Mais de 1 milhão de toneladas de água contaminada armazenada em Fukushima (foto: Prefeitura de Fukushima)

Em discurso à Assembleia Geral da ONU em Nova York, David Panuelo, presidente do estado insular da Micronésia, no Pacífico, denunciou a decisão do Japão de descarregar no Oceano o que chamou de água contaminada com rejeito da Usina Nuclear de Fukushima.

“Todos os que moram nessa região têm a mais grave preocupação com a decisão de Tóquio de liberar a água do chamado Sistema Avançado de Processamento de Líquidos (ALPS) no oceano”, assinalou, na sexta-feira (23).

“Não podemos fechar os olhos para as ameaças inimagináveis de contaminação nuclear, poluição marinha e eventual destruição do Continente Azul do Pacífico”, advertiu Panuelo.

“Os impactos desta decisão são de natureza transfronteiriça e intergeracional. Como chefe de Estado da Micronésia, não posso permitir a destruição de nossos recursos oceânicos que sustentam a subsistência de nosso povo”, afirmou.

O Japão disse em julho último que seus reguladores nucleares aprovaram um plano para liberar no Oceano Pacífico água usada para resfriar reatores após o desastre de março de 2011 em Fukushima.

A água foi armazenada em enormes tanques na usina e atingiu mais de 1,3 milhão de toneladas em julho passado.

A operadora da usina, Tokyo Electric Power Co (TepCo), planeja iniciar a operação em 2023, após a construção de um conduto submarino para transportará essa água contaminada a aproximadamente um quilômetro da costa.

O Ministério das Relações Exteriores do Japão disse que os reguladores consideraram seguro liberar a água, que ainda conterá vestígios do isótopo radioativo trítio após o tratamento.

O plano encontrou forte resistência dos sindicatos regionais de pesca que temem seu impacto em seus meios de subsistência. Os moradores de Fukushima protestaram contra o plano do governo japonês, enquanto os países e regiões vizinhas do Japão também manifestaram preocupação.

CHINA CONSIDERA AÇÃO IRRESPONSÁVEL

A China, Coreia Popular e Coreia do Sul manifestaram sua oposição à decisão. O chanceler chinês declarou que “a ação é extremamente irresponsável e prejudicará gravemente a saúde pública e a segurança internacional, bem como os interesses vitais dos povos dos países vizinhos”. “Se o Japão continuar a colocar seus próprios interesses acima do interesse geral internacional, se insistir em dar (este) passo perigoso, com certeza pagará o preço por seu comportamento e deixará uma mancha na história”, acrescentou.

O Ministério das Relações Exteriores da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) também condenou o Japão por aprovar a descarga de águas residuais contaminadas no oceano. “O Pacífico não é o esgoto do Japão, e a mudança causará grave poluição no oceano – propriedade comum de toda a humanidade”, enfatizou a chancelaria da RPDC em comunicado.

“É um ato que coloca os interesses privados acima do interesse público internacional e um ato criminoso que ameaça a segurança de vidas humanas”, finalizou o MRE da Coreia Popular.

A Coreia do Sul realizou reunião de emergência onde decidiu que tomará medidas em resposta à decisão de Tóquio de despejar água radioativa no Oceano Pacífico.

CIENTISTAS ADVERTEM SOBRE RISCOS

O que os japoneses chamam de Sistema Avançado de Processamento de Líquidos, não elimina isótopos como é o caso do derivado de hidroênio, o trítio que é majoritariamente avaliado como daninho à saúde. Artigo científico de 2014, citado pela Reuters, aponta que a sua ingestão em grandes quantidades pode representar risco de câncer.

Especialistas como Ken Buesseler, pesquisador do Woods Hole Oceanographic Institution, em Massachusetts, que estudou as águas acumuladas ao redor de Fukushima, garantem que sua preocupação não está apenas neste

isótopo, mas nos “altos níveis de outros poluentes que são mais perigosos para a saúde e se acumulam mais nos animais e nos sedimentos marinhos”.

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