Gasoduto Nord Stream1 (Foto: Pjotr Mahhonin via Wikimedia Commons)

O presidente russo Vladimir Putin classificou de “absolutamente estúpida” a decisão dos países do G7 de pretenderem ‘ditar’ um ‘teto de preço’ ao petróleo e gás russos e, após se referir à crise energética vivida pelos países europeus, sob os mais altos preços da energia e piores choques inflacionários em décadas, enfatizou que “tudo voltará como um bumerangue” por ser “impossível prejudicar as leis econômicas objetivas”.

A análise foi feita por Putin durante painel de discussão do Fórum Econômico de Vladivostok, no extremo leste do país, na quarta-feira (6). “Se alguém tentar implementá-la, não levará a nada de bom para aqueles que o fizerem”, acrescentou. Tais restrições “só levarão a novos desequilíbrios de oferta e aumentos de preços, sublinhou.

A Rússia – Putin foi muito claro – simplesmente pararia de vender seus recursos energéticos no exterior se fosse contrário aos seus interesses.

“Existem obrigações contratuais, contratos de fornecimento, e se forem tomadas quaisquer decisões de natureza política que contrariem os contratos, simplesmente não as cumpriremos. E em geral não forneceremos nada se for contrário aos nossos interesses, neste caso, interesses econômicos. “Não forneceremos gás, nem petróleo, nem carvão, nem óleo combustível”, advertiu Putin.

“Aqueles que tentam impor algo sobre nós não estão em posição de ditar sua vontade para nós”, ressaltou Putin, que até brincou com “Congele, rabo de lobo, congele!”, numa citação do conto de fadas russo A Raposa e o Lobo, no qual a raposa engana o lobo para pescar no gelo com sua cauda, deixando o lobo congelado no gelo.

Até agora, observou o presidente russo, a cooperação energética tem sido “muito lucrativa” para os europeus, que desfrutaram de preços de energia “ordens de magnitude” abaixo das entregas mais caras de gás natural liquefeito por décadas. Ele acrescentou que, embora a Rússia tenha recursos naturais suficientes para atender às demandas de qualquer país pronto para trabalhar com ela, também pode e deve direcionar esses recursos “para seu próprio desenvolvimento”.

Putin também mencionou a recente série de fechamentos de oleodutos russos pela União Europeia e por países europeus individuais, incluindo a Polônia, e disse que a decisão de Varsóvia não foi motivada inteiramente pela política.

“Então, a Polônia pegou Yamal-Europa e o fechou”, disse Putin, referindo-se ao enorme gasoduto construído pelos soviéticos com capacidade de bombear 33 bilhões de metros cúbicos por ano – cerca de 1/6 das exportações anuais típicas de gás da Rússia para a Europa.

“Eles impuseram sanções. Por razões políticas, mas não apenas por razões políticas. Acontece que os poloneses estavam recebendo gás de nós a um preço mais alto do que os alemães. Então Varsóvia fechou o Yamal-Europa, mas começou a comprar imediatamente nosso gás reverso um pouco mais barato da Alemanha do que da Gazprom”, acrescentou.

“Os alemães, que estavam obtendo o gás mais barato, começaram a vendê-lo aos poloneses por um pouco mais. É isso. Essa é a base desta decisão”, disse Putin.

Foram a Ucrânia e a Polônia, não Moscou, que se moveram para fechar os oleodutos russos de energia terrestres para a Europa, enfatizou Putin.

Quanto ao Nord Stream 1, o gasoduto com capacidade de 55 bilhões de metros cúbicos por ano que bombeia gás da Rússia para Alemanha através do Mar Báltico, o recente fechamento desse gasoduto também foi resultado de decisões europeias, destacou o presidente russo.

Putin salientou que os parceiros alemães da Gazprom subordinaram a parte técnica do Nord Stream 1 à lei britânica, e lembrou que o chefe da Gazprom, Alexei Miller, havia informado recentemente a ele que o contrato de manutenção de equipamentos fabricados pela Siemens tinha que ser concluída com a subsidiária alemã da gigante de manufatura sediada no Reino Unido, que agora colocou a Gazprom sob sanções.

O trabalho de reparo nas turbinas do oleoduto foi realizado no Canadá, que também impôs sanções a Moscou e recentemente tentou bloquear o retorno de uma turbina do Nord Stream à Alemanha. “Como resultado, a última turbina em funcionamento falhou”, disse Putin.

“Dê-nos uma turbina e vamos ligar o Nord Stream 1 amanhã. Mas eles não nos dão nada e dizem ‘veja, eles estão usando energia como arma’. Que arma? Eles próprios se envolveram em um monte de trapalhadas e agora não sabem o que fazer. Eles se colocaram no chamado beco sem saída das sanções”.

“Só há uma saída”, assinalou Putin, se referindo às manifestações na Alemanha que vêm exigindo que o gasoduto Nord Stream 2 seja ativado. “Nós apoiamos essas demandas dos consumidores de energia alemães. Estamos prontos para fazê-lo amanhã. Basta pressionar um botão”.

Mas – acrescentou – “não fomos nós” que impuseram sanções ao Nord Stream 2. “[A Europa] o fez sob pressão dos EUA. E por que os americanos estão pressionando os europeus? Porque eles mesmos querem vender gás por três vezes o preço”, concluiu.

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