Ampla participação das populações do Donbass na votação sobre integração à Rússia (AP)

Com participações de 86,9% (Donetsk), 83,6% (Lugansk), 66,4% (Zaporozhia) e 63,6% (Kherson) no referendo, segundo as comissões eleitorais, já foi alcançado e ultrapassado o quórum – de 50% +1 – para validação da unificação do Donbass e das duas regiões sulinas com a Rússia – decisão mais provável -, e a votação será encerrada nesta terça-feira (27).

A participação em Donetsk inclusive já superou o comparecimento ao plebiscito na Crimeia (81%) que em 2014 respondeu ao golpe de Estado em Kiev aprovando a unificação com a Rússia. Também votaram, em 600 estações eleitorais, em várias cidades russas, os eleitores destas regiões que buscaram abrigo na Rússia.

A votação segue transcorrendo apesar do bombardeio contínuo executado pelo regime extremista de Kiev, ameaças à população e fake news, além da pressão dos patronos ocidentais de Zelensky, que classificam os referendos como “farsa”. No domingo, um ataque de míssil ucraniano a um hotel em que estavam jornalistas em Melitopol matou um ex-vereador de Kherson, Alexei Zhuravko.

Na República Popular de Lugansk, há uma alta participação no referendo, disse à TASS o chefe da LPR, Leonid Pasechnik. “Eu tenho números para ontem à noite. Mais de 1 milhão votou, a votação é muito ativa. Portanto, estou muito satisfeito com os resultados da votação, que está organizada em um nível bastante bom”, apontou.

COM A MÃE RÚSSIA

Uma pesquisa de opinião realizada no terceiro dia do referendo é indicativa da aprovação da unificação com a mãe pátria russa. Quase 93% dos votantes na região de Zaporozhia responderam “sim” à unificação, segundo o Instituto Republicano da Crimeia de Pesquisa Política e Sociológica, que ouviu 500 moradores no domingo. 7,3% apoiaram a manutenção do status ucraniano.

Os referendos de unificação com a Rússia foram aprovados em 19 de setembro pelos órgãos legislativos das duas repúblicas do Donbass e reiterados pelos respectivos chefes de estado, Denis Pushilin (Donetsk) e Pasechnik (Lugansk). No dia seguinte, foi anunciada a data, entre os dias 23 e 27 de setembro. As administrações cívicas das províncias de Kherson e Zaporozhia anunciaram seus referendos nesse mesmo dia.

Para as autoridades de cada uma dessas regiões, com sua integração na Rússia a segurança em seus territórios será “garantida e a justiça histórica”, restaurada. Eles também enfatizaram que era necessário tomar tal decisão devido aos ataques permanentes do regime ultranacionalista em Kiev e membros da OTAN, que fornecem armas para a matança da população civil do Donbass.

Sobre os referendos, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que Moscou apoiará a decisão sobre seu futuro que os habitantes dessas regiões tomarem.

“PELA PAZ E PELO FUTURO DAS CRIANÇAS”

Alguns relatos sintetizam o que se repetiu um pouco por toda a parte no Donbass e na região sul. Moradores de Starobelsk, na região de Lugansk, foram ao referendo para votar, apesar do bombardeio das Forças Armadas da Ucrânia, disse o prefeito interino da cidade, Valery Pakhnits. “Votamos pela paz, tranquilidade, pelo futuro das crianças. Ninguém vai nos assustar com as bombas. Estamos apenas avançando para a poderosa Rússia”, segundo a agência TASS.

Na República Popular de Donetsk , o chefe da Comissão Eleitoral Central, Vladimir Vysotsky, disse que a Ucrânia “repetidamente tentou intimidar nossos cidadãos, algumas mensagens falsas foram enviadas. Tudo isso foi feito e está sendo feito hoje”. “Encontramos esse fenômeno de elementos hostis que tentaram interferir conosco, mas não vamos nos intimidar com isso”, ele disse à RIA Novosti.

A deputada de Donetsk, Anastasia Selivanova, falou sobre a “alegria verdadeira” das avós de 97 e 87 anos da vila de Gryngy, “sentadas desde a manhã”, aguardando o referendo, uma alegria “que contagiou a todos na comissão eleitoral”. “Elas realmente querem estar na Rússia, declaram isso abertamente, e para elas é um verdadeiro feriado”.

