Lula vai ao Rio de Janeiro para desidratar dois enclaves bolsonaristas
Depois de concentrarem agendas em São Paulo e Minas Gerais, os principais candidatos à Presidência da República nas eleições 2022 se voltam para o Rio de Janeiro. Conforme as últimas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (SP) e o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL), estão em empate técnico no estado, que é o terceiro maior colégio eleitoral do Brasil.
É Bolsonaro quem abre o tour dos presidenciáveis pelo território fluminense. Nesta quarta-feira (7), ele participará de uma motociata da Praia do Flamengo até a Avenida Atlântica, em Copacabana. Nesse ponto, ocorrerá mais um controverso comício com viés giolpista. Embora o pretexto “oficial” do evento seja celebrar o bicentenário da Independência do Brasil, o público se divide. Há desde apoiadores que querem prestigiar a candidatura à reeleição até seguidores que vão defender abertamente o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) e um golpe de Estado – o que é inconstitucional.
Integrantes da campanha já levaram a Bolsonaro pesquisas internas segundo as quais a aceitação ao presidente piora diante de discursos e atos antidemocráticos. Mas a estagnação do candidato na disputa e a influência de aliados mais extremistas podem levar Bolsonaro a realizar mais um Sete de Setembro golpista, tal como em 2021. Uma outra agenda sua no estado está prevista para sábado.
Lula, por sua vez, faz comício na quinta-feira (8), em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Na sexta-feira (9), ele se reúne com pastores evangélicos, em São Gonçalo. Recuperar eleitores do estado é a prioridade da campanha. Nas quatro vitórias presidenciais do PT – duas com Lula (2002 e 2006), mais duas com Dilma Rousseff (2010 e 2014) –, o Rio sempre deu mais votos à esquerda.
Esse cenário se alterou – e muito – em 2018, quando Bolsonaro teve 68% dos votos válidos no Rio, contra 32% do petista Fernando Haddad. Esperava-se que o PT perdesse esse predomínio, já que o ex-capitão fez carreira militar e política no estado, elegendo-se deputado federal por sete mandatos consecutivos. Mas a diferença de votos surpreendeu.
Agora, quatro anos depois, o cenário é de equilíbrio. Ainda que Bolsonaro possa ser novamente o mais votado em seu domicílio eleitoral, o Rio deixou de ser um reduto inexpugnável. Há uma semana, levantamento do Ipec apontava Lula numericamente à frente entre os eleitores fluminenses: 39% a 36%. Como a margem de erro é de três pontos percentuais, eles estão empatados tecnicamente.
Lula, portanto, tentará desidratar um pouco mais o enclave bolsonarista. Na realidade, dois enclaves: o eleitorado fluminense e o eleitorado evangélico. Em São Gonçalo, o ex-presidente quer lançar mais acenos aos fiéis, além de gravar vídeos para o horário eleitoral e para as redes sociais. Conforme o Valor Econômico, “a intenção é reunir líderes evangélicos das mais variadas vertentes, e a tendência é que não haja pastores ‘estrelas’ – e, sim, representantes de igrejas menores”.
O presidente do PT-RJ, João Maurício de Freitas, reforça que a importância de reconectar o ex-presidente aos eleitores locais. “São Gonçalo é o segundo maior colégio do Rio e recebeu recursos importantes de Lula, que reconhece a importância política da cidade ao marcar essa agenda. E a Baixada Fluminense, onde será o comício da véspera, recebeu diversos investimentos do PAC”, declarou Freitas ao Valor. “Lula vai fazer um balanço do passado e dar perspectivas do futuro.”