Lula defende escola integral como instrumento para melhorar a educação
As inúmeras defasagens vivenciadas pela educação pública brasileira, sobretudo durante a pandemia e sob o desmonte promovido pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), têm colocado em pauta diferentes propostas e concepções educacionais. Uma delas, defendida pelo ex-presidente Lula (PT), diz respeito à implantação das escolas de tempo integral pelo país.
“Tudo que um pai quer, tudo que uma mãe quer, é ver a meninada estudar, se formar e trabalhar. É ver as crianças ficarem brincando na rua sem medo de uma bala perdida e nós vamos fazer um sistema de escola integral para toda criança ficar na escola o dia inteiro”, disse Lula em comício realizado em Nova Iguaçu (RJ), na quinta-feira (8).
Em outra ocasião, durante encontro do ex-presidente com governadores no final de agosto, Lula destacou que “a escola em tempo integral é uma das soluções não só para formar melhor nosso jovem, mas também para evitar que ele chegue no crime”.
Ao tratar da educação de maneira mais ampla, o programa registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pela coligação Brasil da Esperança aponta: “para os alunos que ficaram defasados devido às inúmeras limitações, materiais, pedagógicas ou tecnológicas, durante a crise sanitária, afirmamos o compromisso do novo governo com um programa de recuperação educacional concomitante à educação regular, para que possam superar esse grave déficit de aprendizagem. A educação é investimento essencial para fazer do Brasil um país desenvolvido, independente e igualitário, mais criativo e feliz”.
Além de defender a proposta de ensino integral do ponto de vista da formação educacional, a campanha de Lula tem procurado demonstrar sua importância para as mães do povo, que dependem da estrutura do Estado para terem onde deixar seus filhos enquanto trabalham. Neste sentido, tanto as escolas quanto as creches em tempo integral têm sido colocadas pela candidatura como forma de superar graves obstáculos existentes na atualidade.
Desafios
De fato, os desafios colocados para a melhoria da educação pública não são pequenos e vão desde as dificuldades trazidas pela pandemia ao descaso e desvios do governo Bolsonaro e do Ministério da Educação. Para ficar apenas nos impactos da Covid-19, conforme relatório da organização Todos pela Educação, cerca de 244 mil crianças e adolescentes estavam fora da escola no segundo trimestre do ano passado, número que representa um aumento de 171% em comparação com 2019.
Outro dado que mostra os problemas trazidos pela crise sanitária diz respeito à defasagem na aprendizagem resultante da precariedade do ensino remoto. Segundo pesquisa Datafolha divulgada no início do ano, 76% das crianças em fase de alfabetização têm necessidade de apoio para complementar o aprendizado.
“O debate sobre educação em tempo integral é fundamental hoje, na medida em que ela pode, desde a creche até o ensino médio, oferecer uma condição avançada para o ensino e aprendizagem das crianças, adolescentes e jovens”, disse, ao Portal Vermelho, o presidente em exercício do Cpers (Centro dos Professores do Estado do Rio Grande Do Sul – Sindicato dos Trabalhadores em Educação), Alex Saratt.
Ele explica que o investimento público precisa ser volumoso para que se consolide um modelo de escola “que coloque o Brasil na linha de frente das experiências educacionais e pedagógicos que nós temos hoje no mundo”.
Saratt salienta que “a creche em tempo integral é um modelo reivindicado pelo movimento social, pelas mulheres trabalhadoras por conta, justamente, dessa necessidade do cuidado e atenção à infância e também uma maneira de integrar as crianças num sistema e num ritmo que permita desenvolver, nas outras etapas da formação educacional das crianças, essa condição de um ensino mais integrado, não apenas integral”.
Para ele, “na medida em que nós falamos da educação, obviamente, falamos primeiro como promoção do bem-estar do ser humano, do desenvolvimento do intelecto, das noções éticas de convivência social, das compreensões desse sujeito enquanto um cidadão dentro de uma vida democrática. Mas também nós temos a preocupação de que ela forme efetivamente o jovem para a vida tanto cidadã quanto para a vida produtiva, desenvolvendo habilidades, competências, conhecimentos mais aprofundados, cada vez menos ligados à repetição e mais à criação”.
Saratt pontua que a proposta de escolas em tempo integral “é ousada, avançada, contemporânea e justa para as demandas do país e da população”.