Inadimplência cresce atingindo 68 milhões de brasileiros
O número de brasileiros que não conseguiram pagar as suas contas teve novo salto em agosto. O levantamento mensal do Serasa Experian aponta que 67,9 milhões de pessoas estavam inadimplentes no mês – o que representa um acréscimo de pelo menos 300 mil pessoas em relação a julho.
Rendas baixas e que continuam pressionadas pela inflação explicam o recorde – esta é a maior cifra de inadimplência desde o início do levantamento, em 2016. Segundo economistas, a pressão nos preços – especialmente dos produtos mais básicos – desde o segundo semestre do ano passado “produziu” ao menos 4,9 milhões de pessoas que não conseguem pagar as contas e dívidas. Sem conseguir equilibrar orçamentos, a escolha das famílias passou a ser pagar as contas ou comer, em muitos casos.
Luiz Rabi, economista do Serasa Experian, explica que as causas da inadimplência não podem mais ser atribuídas à pandemia.
“A causa não é mais a pandemia, mas o estrago que um problema macroeconômico faz na renda e na capacidade de pagamento dessas pessoas”, disse ao Valor Econômico.
Rabi afirma que a alta dos juros também pesa. Ele estima que a inflação responda por 90% da inadimplência dos consumidores, e os juros, por 10%. “A inflação corrói o poder de compra das pessoas, que precisam gastar mais com alimentação e ficam com menos dinheiro para pagar conta”, diz.
A maior parte das dívidas continuam sendo com os bancos e cartões, que concentram 28,8% do total de dívidas não pagas enquanto praticam juros acima de 80% para o cartão de crédito e cheque especial. Depois, vêm as contas de água, luz e gás, com 22,1%, que expressam a situação em que o brasileiro chegou tendo de correr o risco de até mesmo ficar sem abastecimento de serviços básicos.
Com os juros mais altos do mundo, o trabalho informal batendo recordes, a taxa de desemprego em quinto lugar no ranking de 40 países e a carestia com os preços dos alimentos na lua, a inadimplência das famílias brasileiras é mais um recorde do desgoverno Bolsonaro.
As medidas implementadas às vésperas das eleições, como a redução no preço dos combustíveis e da energia e a ampliação do Auxílio Brasil, somados à liberação de parcela do FGTS e antecipação do 13º para aposentados e pensionistas, não foram suficientes para aliviar a vida dos brasileiros, particularmente dos mais pobres, diante da inflação que consome o orçamento e eleva o endividamento das famílias, outro recorde de Bolsonaro.
De acordo com a prévia da inflação de setembro (IPCA-15), mesmo com a deflação verificada de -0,47% no mês no grupo Alimentos e Bebidas, o índice acumula alta de 12,73%, bem acima da prévia da inflação geral de 7,96%.
Com a renda apertada, para muitos brasileiros, entre comprar comida e pagar as contas básicas ou pagar a bancos, a opção é a primeira.
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