Linha auxiliar de Bolsonaro, Padre Kelmon não faz parte de Igreja Ortodoxa
Dentre os sinais dos tempos bizarros vividos no Brasil desde que a extrema-direita ganhou espaço na política nacional está o padre que supostamente não é padre, se tornou candidato após o titular ser impedido pela Justiça e se comporta como linha auxiliar do atual presidente Jair Bolsonaro (PL).
Desde que se tornou candidato à presidência, mas principalmente após sua aparição com vestimentas típicas de sacerdotes da Igreja Ortodoxa no debate com presidenciáveis realizado no sábado (24), Padre Kelmon (PTB) causou polêmica entre espectadores. Uma das questões trazidas à tona foi se ele, de fato, seria padre. Em nota assinada por Dom Tito Paulo George Hanna, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia do Brasil, emitida dias antes e que voltou a circular devido ao debate, já havia desmentido que Kelmon faça parte da instituição.
O documento esclarece que “em pleno respeito, mas também gozando da mesma liberdade de pensamento, consciência e religião prevista no 18º artigo da Declaração dos Direitos Humanos e no artigo 5º da Constituição Federal do Brasil, o referido candidato não é membro de nossa Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia do Brasil em nenhuma de suas paróquias, comunidades, missões ou obras sociais”.
A nota diz, ainda, que Kelmon nunca foi sequer seminarista ou membro do clero da igreja em nenhum dos três graus da ordem nem no Brasil nem em algum outro país. O candidato, por sua vez, disse, em suas redes, que “pertence à Igreja Católica Apostólica Ortodoxa del Perú – Tradição Siro Ortodoxa Malankara”. Conforme noticiou o portal Poder 360, “as denominações que Kelmon diz fazer parte não integram verdadeiramente a Igreja Ortodoxa. Ainda assim, tanto a Siro Malankara quanto a Igreja Ortodoxa do Peru usam adereços semelhantes ao da tradição do antigo patriarcado ortodoxo”.
O certo nisso tudo é que Kelmon tem utilizado sua campanha para incensar o atual presidente, usando jargões e discursos próprios do bolsonarismo, e atacando seus adversários. No debate de sábado, por exemplo, disse que Bolsonaro “tem ajudado muito o país”, se colocou contra o aborto e as cotas raciais, por exemplo.
Além disso, o partido do suposto padre, o PTB, defende o uso de armas de fogo no programa de governo que ainda consta, no site da Justiça Eleitoral, como sendo o de “Bob Jeff” — designação que consta na abertura do documento. “O PTB entende que o cidadão tem o direito à legítima defesa, portanto deve ter direito à posse e porte de arma de fogo”, diz o programa.
Pelas redes, ele postou que a atual disputa eleitoral se trata de uma luta “do bem contra o mal, da verdade contra a mentira” e em vídeo no qual ataca a esquerda, defende os valores de “Deus, pátria, família, vida e liberdade”, em total consonância com o discurso do atual mandatário e de seus seguidores.
Padre Kelmon assumiu a candidatura após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impugnar o nome de Roberto Jefferson, que está inelegível até 2023. Hoje ele se encontra em prisão domiciliar e responde ao inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os atos antidemocráticos realizados por bolsonaristas contra as instituições.