Servidores públicos protestam em Madri contra arrocho e exigem ajuste dos salários. (EFE/JJ Guillen)

Dezenas de milhares de trabalhadores do setor público tomaram as ruas de Madri no sábado (24) para reivindicar um “aumento imediato e urgente dos salários”, a fim de fazer frente à espiral inflacionária que corrói seu poder aquisitivo, penalizando as famílias. Exibindo um grande cartaz do premiê Pedro Sánchez, do Partido “Socialista Operário” Espanhol (PSOE) com nariz de Pinóquio, os servidores condenaram a “mentira” e a “traição” do governo em sua política de arrocho.

A Central Sindical Independente e de Funcionários (CSIF) declarou que a mobilização expressou um claro posicionamento por “um aumento salarial justo, contra o empobrecimento social e a deterioração dos serviços públicos”.

De acordo com os manifestantes, há uma paralisia governamental – que se alinha à política de cerco e bloqueio à Rússia adotada pelos EUA e pela União Europeia após o início do conflito na Ucrânia – enquanto a inflação já alcança os 10,5% no ano e os preços dos hidrocarbonetos e da eletricidade disparam, puxando para cima todo custo da cesta básica e da vida em geral.

Contrastando com as declarações do governo que tenta amenizar a gravidade da situação falando de uma suposta inflação “passageira”, os trabalhadores reivindicam medidas emergenciais. O fato é que, agora, diante das baixas temperaturas, é nas estações do outono e de inverno que precisamente quando mais a população consome eletricidade. A cesta básica aumentou uma média de 15%, mas há produtos como leite, ovos e frango que a alta chega a 20%.

Para tentar desmobilizar o protesto, o Ministério da Fazenda tentou às pressas reunir as entidades sindicais do funcionalismo durante a semana, alegando que estaria a caminho um aumento salarial através de uma ampliação do orçamento geral do Estado no próximo ano. Porém os sindicalistas responderam terem perdido a confiança no atual governo. “Passaram 12 anos com os servidores públicos colaborando no ‘pacto de rendas’ e a primeira e única vez que tivemos o salário reduzido foi durante o governo ‘socialista’ de José Luis Rodríguez Zapatero. Nos retiraram entre 5 e 10% e, desde então, temos acumulada uma perda salarial de 20%. Um médico, por exemplo, perdeu em poder aquisitivo o equivalente a trabalhar gratuitamente 18 meses na última década”, afirmou o presidente da CSIF, Miguel Borra.

Conforme o dirigente, “a manifestação está aberta ao conjunto da cidadania e constitui um grito de protesto social contra o empobrecimento social, por aumento salarial justo, aposentadoria digna e serviços públicos de qualidade”. Ao mesmo tempo, o protesto serviu como um alerta para a necessidade de uma política de valorização salarial permanente.

A manifestação coincidiu com o debate aberto no interior do governo pela aprovação em janeiro de 2023 de um “imposto sobre as grandes fortunas”, que afetaria somente 1% da população e inicialmente seria temporário, a depender de como impacte a gravidade da crise econômica e energética.

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