Detalhe do quadro O sequestro da Independência, 2022, de Daniel Lannes, acrílica e óleo sobre linho, 230 x 190 cm.

O recém lançado O Sequestro da Independência, livro da Companhia das Letras, escrito por Carlos Lima Jr., Lilia M. Schwarcz e Lúcia K. Stumpf, se transformou numa esclarecedora exposição sobre o Bicentenário da Independência do Brasil. Reproduções de quadros famosos, pouco conhecido, jornais e charges estão expostos na Galeria 132, até o dia 24 de setembro. O objetivo dos autores é circular com as obras por escolas para fins didáticos de refletir criticamente sobre a importância das imagens na memória histórica nacional.

A Galeria 132 é uma bela e criativa casa de 1972, de autoria do arquiteto Fernando Malheiros de Miranda, na Av. Juriti 132, no bairro de Moema, ao lado do Parque do Ibirapuera. Além da exposição sobre O sequestro da Independência, ela mantém um rico acervo de artistas brasileiros contemporâneos. As obras artísticas e imagens do livro, por sua vez, se transformaram em versões ampliadas para alcançar um público que têm pouca chance de ver as obras originais em museus de São Paulo, Rio de Janeiro e até outros países.

O livro narra a construção visual do mito do 7 de setembro. Propositadamente realizada a partir da reprodução de obras muito conhecidas e outras nem tanto, a mostra pretende iluminar as narrativas imagéticas em torno da emancipação política, em quatro momentos chave: durante o processo de independência, em 1822; por ocasião da comemoração de seu centenário, em 1922; no ano de 1972, quando a ditadura militar celebrou os 150 anos do evento; e neste ano de 2022.

A ideia é demostrar como se formam diferentes memórias visuais, e como cada contexto político “sequestra” significados, para que se adequem ao momento e inflamem a imaginação. A ideia de sequestro está descrita pelos autores como um deslocamento de sentido ocorrido ainda no período monárquico, quando foi pintado O Grito do Ipiranga, por Pedro Américo, dando protagonismo a Dom Pedro I e situando o evento central em São Paulo, para agradar as oligarquias cafeeiras da época. Apesar dos inúmeros conflitos e guerras pela independência, com protagonismo popular por todo o país, este sequestro chega a ignorar a própria centralidade palaciana no Rio de Janeiro, para favorecer São Paulo.

No centenário, em 1922, firma-se definitivamente o Ipiranga como sítio da soberania brasileira. As elites paulistas se apropriam do protagonismo. Em 1972, os militares ambicionaram transformar o evento num ato militar, orientação que vem orquestrando as ações do atual governo, em 2022. Depois de tudo isso, a exposição se pergunta “com quantas telas se faz uma nação e sua imaginação”?

“A narrativa histórica que foi se impondo com o tempo consagrou uma versão muito palaciana, masculina, europeia e sudestina da emancipação do Brasil. Conformou também a “lenda dourada” de uma independência sem lutas ou conflitos. Muito diferente foi o que ocorreu nas províncias do Norte e Nordeste – como Pará, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Piauí –, cujo processo de independência foi marcado por mortes e assassinatos”, diz a curadoria da exposição feita pelos autores.


Imagem à esquerda: Pedro Américo, Estudo decorativo para O Brado do Ipiranga, [s.d], óleo sobre tela, 59 x 51 cm, col. Fadel, Rio de Janeiro.
Imagem à esquerda: Jean-Baptiste Debret, Aclamação de d. Pedro I, imperador do Brasil, 1939, litografia, 20 x 38 cm, Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.
Imagem à esquerda: Capa de cartilha de apresentação do símbolo oficial do Sesquicentenário da Independência do Brasil, arquivo Alexandre Eulálio, IEL UNICAMP, Campinas.
Imagem à direita: Antonio Parreiras, O primeiro passo para a Independência da Bahia, 1930, óleo sobre tela, 280 x 430 cm, col. Governo do Estado da Bahia, Salvador.
Imagem à direita: Daniel Lannes, O sequestro da Independência, 2022, acrílica e óleo sobre linho, 230 x 190 cm.

Vistas da Exposição | 13 de agosto a 24 de setembro


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Fotos: 2022©SuzanaMendes

(por Cezar Xavier)