistência aos Estados necessitados e em desenvolvimento, para tornar a energia acessível a todos”, sublinha o comunicado.

Os líderes da SCO também se manifestaram pelo fortalecimento da interação entre países fornecedores, países de trânsito e países consumidores, para garantir a segurança e estabilidade dos canais internacionais de transporte de recursos energéticos e alcançar a operação ininterrupta da cadeia, produção e vendas em geral.

A declaração também apoia a restauração do plano nuclear a seis partes com o Irã – aliás, rasgado pelo governo Trump, atitude em que agora Biden reincide – cujas negociações estão em impasse, devido à intransigência de Washington. De acordo com o texto, os países da OCS pedem a todas as partes do acordo que “cumpram rigorosamente suas obrigações para a implementação plena e efetiva do documento”.

Além disso, a SCO defende o fortalecimento do regime de não proliferação nuclear e a promoção da cooperação no uso pacífico da energia atômica.

Os países membros da SCO enfatizaram em sua declaração conjunta que planejam expandir a cooperação no campo das tecnologias verdes, para o desenvolvimento sustentável e redução das emissões de gases com efeito estufa.

A SCO também pediu o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC): “Os Estados membros clamam por um aumento da eficiência da OMC, que é a plataforma chave para abordar a agenda de comércio internacional e adotar regras do sistema multilateral de comércio”.

Os países membros também enfatizam a necessidade de realizar uma reforma inclusiva da OMC.

Os países membros da SCO também defenderam manter o espaço sideral uma zona livre de armas e enfatizaram a necessidade de assinar um documento juridicamente vinculativo que forneça garantias confiáveis para evitar uma corrida armamentista.

Ainda de acordo com o comunicado, os Estados membros “se opõem categoricamente à militarização da esfera da informação e comunicação” e propõem “a criação de uma convenção internacional no âmbito da ONU para combater o uso de tecnologias de informação e comunicação para fins criminosos”.

O comunicado também inclui uma questão de particular importância para o próprio Uzbequistão, a necessidade de abrir espaço para o Afeganistão na SCO; também pede um “governo inclusivo” em Kabul.

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