Foto: redes sociais

A vitória da extrema-direita na eleição da Itália neste domingo (25) com uma coalizão tripartite, tendo à frente Giorgia Meloni, do partido Irmãos da Itália, suscita questões sobre o significado desse resultado no plano internacional e no campo reacionário, que, nos últimos anos, marcou presença em países como os Estados Unidos, com Donald Trump, a Hungria, de Viktor Orban, e o Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro (PL). 

O fato de que a extrema-direita já não tem mais a mesma força que tinha há alguns anos, especialmente quando Trump estava à frente da Casa Branca, fez com que a eleição da Itália neste domingo tivesse um sabor a mais para os líderes desse campo. “O sentimento foi de ‘alívio’ e uma esperança de que, mesmo sem o Brasil de Bolsonaro, o movimento poderia sobreviver no cenário internacional, agora com Meloni”, escreveu o colunista Jamil Chade no UOL.

Ele aponta que entre os ultraconservadores, “o cenário de uma derrota de Bolsonaro já passou a ser considerado inclusive com um fortalecimento do campo progressista em toda a América Latina. A preocupação, portanto, era sobre quem teria a capacidade de levar adiante a agenda reacionária, já que países como Hungria, Sérvia ou Polônia têm um impacto limitado no cenário internacional”. 

Na avaliação do professor Rodrigo Gallo, coordenador do curso de pós-graduação em Política e Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), há movimentos pendulares na política que ora aproximam os eleitores da direita, ora da esquerda. Para ele, analisando a realidade do sistema internacional, neste momento o pêndulo parece estar voltando para a esquerda e o campo progressista. “Isso tem acontecido em alguns países da América Latina e pode acontecer no Brasil na eleição de domingo e em outros países”. 

Quanto ao resultado obtido na Itália, ele avalia que, ao que parece, “não diz respeito a um movimento mais amplo no sistema internacional, parece ser algo mais localizado na realidade italiana”. 

No entanto, diz que pode haver impactos, por exemplo, no âmbito da União Europeia, em temas como a imigração. “O primeiro-ministro é o chefe de governo num país parlamentarista como a Itália. Essa pessoa vai tomar decisões baseadas em perspectivas de caráter ideológico conservador, de extrema-direita. É possível que, a depender do que for decidido, do que for feito, a Itália comece a sofrer pressões internacionais por conta dessas decisões”. 

Gallo diz que é preciso “acompanhar com atenção o que acontece lá para entender a origem desse movimento, o que pode ter causado a eleição de um grupo como este na Itália e como esse grupo pode, de alguma forma, desencadear tensões internas à Europa”. 

No caso do Brasil, explica que o impacto da vitória da extrema-direita na Itália tem um valor apenas simbólico para alguns segmentos. “Serve somente como uma espécie de reforço identitário para grupos brasileiros que também são de extrema-direita”, conclui. 

A chegada da extrema-direita no poder central da Itália ocorre 77 anos após a queda de Mussolini. Giorgia Meloni, de 45 anos, será ainda a primeira mulher a governar a Itália. Alinhada com a agenda da ultradireita e pós-fascista, ela se identifica com a bandeira “Deus, pátria e família” e tem defendido, entre outras posições, o corte de impostos, o bloqueio aos imigrantes que chegam ao país pelo Mediterrâneo e uma política de aumento da natalidade. Também tem dito que lutará contra grupos LGBTQIA+ e as “teorias de gênero”, além de se mostrar avessa à União Europeia.

Com a quase totalidade das urnas apuradas, a coalizão de extrema-direita —  formada pelos partidos Irmãos da Itália, de Giorgia Meloni; Liga, de Matteo Salvini, e Força Itália, de Silvio Berlusconi — teve cerca de 44% dos votos. O Irmãos da Itália teve cerca de 26% dos votos. A coalizão conquistou ainda a maioria na Câmara dos Deputados e do Senado.