Ferroviários mobilizados conquistam reajuste salarial nos EUA
O acordo foi arrancado do governo federal na última hora antes do início da greve já anunciada pela entidade que organiza os ferroviários norte-americanos. A acordo foi firmado nesta quarta-feira (14) durante reunião no Departamento de Trabalho, em Washington.
A greve, já marcada para sexta-feira (16) e que alcançaria 7.000 trens – afetando o conjunto da cadeia produtiva e os usuários do transporte – e custaria US$ 2 bilhões diários.
Em comunicado na quinta-feira (15), o presidente Joe Biden – que chegou a nomear um painel de arbitragem em julho, para pôr fim ao movimento – assegurou que a partir do acordo assinado, “os ferroviários terão melhores salários, melhores condições de trabalho e tranquilidade em relação ao seguro de saúde”.
A paralisação ameaçava interromper não só o transporte de cargas, mas também o de passageiros, dois meses antes das eleições legislativas de 8 de novembro, nas quais o Partido Democrata, de Biden, pode perder o controle do Congresso no meio do mandato. Por isso, o presidente tentou enrolar e capitalizar para si os avanços obtidos pelos ferroviários, publicando na página da Casa Branca que “o acordo de princípio alcançado marca uma importante vitória para nossa economia e para o povo dos Estados Unidos”.
“Momentos atrás, após mais de 20 horas consecutivas de negociações no Departamento do Trabalho, as ferrovias e os negociadores sindicais chegaram a um acordo de princípio que equilibra as necessidades dos trabalhadores, empresas e economia de nossa nação”, tuitou o secretário do Trabalho dos EUA, Marty Walsh, evidenciando o nível de resistência da Casa Branca a chegar a qualquer entendimento com o setor vital de trabalhadores dos EUA>.
O fato é que a mobilização veio com um efeito bola de neve, elevando o tom pelas justas reivindicações e crescendo por todos os lados. Antecipando-se à greve, a operadora ferroviária nacional Amtrak já havia cancelado linhas de passageiros, com agricultores e varejistas alertando para o caos iminente que uma paralisação causaria na cadeia de suprimentos já comprometida pela pandemia de Covid-19. Os eleitores manifestam sua preocupação com o constante aumento dos preços, que têm sido um flagelo constante com a inflação anual atingindo a maior alta em quatro décadas.
Além da questão salarial, os sindicatos manifestaram sua preocupação com a questão de folgas e licenças médicas, com os ferroviários alertando para o fato de terem de trabalhar por longos períodos devido à falta de pessoal.
Conforme o presidente da Federação Americana de Agências Agrícolas, Zippy Duvall, o fato é que “não há substituto para o transporte de produtos”. A mesma opinião é compartilhada pela Federação Nacional do Varejo (NRF), que chamou o trem de carga de “crucial para a cadeia de suprimentos do varejo”.
De acordo com o diretor executivo da NRF, Matthew Shay, não havia outro caminho a seguir, uma vez que “o momento coincide exatamente com o pico da temporada de embarque para os feriados de inverno”. “Uma greve ferroviária neste momento seria um golpe inflacionário significativo para uma economia já cambaleante”, concluiu.
Papiro