Putin condena provocações dos EUA contra Rússia e China
Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, se encontraram nesta quinta-feira (15) em Samarcanda, no Uzbequistão, na primeira reunião presencial dos dois dirigentes desde o início da operação militar na Ucrânia. Xi e Putin participam da cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (OCS), estreitando laços em meio à turbulência mundial causada pelos EUA.
Sentados um em frente ao outro e cercados por seus conselheiros, os dois líderes se reuniram antes do início do encontro, que também contará com os líderes da Índia, Paquistão, Turquia, Irã e outros países.
Para o presidente chinês, trata-se também de sua primeira viagem ao exterior desde os primeiros dias da pandemia de Covid-19. Xi disse que estava muito feliz por reencontrar “meu velho amigo”.
“Diante das tremendas mudanças de nosso tempo em escala global, sem precedentes na história, estamos prontos, juntamente com nossos colegas russos, para ser um exemplo de potência mundial responsável e desempenhar um papel de liderança no mundo para injetar estabilidade e energia positiva no caminho do desenvolvimento sustentável”, afirmou.
Ele também ressaltou durante a reunião que os líderes da Rússia e da China “diante da pandemia global, continuamos mantendo uma comunicação estratégica eficaz, principalmente por meio de ligações telefônicas”.
O presidente russo, por sua vez, criticou os Estados Unidos, que lideram a ajuda militar à Ucrânia, bem como as sanções internacionais contra Moscou.
“As tentativas de criar um mundo unipolar tomaram recentemente uma forma absolutamente feia e são completamente inaceitáveis”, destacou Putin. “Apreciamos muito a posição equilibrada de nossos amigos chineses em relação à crise ucraniana”, acrescentou.
O presidente russo reiterou o apoio de Moscou a Pequim em relação a Taiwan, onde as visitas de autoridades norte-americanas nas últimas semanas provocaram a indignação chinesa e a reação em defesa de sua soberania.
“Condenamos a provocação dos EUA”, disse o presidente russo, enfatizando que Moscou adere ao princípio “uma só China”, segundo o qual Taiwan é parte integrante do território chinês.
Como sinal de sua aproximação diante das tensões ocidentais, navios russos e chineses realizaram uma patrulha conjunta no Oceano Pacífico na quinta-feira para “fortalecer sua cooperação marítima”.
De acordo com a imprensa em Pequim, citando o presidente Xi, a China está disposta a apoiar com a Rússia “os interesses fundamentais” de ambos os países.
A China até agora não apoiou abertamente a operação na Ucrânia, mas desenvolveu laços econômicos e estratégicos com a Rússia nesses meses de conflito e Xi expressou seu apoio à “soberania e segurança” do país irmão e de toda a região.
Esta reunião é a primeira entre Xi e Putin desde que se encontraram em Pequim em fevereiro para os Jogos Olímpicos de Inverno, pouco antes da Rússia lançar sua operação na Ucrânia. Naquele momento, ambos celebraram uma amizade “sem limites”.
O presidente chinês também se reunirá no Uzbequistão com seu colega bielorrusso, Alexander Lukashenko, aliado próximo da Rússia, que é membro da OCS como observador.
Após esta viagem, Xi Jinping se fortalece como líder mundial antes do importante congresso do Partido Comunista chinês em outubro, no qual possivelmente será eleito para um novo mandato.
A reunião principal da OCS acontecerá na sexta-feira (16), mas o evento que mais despertou o interesse público foi o encontro entre os líderes da Rússia e da China.
A OCS, formada por China, Rússia, Índia, Paquistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão e Tajiquistão, foi fundada em 2001 como uma organização política, econômica e de segurança para os países não serem reféns das instituições ocidentais manipuladas pelos Estados Unidos.
“A OCS oferece uma alternativa real às organizações centradas no Ocidente”, pontuou o assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov, nesta semana.
Não é uma aliança militar formal como a OTAN ou um bloco integrado como a União Européia, mas seus membros trabalham juntos em questões de segurança, cooperação militar e promoção comercial.
Além de Xi, Putin se reuniu com o presidente iraniano Ebrahim Raisi na quinta-feira. Na sexta-feira, ele deve se encontrar com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan.
A agenda bilateral de Xi ainda não está clara. Um possível encontro com o indiano Modi está sendo considerado, o primeiro desde 2019 e desde os confrontos armados de 2020 na disputada fronteira do Himalaia.
PERÍODO DE RUPTURA HISTÓRICA
As grandes expectativas da cúpula foram antecipadas pelo presidente do país anfitrião, Shavkat Mirziyoyev, que escreveu um artigo por ocasião do evento em que destacou que o mundo enfrenta atualmente ” ‘um período de ruptura histórica’, quando uma era termina e outra começa, ainda imprevisível e desconhecida”.
Nesse sentido, de acordo com o líder usbeque, a reunião dos líderes poderia servir de exemplo sobre como promover “um diálogo inclusivo, baseado em princípios de respeito mútuo em prol da segurança e prosperidade comuns”, enquanto Samarcanda poderia se tornar uma plataforma para unir e reconciliar estados com “diferentes prioridades de política externa”.
Papiro