Selivanova também relatou sua emoção a ir a uma aldeia, Granitnoe, que esteve “sob o jugo dos nazistas por oito anos e meio”, a comissão não sabia como iam reagir, e se surpreenderam que, no primeiro dia de votação, “de 1.274 pessoas, votaram 900”.

200 OBSERVADORES INTERNACIONAIS

São importantes, ainda, os testemunhos dos jornalistas e observadores internacionais que, contra toda a pressão da máquina de propaganda da OTAN e do regime de Kiev, se dispuseram a ir até o Donbass, Kherson e Zaporozhia. Gente vinda da França, Itália, Brasil, África do Sul, Egito, Holanda, Argentina, Síria, Colômbia e Alemanha, mais de 200.

À repórter Ana Lívia Esteves, da Sputnik Brasil, a ministra interina da Construção e Serviços Comunitários da LPR, Tatiana Buryak, agradeceu a presença dos observadores internacionais, assinalando que eles têm a chance de ver que as pessoas chegam às zonas eleitorais “de coração e com alegria” e podem ajudar a mudar a imagem preconceituosa forjada por Kiev e Washington.

“VOTOS CONTRA BOMBAS”

O observador colombiano William Parra resumiu tudo o que viu nas urnas assim: “votos contra as bombas”. Todos dizem que “queremos viver em paz” – acrescentou -, eles votam por sua liberdade e pelo direito de falar sua voz. “Este é um voto popular, o que é sem precedentes”, ele disse à TASS.

O observador alemão Stefan Schaller elogiou o referendo: “muito transparente e muito bem organizado”. A consulta sobre a adesão à Federação Russa cumpre todos os requisitos da democracia, assinalou o observador internacional da Espanha, Fernando Moragon. “O Ocidente não tem ideia do que realmente está acontecendo. Nós estamos vendo o declínio da democracia e, aqui, o que vemos é a verdadeira democracia”, enfatizou, segundo a RIA Novosti.

O APARTHEID DE ZELENSKY

Em Melitopol, a sul-africana Khulekani Mondli Skosana, chefe do escritório de ligação internacional da Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano, comparou as políticas do regime de Kiev ao apartheid.

“É claro que vemos semelhanças muito sérias entre o governo do apartheid e o governo de Zelensky. Eles têm os mesmos patrocinadores, usam as mesmas táticas. Eles querem dividir as pessoas com base em sua etnia”, disse Skosana.

As pessoas das regiões de Donbass, Zaporozhye e Kherson têm “um direito incontestável à autodeterminação”, enfatizou a observadora, acrescentando que “os direitos humanos não são apenas para os americanos”.

Entre as observadoras, também duas brasileiras, as jornalistas Gabriela Beraldo e Vanessa Martina da Silva (do portal Diálogos do Sul). “Temos que checar se as pessoas estão sendo coagidas a votar, se o voto é secreto, se as pessoas estão participando dos ritos burocráticos”, afirmou Vanessa. Ela relatou que as pessoas estão muito animadas para votar e, portanto, quando certos governos chamam o referendo de falso, ou que as pessoas estão sendo coagidas a votar, “não é nada disso que a gente está vendo”.

“Nosso trabalho aqui é visitar, entender as versões, conversar com as pessoas, descobrir as informações, esse lado da história e fazer o trabalho de vir aqui e falar, houve um referendo, ele tinha uma base popular, porque foi isso o que a gente observou durante esses dois dias”, afirmou à Sputnik Gabriela.

Elas apontaram ainda que, como observadoras internacionais, não registraram qualquer constrangimento por parte das autoridades para que população vá às urnas, e ainda lembraram que o comparecimento ao pleito é voluntário.

O Reino Unido incluiu na lista de sanções anti-russas 33 pessoas que participaram nos referendos sobre a entrada das regiões DPR, LPR, Kherson e Zaporozhia na Federação Russa. Washington, Londres e Bruxelas já prometeram desencadear nova rodada de sanções contra a Rússia e as repúblicas do Donbass por se oporem a sua manobra de anexação da Ucrânia à OTAN e de perpetuação de um regime neonazi que lhes sirva de cabeça de praia russófoba. A Rússia, que reiterou suas “linhas vermelhas” a quem interessar possa, espera – como assinalou o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov – um “aumento da pressão do Ocidente após os referendos”. Por sua vez, a Duma russa está de prontidão para votar a reunificação.

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