Manifestante com cartaz "Não é meu rei" é escoltada por policiais (NPR)

O caso impulsionou a hashtag #NotMyKing, que alcançou os maiores índices de audiência no Reino Unido. O jornal britânico Evening Standard registrou imagens do momento em que o manifestante era escoltado pela polícia.

Em outro momento, enquanto Charles III fazia seu primeiro discurso, uma manifestante com o cartaz “Not my King” também foi escoltada pela polícia de Oxford, no sul da Inglaterra. A prisão foi uma punição ao que as autoridades cinicamente chamaram de um “ataque ultrajante à democracia” em um país monárquico.

No domingo, nessa cidade, o ativista da paz Symon Hill foi algemado depois de gritar “Quem o elegeu?” referindo-se a Charles sendo proclamado novo rei.

Hill disse que foi colocado em uma van da polícia por agentes que lhe disseram que ele estava sendo detido por suposto comportamento que poderia causar “assédio, alarme ou angústia”. Ele foi liberado mais tarde, mas ainda pode enfrentar interrogatório.

“A polícia abusou de seus poderes para prender alguém que expressou uma oposição moderada sobre um chefe de Estado ser nomeado de forma não democrática”, disse ele.

Jodie Beck, do grupo de campanha Liberty, afirmou que o direito de protestar era “uma parte vital de uma democracia saudável e funcional”.

Essa atitude contra a liberdade de expressão tem provocado diversas críticas à realeza e à polícia do Reino Unido, na contramão das homenagens à rainha Elizabeth II, que morreu no dia 8 de setembro. As críticas levaram a polícia a divulgar uma nota recomendando a seus agentes que respeitem o direito de protestar.

O ativista climático Paul Powlesland também protagonizou mais um incidente com a polícia britânica. Na segunda-feira (12), Powlerland escreveu em sua conta no Twitter que foi ameaçado de prisão por agentes caso escrevesse “Ele não é meu rei” quando segurava um pedaço de papel em branco em frente ao Parlamento.

“Me garantiram que se eu escrevesse ‘Ele não é meu rei’, me prenderiam pela Lei de Ordem Pública porque alguém poderia se ofender”, postou na rede social, junto com um vídeo em que é visto conversando com um agente.

Na terça-feira (13), um grupo de pessoas protestou em frente ao Parlamento com cartazes em branco, em uma demonstração de apoio ao ativista e críticas à postura da polícia.

Prisões também em Edimburgo

Durante o cortejo fúnebre em Edimburgo, na segunda-feira (12), que exibiu pela primeira vez o caixão da rainha, um jovem foi escoltado pela polícia após chamar o príncipe Andrew de “velho doente”, em referência à acusação de ter abusado sexualmente da jovem Virginia Giuffre quando ela tinha 17 anos, em 2001, e à relação do monarca com Jeffrey Epstein, financista norte-americano condenado por tráfico sexual. A polícia escocesa confirmou que duas pessoas foram presas e acusadas de perturbar a ordem pública.

Segundo a imprensa britânica, uma mulher que segurava um cartaz com a frase “abolir a monarquia” também foi acusada de perturbação da ordem pública em Edimburgo.

Setores que atuam em defesa dos direitos civis vêm alertando sobre o desrespeito de agentes ao direito de protestar de grupos anti-monarquistas no Reino Unido.

O Republic, um grupo que faz campanha pela abolição da monarquia, disse que vai denunciar a polícia “nos termos mais fortes possíveis” e vai organizar protestos contra a coroação do rei nos próximos meses.

“A liberdade de expressão é fundamental para qualquer democracia”, disse o porta-voz da organização Graham Smith. “Em um momento em que a mídia está saturada de bajulação a um rei nomeado sem discussão ou consentimento, isso é ainda mais importante”, frisou.

A Lei de Ordem Pública do Reino Unido de 1986 dá poderes à polícia para prender pessoas consideradas culpadas de causar “assédio, alarme ou angústia” por “discurso ou comportamento ameaçador ou desordenado”, incluindo a exibição de faixas. A lei, porém, não especifica quais seriam os discursos ou os comportamentos.

Depois da forte reação contra a repressão aos manifestantes republicanos, o vice-comissário da Polícia Metropolitana, Stuart Cundy, disse em comunicado que “o público tem absolutamente o direito de protestar”.

“Deixamos isso claro a todos os agentes envolvidos na operação em curso e vamos continuar a fazê-lo”, acrescentou Cundy.

Mais de 100 funcionários de charles serão demitidos

Funcionários domésticos que serviam aorei Charles III enquanto ele era herdeiro do trono britânico foram informados da possibilidade de perder seus empregos, atraindo críticas do Sindicato dos Serviços Públicos e Comerciais que chamou a medida de “sem coração e sem legitimidade” antes mesmo da rainha Elizabeth ser enterrada.

Charles e a esposa Camilla, a rainha consorte, vão se mudar de Clarence House, sua casa em Londres por décadas, para a principal residência oficial dos monarcas, o Palácio de Buckingham.

O jornal The Guardian informou que até 100 funcionários foram informados sobre o risco de seus empregos, alguns que trabalhavam lá há décadas. Eles incluem funcionários pessoais e de escritório.

As notificações foram emitidas mesmo enquanto trabalhavam para ajudar o novo rei durante o processo, inclusive enquanto uma missa de ação de graças para sua mãe estava em andamento em Edimburgo, disse o jornal.

Papiro